Dançando conforme a música: até que ponto o interesse da revista Capricho em falar sobre feminismo é real?

O histórico machista da Capricho contradiz a nova era da revista, que busca tratar sobre feminismo e empoderamento feminino.

Carol Oréfice
Observatório de Mídia
3 min readOct 30, 2017

--

Print da matéria apagada que classificava as garotas como namoráveis ou para curtir. (Fonte: Consciência Blog)

A revista Capricho, criada por Victor Civita em 18 de junho de 1952, foi considerada a primeira revista feminina do Brasil e a pioneira da Editora Abril. De início, o conteúdo publicado no magazine resumia-se em cinenovelas e histórias de amor desenhadas em quadrinhos.

Em novembro de 1952, o fundador da Editora Abril aumentou a quantidade de assuntos que a revista abrangia, incluindo moda, beleza, comportamento, contos e variedades. O periódico cresceu de forma tão exorbitante que, após 4 anos, atingiu a marca dos 500.000 exemplares por edição, a maior tiragem de uma revista na América Latina.

Foi entre 1985 e 1989 que a Capricho adotou o slogan “A Revista da Gatinha”, mudando o público-alvo para adolescentes e jovens. Nos anos 2000, a plataforma online passou a ser utilizada para uma maior integração com os leitores e leitoras. E, somente em 2 de junho de 2015, que a versão impressa foi extinta, existindo apenas a revista no portal online.

A resumida história da Capricho possibilita entender um pouco mais a respeito das mudanças extremas ao tratar de determinados assuntos, como é o caso do feminismo. Conhecida por dar conselhos de como as garotas deveriam vestir-se e portar-se perto dos garotos, a revista teve como um dos casos mais impactantes a matéria publicada no dia 14 de agosto de 2013 intitulada “Meninas para namorar e meninas para ficar: quais são as diferenças?”.

A matéria gerou tanta repercussão que foi tirada da página após a pressão de vários comentários negativos, mas o caso é mais antigo do que se imagina. Em setembro de 2011, a Capricho publicou em sua página depoimentos de vários meninos héteros — considerados dentro do padrão de beleza imposto pela sociedade — sobre quais seriam os tipos de garotas “para namorar”, “para ficar” ou “para largar”. O link da reportagem (https://capricho.abril.com.br/garotos/garotos-contam-quando-menina-namorar-pegar-ou-largar-641930.shtml) atualmente também está fora do ar.

A revista de 1999 em que a Deborah Secco foi capa quando ainda tinha apenas 19 anos traz frases como “Paixão por homens mais velhos: ‘Ele me ensinou a transar’” sobre a relação da atriz com um homem de 38 anos. A Capricho ainda expôs a fala de Rogério, do Jota Quest: “Não dá para ser fiel!” e algumas dicas da Feiticeira de como endurecer ‘o bumbum, as pernas e a barriga’.

O fato é que a revista ‘ensinou’ regras e dicas de como atrair garotos para meninas adolescentes durante anos, impondo que, para conquistar os meninos, era necessário adequar-se ao que eles esperavam de você.

A revista Capricho passou por mais uma reformulação de conteúdo e, desde 2016, aborda temas sobre feminismo das mais diversas formas. O periódico tem contribuído de forma efetiva para a propagação de ideais feministas, principalmente entre a camada mais jovem da sociedade.

Atualmente, é comum encontrar reportagens com títulos como: “Feminismo para iniciantes: o que você precisa saber sobre o movimento”, “Será que você não precisa mesmo do feminismo?” e “Mas, afinal, o que é feminismo?”. Além disso, a marca investe em produtos e conteúdos audiovisuais que reforcem a ideia de força feminina — Girl Power.

A grande questão que fica é, até que ponto o interesse da revista Capricho em tratar sobre assuntos como feminismo e diversidade é genuíno e até que ponto não passa de uma jogada de marketing para atrair um maior número de leitores e consumidores da marca?

--

--

Carol Oréfice
Observatório de Mídia

Journalist, lover of books and music, has a certain addiction to talk about politics, from time to time makes some cool poems.