Daily Mail e a cobertura de conteúdo divulgado pelo Estado Islâmico

Beatriz Fanton de Freitas
Observatório de Mídia
2 min readDec 21, 2017
Militante do Estado Islâmico. Imagem: Reuters

Em diversas matérias veiculadas pelo site do Daily Mail é frequente eles reportarem sobre vídeos e notas oficiais do Estado Islâmico. Grande parte dos assassinatos produzidos e capturados pelas câmeras deles são divulgados em matérias e reportagens.

O acesso à informação e conscientização do que acontece no mundo é direito da população, assim como consta no Código de Conduta da União de Jornalistas do Reino Unido, em seu primeiro artigo. Fica o questionamento, porém, dos limites de veiculação de informações como essas.

Em sua maioria são mostradas matérias informando a execução de alguns reféns do grupo extremista. Da mesma forma que a informação é de certa forma justa e direito, por outro lado, certos dados fortalecem ainda mais a campanha deles no sentido de “divulgar e promover” esses vídeos, que é justamente a intenção do grupo.

Os vídeos editados, produzidos profissionalmente e divulgados pelo grupo terrorista são pauta constante no jornal, e acabam por servir de forma propagandística àqueles que se alinham a esse pensamento, mostrando a força simbólica e física que eles detém nas regiões em que controlam, sendo, dessa forma, extremamente problemático na forma que será recebido pelos leitores, com toda a simbologia que carrega, afinal os vídeos apresentam todo o viés deles da situação, já que as matérias jornalísticas reproduzidas pelo veículo se limitam APENAS a descrever o conteúdo dos vídeos.

Outra questão, também, é em relação a exposição das vítimas nas imagens e vídeos veiculados pelo jornal. O código jornalístico do Reino Unido limita-se a citar: “Não fazer nada que envolva se intrometer na vida privada, tristeza ou angústia de ninguém, a não ser que justificado pela primordial consideração ao interesse público”, artigo colocado, no guia, de forma branda.

A exposição de imagens de vítimas do Estado Islâmico no Daily Mail é degradante, sensacionalista e extremamente desrespeitosa. Expor vítimas de assassinato e tortura mostrando seus respectivos rostos e desespero demonstra a falta de ética, tato e sensibilidade do veículo para tais situações.

Expor as vítimas minutos antes da morte demonstra desrespeito com a imagem dessas pessoas e suas famílias, apenas para gerar repercussão, seja pela curiosidade ao redor da morte, ou para criticar negativamente, gerando um debate sobre os limites do jornalismo (de guerra ou não). A preservação da dignidade do indivíduo deveria ser um direito para esse e um dever para o jornalista.

No jornalismo não existe uma unanimidade em relação a alguns critérios noticiáveis ou certos limites do jornalismo de guerra, mas debates assim tornam-se cada vez mais necessários.

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