Cães de Osasco — o Jornalismo precisa aprofundar reflexões

Hanna Queiroz
Observatório de Mídia
2 min readOct 28, 2017
Chamada da notícia publicada no G1 (Créditos: reprodução)

A matéria divulgada no dia 29 de setembro no portal do G1 sobre os 135 cães de raça resgatados pela ONG de Luisa Mell gerou fortes repercussões nas redes sociais. Os animais vivam sob terríveis condições de tratamento num canil em Osasco. O canil era certificado e localizava-se numa casa de alto padrão, sob a vigília de uma mulher. A ONG recebeu denúncias de maus-tratos — os animais eram espancados e forçados a procriar, sem condições básicas de higiene. Havia montes de fezes no chão e nos pelos dos cães.

A publicidade torna-se irônica no contexto da notícia. (Créditos: reprodução)

A notícia do G1 traz as informações básicas sobre o ocorrido, mas nenhuma reflexão sobre o acontecimento. O choque dos internautas com os maus-tratos dos animais poderia ter levado a uma discussão muito relevante para a sociedade: a compra de animais. Entretanto, a grande mídia se contenta em divulgar as informações mais rasas, que geram cliques muito mais por conta da sensibilidade da notícia do que pela séria problemática acerca do fato.

Créditos: reprodução

Para ler a matéria completa, acesse https://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/ong-de-luisa-mell-resgata-135-caes-de-maus-tratos-em-canil-de-osasco.ghtml

A compra de animais estimula a criação dos filhotes em canis e a exploração da cachorra mãe até a morte. A cadela vive, exclusivamente, para procriar. A certificação de canis não é sinônimo de bons tratos, pois os órgãos do Estado não conseguem fiscalizar esses ambientes. Quantos locais como este são desmascarados diariamente? E quantos são noticiados pela mídia? Pouquíssimos. Isso sem contar nos que não foram nem nunca serão descobertos.

Além disso, a notícia não diz quem é a dona do canil e apenas anuncia que a mulher deu depoimento e foi solta em seguida. Aí está outra problemática que poderia ser abordada: as brechas nas leis brasileiras e a impunidade dos criminosos. A impunidade é um fato no nosso país. A cadeia é quase que exclusiva para pessoas da periferia. Ademais, números de 2015 mostram que 60,8% dos encarcerados são negros.

O jornalismo precisa, aliado à verdade dos fatos, instigar e provocar reflexões na sociedade. Inspirar e discutir as maldades do mundo e suas reais causas são papéis de um bom jornalista. Assim, estaremos educando a população e contribuindo para o combate dessas terríveis práticas.

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