CQC — Como o modelo de sucesso pode ter chegado ao fim

Valquiria de Carvalho
Observatório de Mídia
3 min readJan 1, 2018
Wikimedia Commons

Modelos jornalisticos tendem a surgir conforme as tecnologias e o público alvo mudam, durante a última década houve o criação de modelos de rápido consumo que sustentam e conquistam o público. A “cultura do fast food”, ligada ao cotidiano corrido da vida urbana é um dos principais motivadores para projetos que misturam o fazer jornalístico com o entretenimento, como a produtora argentina Eyeworks-Cuatro Cabezas que produziu o modelo do programa CQC- Custe o Que Custar e tem franquias distribuídas ao redor da América Latina.

No Brasil, o programa foi veiculado a partir do ano de 2008 na rede Bandeirantes e foi ao ar até o ano de 2015. Os motivos para o encerramento ainda não são claros, mas o programa apresentava grandes problemas com a audiência. Em seu auge no ano de 2012 teve picos de 9 pontos de média, já em seu último ano registrou os piores índices da televisão, cerca de 2,3 pontos.

O CQC trouxe o formato inovador que preza por desenvolver qualquer assunto, seja ele do cotidiano ou política de forma despojada e muitas vezes ácida. Através dos desenhos gráficos (raios, lasers e caricaturas) e efeitos sonoros estrategicamente colocados, o programa quer mostrar o que não foi dito pelo entrevistado.

O ponto alta no programa é quando os temas sobre política são abordados, entrevistas extremamente incisivas e até mesmo provocadoras como no caso da entrevista com o ex- deputado Paulo Maluf, em que a repórter Monica Iozzi questionou repetidas vezes sobre desvio de verba a ponto de Maluf se irritar e soltar a frase: “Se corrupção existe é da senhora sua mãe”. O questionamento ético que fica deste episódio é, se o intuito da entrevista era desvendar as fraudes ou apenas causar a notícia de que o deputado se irrita com a repórter do programa. Qual o limite para trazer a verdade custe o que custar?

A pergunta não é simples de ser desvendada, o ideal de “falar e perguntar o que ninguém tem coragem” gera certa retaliação, na qual o programa foi alvo de diversas ações judiciais e restrições. Há, também, a discussão sobre desmoralização do profissional de jornalismo, que perde a credibilidade perante a veículos públicos.

No ano de 2012 o próprio Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal entrou com uma ação contra o CQC para limitar seu acesso ao senado. Um dos pontos fomentados nesta ação eram de que as credenciais para os jornalistas e humoristas não são a mesma, porém se trata de jornalistas usando do humor para mostrar a notícia.

O questionamento final é se o modelo de sucesso televisivo se tornou dispensável graças ao excesso de humor ou não, outra questão a se discutir. A rede Bandeirantes declara que o programa está em pausa e pode voltar a ser exibido no ano de 2018, porém ainda não há data para a reestreia.

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Valquiria de Carvalho
Observatório de Mídia

Jornalista, 23 anos. Entre idas e vindas escrevendo sobre assuntos da vida, trabalhos da faculdade e marketing digital.