A tragédia de Chapecó e a cobertura sensacionalista nacional

Lucas de Avila
Observatório de Mídia
3 min readDec 14, 2017

A queda de um avião na Colômbia que deixou 71 mortos foi um dos maiores desastres dos últimos anos.E a cobertura da mídia, talvez uma das piores.

Acidente foi um dos mais fatais da história, com 71 mortos.

No dia 19 de novembro de 2016, o avião que levava os jogadores e comissão técnica da Chapecoense, além de jornalistas e outros tripulantes, para o jogo da final da Copa Sul-Americana Contra o Atlético Nacional da Colômbia, caiu próximo à cidade de Medelín, deixando 71 mortos e apenas seis vivos no que foi considerado pela mídia o maior acidente aéreo da história do esporte.

Não foi o primeiro, porém.Outros casos famosos, como do Torino da Itália em 1949, Manchester United em 1958 ou com o Strongest da Bolívia ( que é o com maior número de vítimas fatais:74), ocorreram.Mas esse foi o primeiro caso ocorrido dentro das últimas décadas e, principalmente, desde o surgimento da Internet.

O desastre teve uma cobertura especial, com canais com cobertura praticamente totalmente dedicada ao acidente e com informações a todo instante dos mortos e feridos.Sites transmitiam minuto a minuto as informações do caso, que trazia uma comoção não apenas nacional, mas internacional do fato.

Mas o quão ética e correta a cobertura foi no geral?A disputa por audiência e “clicks” nas redes sociais tornaram da tragédia um grande espetáculo de jornalismo mal-feito.A necessidade da divulgação de conteúdos a todo momento sobre o grande assunto do momento trouxe matérias extremamente desnecessárias.O sensacionalismo tomou conta, com a divulgação de vídeos e fotos dos atletas durante o voo, com seus familiares, em busca de atrair a audiência por meio da comoção, deixando de lado a informação.

Grande prova disso se viu com o que ocorreu com a informação da morte do goleiro Danilo.Inicialmente dado como morto, uma informação de que o atleta estaria vivo foi divulgada por uma série de veículos.A informação, porém, foi divulgada sem a confirmação da Cruz Vermelha, que era responsável pelo resgate das vítimas, ferindo o artigo 7 do Código de Ética dos Jornalistas, que diz que “O compromisso fundamental do jornalista é com a verdade dos fatos, e seu trabalho se pauta pela precisa apuração dos acontecimentos e sua correta divulgação.”

Quem havia sido resgatado na verdade havia sido o goleiro reserva da equipe, Jackson Follman, e o falecimento de Danilo foi confirmado posteriormente.Além da má apuração, o drama da família do goleiro foi transmitido ao vivo na TV Globo, onde perguntas quanto às expectativas da família de que Danilo estivesse vivo ou não levaram a mãe do jogador às lágrimas.

Além da cobertura da televisão, na Internet a guerra por compartilhamentos e curtidas era ferrenha, e as postagens cada vezs mais insensíveis e que feriam em diversos pontos o Código de Ética.O site Catraca Livre, por exemplo, foi um dos mais criticados veículos durante a cobertura. O portal fez uma publicação com o título:“10 fotos de pessoas em seu último dia de vida”, trazendo uma galeria de fotos dos atletas da Chapecoense.

Além disso, uma postagem de um vídeo com as reações de pessoas durante um acidente de avião (que claramente fere o artigo 7 do Código de Ética:”O jornalista deve evitar a divulgação de fatos de caráter mórbido e contrários aos valores humanos.”), trouxe péssima repercussão ao portal, que acabou por excluir as publicações posteriormente.

A necessidade de divulgação de conteúdo a todo instante pode ter sido um dos fatores que influenciaram esse jornalismo sensacionalista e apelativo visto durante a cobertura do caso.Porém, não pode ser uma desculpa para as ações de certos veículos que, usando e se aproveitando dos dramas de familiares e amigos, inclusive de jornalistas falecidos na tragédia, acabam por, além de ferir o Código de Ética do Jornalismo, criar uma rejeição do público em relação à mídia brasileira.Com sentido.

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