Cada um no seu retângulo

Informações no WhatsApp: disseminação perigosa e falta de questionamento

Nathália
Observatório de Mídia
5 min readDec 19, 2017

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Lepraxis. Pixabay

Não é difícil, vez ou outra, abrir grupos do Whatsapp e se deparar com uma notícia tão absurda que soa sensacionalismo puro, mentira. Entretanto, também não é difícil encontrar as notícias desse tipo, como dito anteriormente. São encontradas comumente, reproduzidas, ou seja, pessoas acreditam nesse tipo de conteúdo sem uma comprovada apuração. Reproduzem o que foi lido e isso vira uma rede, ou como é conhecida esse tipo de mensagem, uma corrente.

Conceito moderno que modela o que conhecemos

Com isso, podemos citar a palavra do ano de 2016, eleita pelo dicionário de Oxford: pós-verdade. Segundo o site do jornal El País, a tradução do significado dessa palavra é “relativo ou referente a circunstâncias nas quais os fatos objetivos são menos influentes na opinião pública do que as emoções e as crenças pessoais”.

Opinião pública é a opinião que o grande público constrói. Essa opinião é diretamente afetada pela mídia, uma formadora de opiniões. Agora com o advento de novas e mais acessíveis tecnologias fica mais fácil chegar aos mais variados tipos de informação, desde o já tradicional telejornal, numa mídia de massa, até a corrente do Whatsapp, num smartphone individual.

Max Pixel. http://maxpixel.freegreatpicture.com

Aí mora o perigo, já que antes um jornal era encarregado de informar, quando a informação era mediada por uma ferramenta, seja analógica ou digital. É parte essencial da profissão jornalística a apuração dos fatos. Não é jornalismo se não tem embasamento, torna-se boato. Já no Whatsapp não há uma segurança ao leitor, de que o conteúdo disseminado é, de fato, real, ou se é uma invenção mal-intencionada.

O jornal Gazeta do Povo fez um compilado de dez notícias que ganharam repercussão e notoriedade no Whatsapp, mas são falsas. São elas: CNH é cancelada automaticamente após 30 dias vencida; As câmeras estão de olho no trânsito; Videomonitoramento em todo Brasil; Ingerir açúcar após tomar vinho engana bafômetro; Andar na contramão em BR vira desafio; Câmera acoplada aplica multa em rodovias; Portaria do Denatran proíbe motos de usarem baú; JAC Motors deixará o país; Truques para economizar ao abastecer o veículo; Semáforos multam no amarelo.

Como é fácil perceber, pessoas criam esse tipo de conteúdo visando repercussão, pois são temas de interesse público, principalmente ligados ao trânsito, em que sempre há uma nova regra ou multa entrando ou saindo de vigor e, valendo-se disso, é mais fácil criar notícias que enganem e sejam espalhadas.

Wikimedia Commons

Essas notícias também são febre em época de eleições. São um mecanismo de influência e de espalhar boatos que tenham algum vínculo de depredação ou melhoramento de imagem de determinado candidato. Não por acaso a palavra do ano de 2016 tenha sido pós-verdade, essa palavra ganhou notoriedade após a eleição estadunidense que elegeu Donald Trump. Há acusações de que Trump contratou empresas Russas especializadas em criação e divulgação de falsas notícias, que atacavam sua oponente Hillary Clinton, essas notícias eram reproduzidas e adotadas como verdade, mesmo sem uma devida conferência.

Notícias falsas podem despertar desde um simples temor ao ódio. Nunca se sabe qual será o próximo tema exposto e qual será a reação do publico que lê e de forma precipitada deixa as emoções sobreporem a razão ao acreditar e repercutir os temas.

Mas essas novas tecnologias móveis e pessoais tornam praticamente impossível controlar essas notícias falsas. Isso porque o Whatsapp não é como um veículo coletivo de massa, em que muitas pessoas veem e contestam o que pode estar errado, gerando uma retratação pública caso seja comprovado o equívoco. No Whatsapp cada pessoa tem acesso ao seu celular com suas mensagens e seu cérebro filtrando o que absorver ou não. Por conta da privacidade não é normal detectar notícias falsas no aplicativo, não há órgão que o faça.

Olha a notícia do Zezé, essa é fake ou não é?

No dia 2 de abril desse ano foi comemorado o primeiro Dia Internacional da Checagem de Fatos, logo um dia depois do dia da mentira. O site G1 fez, então, um texto básico, onde especialistas dão dicas de como detectar se uma notícia é falsa ou não. Dentre as dicas estão: conhecer o site em que foi veiculada a notícia; observar a data da postagem; a autoria da notícia; as fontes da informação; o quão surreal a notícia é. Então, notícias que circulam como uma simples mensagem são uma ruptura com todas as dicas de como saber se uma notícia é verdadeira. Logo percebe-se que são reproduzidas por impulso, geralmente pelo choque, indignação ou benefício que a informação causa.

Wikimedia Commons

Segundo o site Olhar Digital, o engenheiro de software do aplicativo de mensagens disse, em uma visita à Índia, que a empresa deve tomar decisões para evitar ou dificultar o compartilhamento de notícias falsas pelo Whatsapp, mas não disse como vão fazer isso, já que qualquer ato que comprometa a criptografia do aplicativo é descartada.

Tecnologia na mão é vendaval

Isso não se restringe apenas ao Whatsapp. O conceito de pós-verdade tomou o mundo online e trouxe uma série de problemas. Em 2014 uma mulher foi espancada e morta no Guarujá depois de um boato de que ela mataria crianças, espalhado em uma página do Facebook. As consequências de uma “fofoca” vão muito além quando se pensa em uma rede mundial conectada, são imensuráveis, envolvem diretamente pessoas e podem ter consequências pesadas.

Portanto a máxima do mundo moderno de “Penso, logo compartilho.”, deva ser alterada para “Penso, logo pergunto.” Para que talvez se possa criar uma cultura de criticidade na sociedade, afim de evitar problemas com boatos que viram verdades do público.

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