Deadline em primeiro lugar. Depois, a ansiedade

Rafael Toledo
Observatório de Mídia
3 min readJan 7, 2018
Foto via pexels.com

Naturalmente que, com a evolução da Internet , o fluxo de informações se tornou mais dinâmico. Essa mudança veio acompanhada de uma exigência ainda maior, com demandas que interferem diretamente na saúde emocional do profissional que têm como ofício o compromisso com o acesso da comunidade à informação. São expostas aqui as condições de trabalho em que jornalistas costumam estar submetidos. Essa temática deve ser colocada em pauta, visto que a instabilidade e o frenesi de grandes redações, sejam elas televisivas, impressas ou digitais, tornam-nos seres com dores que não possuem destaque perante o deadline.

Quantas vezes nos detemos à procrastinação por não sabermos por onde começar? Pressupõe que um jornalista não enfrentará tal problemática sabendo do seu domínio e técnicas redacionais apropriados para o meio em que se encontra. No entanto, a verdade é que a maximização na carga de informação, e a própria informatização, geram o já conhecido sentimento de bloqueio, no qual o reflexo se constrói em crises de ansiedade . Atrelada à essa questão, encontram-se as exigências textuais e a objetividade sempre presentes como fantasmas do ofício, o qual apresenta sua face mais hostil frente aos hábitos que são construídos ao longo da carreira.

Em um estudo, chamado Saúde e qualidade de vida de jornalistas: estudo de revisão, Regina Zanella Penteado e Laiane Maria Gastaldello buscam relacionar os sintomas provocados pelos desgastes causados pela profissão de jornalista a partir de uma revisão nos escassos estudos realizados acerca do tema.

Na pesquisa, que revela aspectos decorrentes de uma “alimentação rápida” a problemas fonoaudiológicos — esses observados em profissionais atuantes na televisão — ainda é abordado como a origem da problemática pode estar no ensino superior. Tal fato se associa à defasagem curricular que, até o momento, não se preocupou ao trazer disciplinas que configurem a relação do jornalista como agente social dentro dos processos que definem a profissão.

Outro estudo destinado à temática, denominado O trabalho do jornalista:estresse e qualidade de vida, com autoria de Roberto Heloani, lança luz, em sua conclusão, às múltiplas funções que um jornalista tivera atribuídas a si mesmo após o período fordista, e como tal função carrega esse estigma com o acréscimo de um início dificultoso e extenuante de carreira, na qual as oportunidades de empreg, mesmo ao longo do tempo, revelam a desvalorização do profissional a partir do número excessivo de horas trabalhadas, além de funções que não se referem aos conhecimentos técnicos destinados ao indivíduo, graças ao visível enxugamento de redações.

O cerne da abordagem se concentra em alguns questionamentos que sugerem futuros debates: quando a classe de jornalistas não será somente associada ao deadine, ou ao menos, quando as condições de trabalho estarão em harmonia com os prazos exigidos pelas instituições? A reflexão rebate na formação de indivíduos que, desbotados pelo automatismo e carga de funcionalidades, padecem em um campo que ainda perpassa pela perseguição e ameaças de grandes setores da sociedade no que tange o cumprimento da função de informar. Mas, por enquanto, encerremos por aqui…

Referências

Heloani, Roberto, O trabalho do jornalista:estresse e qualidade de vida. Interações 2006, Xll (julho-dezembro) : [Fecha de consulta: 6 de enero de 2018] Disponível em:<http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=35402208> ISSN 1413–2907

Penteado, R. Z., & Gastaldello, L. M. (2016). Saúde e qualidade de vida de jornalistas: estudo de revisão. Revista Brasileira em Promoção da Saúde, 29(2), 295–304. Disponível em: < http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=40848190019>

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