Censura na exposição Queer em Porto Alegre

Valquiria de Carvalho
Observatório de Mídia
2 min readJan 7, 2018
Travesti de lambada e deusa das águas, de Bia Leite, 2013. DIVULGAÇÃO

No dia 10 de setembro de 2017 foi cancelada a exposição Queermuseu — Cartografias da Diferença na Arte Brasileira, após protestos nas redes sociais. Projeto promovido pelo Banco Santander com curadoria de Gaudêncio Fidelis, continham 270 obras de 85 artistas que abordavam a temática LGBTQ+, diversidade sexual e questões de gênero. Entre os artistas estavam, Adriana Varejão, Cândido Portinari, Fernando Baril, Hudinilson Jr., Lygia Clark, Leonilson e Yuri Firmesa.

Os protestos que levaram ao encerramento do evento eram de cunho, na maior parte das vezes, acusatório de que as obras promoviam apologia à zoofilia e pedofilia, além de desrespeitar símbolos religiosos. Atacaram obras em específico, como a obra “Cruzando Jesus Cristo Deusa Schiva”, de Fernando Baril e “Criança viada travesti da lambada e Criança viada deusa das águas”, da artista Bia Leite. Foi o MBL (Movimento Brasil Livre) que pediu o encerramento do evento, em priori.

A falta da contextualização das obras levou ao mal entendimento de algumas pessoas e fez com que a arte fosse censurada. O Banco Santander em primeiro anúncio público declarou que as obras estavam ali para trazer a reflexão sobre o tema e poderiam gerar um sentimento diferente do proposto ao público. Porém alguns dias depois, voltou atrás em sua declaração e pediu desculpas aos que se sentiram ofendidos e ainda acrescentou “[…]quando a arte não é capaz de gerar inclusão e reflexão positiva, perde seu propósito maior, que é elevar a condição humana”.

A problemática da assessoria de imprensa do banco foi a de recuar por medo de perder clientes com o grande número de retaliações, mesmo com a intenção de levar o projeto para frente e manter a discussão sobre o assunto.

Após alguns dias, houve o vazamento de um documento interno do Santander, no qual havia um aviso aos funcionários sobre o cancelamento da exposição. Neste documento, a opinião expressa é diferente da postada nas redes sociais e deflagra que houve a plena censura das obras e que os ideais culturais do Santander Cultural ainda são os mesmos, que é o comprometimento com a diversidade.

Imagino, como jornalista, que lidar com altos índices de retaliação do público seja prejudicial para a empresa, e a atitude tomada pelo banco foi, de certa forma, a mais correta levando em consideração o alto risco de se perder tantos clientes. Mas no âmbito da distribuição da informação entra o dilema em mostrar a diversidade, as questões de gênero, as problematizações sobre a sexualidade, e o quanto é importante essa discussão com o grande público. Eis que há o conflito entre o que é melhor para a empresa e para o público, e o trabalho do jornalista numa assessoria gira em torno desses empasses.

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Valquiria de Carvalho
Observatório de Mídia

Jornalista, 23 anos. Entre idas e vindas escrevendo sobre assuntos da vida, trabalhos da faculdade e marketing digital.