Giovana Matos Moraes
Observatório de Mídia
2 min readNov 22, 2017

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Imagem divulgação Girls Recreio

Girls Recreio e o jornalismo infantil exclusivo para meninas

Em março de 2016 a marca de revistas infantis Recreio, que pertence a editora Caras, lançou mais um produto, dessa vez voltado exclusivamente para garotas de 6 a 11 anos, a Girls Recreio.

Os anúncios da nova revista vieram carregados de expressões como “Confira a capa da sua mais nova amiga!” que tinham por objetivo conquistar as leitoras oferecendo um material que conversasse diretamente com elas.

Tal publicação segue uma linha editorial que prioriza a linguagem infanto-juvenil e aborda temas como comportamento, moda, beleza, viagem e entretenimento.

A problemática dessa produção encontra-se na difusão de antigas convenções de separação de gênero aplicadas às crianças. São criados compartimentos de temas voltados para garotas ou garotos, como se não houvessem interesses compartilhados.

Seguindo esse padrão, as matérias encontradas na Girls tem cunho sexista e até reportagens que induzem as leitoras a comportamentos que não são saudáveis as crianças. É o caso do teste “Você é louca por compras?”, em que as meninas respondem questões sobre o quanto gastam com bolsas, maquiagens e vestuário. Além de, na mesma página conter uma lista de lojas onde encontrar os produtos citados, o que incentiva o consumismo e a adultização das crianças.

Ainda na época de lançamento, Carol Cristianini, redatora chefe da Recreio e da Girls Recreio, publicou uma carta aberta com argumentos que defendiam sua nova criação. Nesta carta ela comenta que “não há como negar que meninas e meninos, desde os primeiros anos de vida, também possuem gostos distintos algo da natureza humana”.

É importante notar como a Girls Recreio vem como suplemento a Recreio original, acentuando a noção de que o “normal” são interesses dos meninos, enquanto as meninas necessitam de material especial. Por mais que essa publicação traga bons conteúdos, como a matéria sobre adoção de animais, não há sentido em restringir apenas para meninas. Os assuntos importantes na infância, assim como na adolescência ou na vida adulta, devem ser de conhecimento de todos.

Para o jornalismo infantil, a Recreio tem notoriedade pois apresenta conteúdos pertinentes e importantes para seu público. Falar sobre ciência, curiosidades, animais, humor e ficção é fundamental para a formação intelectual das crianças. Por esse motivo, a Girls causou tanta estranheza, já que não condiz com a ideologia construída ao longo dos 17 anos de veiculação da Recreio, vai contra o movimento de igualdade de gênero e confina os assuntos femininos a beleza, culinária e comportamento.

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