Educomunicação e Jornalismo: uma prática multidisciplinar para a mudança

mussato
Observatório de Mídia
3 min readOct 30, 2017

Como a área de educomunicação pode ajudar o jornalista a pensar na diversidade e nas minorias, propondo mudanças nos esteriótipos estabelecidos pela sociedade?

A Educomunicação ‘nasceu’ da necessidade de atender demandas de uma
sociedade dentro das áreas de Educação e Comunicação, na qual o profissional consegue ser gestor de comunicação dentro dos ambientes de educação.

Nos anos 90, junto com a internet, vieram à tona assuntos importantes para
grupos minoritários e que antes eram abafados pelas mídias tradicionais. Nessa época, muitos países — o Brasil está incluso — tiveram efervescência de movimentos sociais que reivindicavam direitos para a população LGBT+, para as mulheres, para os afrodescendentes e para outros diversos segmentos.

Talvez, na época, poucos visualizaram uma necessidade de mudança nas práticas jornalísticas, mas hoje em dia isso é visto com muita facilidade. O jornalismo precisa se reinventar. Muitos professores utilizam materiais da imprensa para suas aulas, a fim de complementar o conteúdo dado. Mas já paramos para pensar na problemática que é utilizar materiais que validam os pensamentos que ‘sufocam’ os direitos de alguns grupos etnoculturais?

Tanto o educomunicador, que media essa relação, como o jornalista precisam de uma formação baseada na ética, na busca de esclarecer conceitos que vão ajudar a entender problemas da nossa sociedade e da nossa história que são complexos. Um exemplo para isso é o caso de Rafael Braga.

Em abril deste ano, em uma quinta-feira, o rapaz foi condenado a 11 anos e três meses de reclusão mais o pagamento de 1.600 reais de multa. Segundo a versão dos policiais, Rafael foi pego em flagrante carregando exatos 0,6g de maconha e 9,3g de cocaína. E isso foi o suficiente para ser a versão final do julgamento, mesmo o jovem negando essa versão.

Qual o contexto do caso de Rafael? Por que é importante o jornalismo se atentar a fatores externos que complementam esse caso? Por que é mais que essencial o leitor entender os conceitos e as conexões históricas-sociais por trás do caso para não virar um mero fato para quem está lendo a notícia? Rafael Braga foi vítima de racismo. A primeira vez foi em 2013, quando foi o único a ser preso durante as manifestações por portar um desinfetante na mochila. E a segunda vez, esse ano.

Educadores que utilizam materiais que não exercitam o pensamento crítico dos estudantes, colaboram com a hegemonia imposta na nossa sociedade. Jornalistas que não se atentam aos direitos e deveres impostos no código de ética também contribui para a construção de estereótipos. E, claro, ambos sustentam um ciclo vicioso de um pensamento dominante.

Eu, como futura jornalista, acredito na profissão como ferramenta essencial de mudança. Em 2017, na disciplina de Deontologia do Jornalismo, o segundo ano de alunos de jornalismo da Unesp de Bauru escolheram a grande maioria de temas para criticar a prática da profissão na atualidade. O sensacionalismo nas mídias, o sexismo, o racismo, a maneira de apurar as informações, a obrigatoriedade do diploma: todos os erros cometidos pelos jornalistas são apontados.

Será que talvez não seja a hora de nós, futuros profissionais, pensarmos em novas práticas juntamente com a área da educação para mudarmos a estrutura dos ideais dominantes da sociedade?

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