Caso Diego Bargas: política, futebol e religião não se discute

Lara Ignezli
Observatório de Mídia
2 min readNov 23, 2017
Diego Bargas. Foto: Portal Fórum

Foi lançado no dia 12 de outubro desse ano o filme “Como se tornar o pior aluno da escola”, escrito e estrelado por Danilo Gentili. Um dia após o lançamento, a Folha de São Paulo publicou uma resenha escrita pelo jornalista Diego Bargas (intitulada “Criada por Danilo Gentili, comédia juvenil ri de bullying e pedofilia”) e uma entrevista em vídeo com Danilo e o diretor do filme, Fabrício Bittar.

A entrevista, que deixou os dois entrevistados nitidamente incomodados com as perguntas, desencadeou uma reviravolta na vida do jornalista — e foi a causa de sua demissão. Gentili usou cinco frases postadas em redes sociais de Diego em defesa de Lula, Dilma e Haddad para estimular um ataque por parte de seus seguidores do Twitter ao jornalista.

No dia 16 do mesmo mês a Folha publicou uma nota sobre a demissão, “Bargas foi desligado do jornal na última sexta-feira (13) por, segundo a Direção da Redação, ter desrespeitado orientação reiterada sobre comportamento nas redes sociais. Os jornalistas da Folha são orientados a evitar manifestações político-partidárias e a não emitir nas redes juízos que comprometam a independência de suas reportagens.”.

Vale lembrar que mesmo que o jornalista de fato apoie o PT seu posicionamento não comprometeu a independência de sua reportagem, uma vez que as perguntas eram voltadas ao ferimento de inúmeros direitos humanos por parte da produção do filme e de cenas presentes na obra. Defender os direitos humanos não afilia ninguém a partido algum.

A entrevista:

A objetividade jornalística segue sendo a maior utopia assimilada como verdade pela visão social da profissão. Se admitida como falha, uma percepção mais justa dos acontecimentos seria proporcionada para o resto da população que consome a notícia; é importante saber qual o posicionamento daqueles responsáveis por publicar sua visão dos fatos para que o leitor saiba se concorda ou não.

Nesse caso, a expressão política na página pessoal do jornalista (exclusivamente ligada à um partido, sem incitar preconceitos ou ferir qualquer direito humano) foi suficiente para uma demissão justificada. Se posicionar parece ser extremamente perigoso.

Política, futebol e religião não se discute. Mas deveria.

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