Da morte da crítica negativa

Leonardo Santana
Observatório de Mídia
2 min readJan 8, 2018
(Foto: Reprodução)

Em recente artigo para o Wall Street Journal, o jornalista Neil Shah expôs uma situação curiosa no jornalismo cultural: as críticas musicais negativas estão, simplesmente, desaparecendo. Usando como parâmetro o Metacritc — site que calcula uma “nota” numérica para produtos culturais baseado em uma média aritmética da soma das avaliações que os mesmos recebem. E constatou que as médias numericamente baixas estão cada vez mais raras.

O americano cita como causador desse fenômeno a descentralização recente dos veículos de crítica cultural, com cada vez mais pessoas falando sobre o assunto. Não existe mais uma potência renomada, um jornal ou revista especializado na resenha de discos ou filmes que seja mundialmente conhecida e respeitada por isso. Assim, seria mais prudente que esses veículos, para crescer, façam “bons contatos”.

Uma crítica positiva do disco de algum grande artista pop, como Taylor Swift ou Ed Sheeran, quando compartilhada por seus muitos fãs ao redor do mundo, pode gerar comoção positiva para o autor do texto. No fim das contas, a radicação da crítica negativa indica o jornalismo tentando se manter relevante na era digital.

O efeito contrário já ocorreu no Brasil: em novembro de 2017, o jornalista Diego Bargas publicou, em sua coluna na Folha de São Paulo, uma crítica do filme “Como Ser O Pior Aluno da Escola”, protagonizado pelo comediante Danilo Gentili. No texto, Bargas deixava claro seu incômodo com certos elementos do filme, como o uso de pedofilia e violência para causar riso. Gentili, que tem cerca de 16 milhões de seguidores no Twitter, não ficou feliz com o criticismo sobre sua obra e mobilizou os fãs na rede social para atacar o jornalista.

O terrorismo rendeu a Diego Bargas sua demissão na Folha.

(Foto: Brasil 247)

Décadas atrás, o canal de contato de um fã com o seu artista preferido ocorria através de entrevistas ou quaisquer materiais jornalísticos. A longevidade e o alcance de uma celebridade dependia dessas publicações. Hoje em dia, no entanto, a lógica é outra, já que as redes sociais oferecem essa aproximação entre famosos e seus admiradores. O jornalismo não é mais necessário.

E, quando incomoda, é considerado persona non grata.

O problema é que jornalismo que não discorda é relações públicas. É essencial que, em tempos de transição e explosão tecnológica como os de hoje, nos esforcemos para manter a relevância do nosso trabalho. Mas isso de nada adianta se formos engolidos por interesses e indivíduos financeiramente maiores que nós.

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