Greg News e o humor no Jornalismo

Nádia Linhares
Observatório de Mídia
3 min readDec 6, 2017

O Jornalismo é uma profissão que carrega em si um ar de seriedade e, nesse contexto, o humor é mal visto quando envolvido com o Jornalismo. Esse estranhamento é compreensível dado que é esperado que a notícia, e seu conteúdo, devam ser levados a sério.

A ambiguidade e a subjetividade que rodeiam o humor vão contra a objetividade e clareza que são prezados no meio jornalístico. No Brasil, podemos trazer dois exemplos em que essa combinação ocorreu e se mostrou tanto interessante quanto desastrosa.

Um quadro do programa CQC, “ Proteste Já!”, foi elogiado por sua agenda, enquanto o jornal “Meia Hora” apresenta um humor duvidoso em suas capas, mas que também promete jornalismo em seu interior.

Claro que cada um está inserido em contextos diferentes. O “Proteste Já!” fazia parte de um programa televisivo da Bandeirantes que passava semanalmente na segunda-feira às 23h, enquanto que o Meia Hora é um jornal popular do Rio de Janeiro que cobre de Futebol a Celebridades.

O público-alvo buscado é diferente, os assuntos tratados são diferentes e os objetivos são diferentes. O “Proteste Já!” vinha com uma proposta de vigilância e cobrança política, já o Meia Hora assume uma apresentação sensacionalista, principalmente no âmbito esportivo. Porém, apesar das diferenças, não deixam de ser exemplos do humor inseridos em práticas jornalísticas.

O humor lida principalmente com ambiguidade e com estereótipos, logo, se não usado com responsabilidade, pode reforçar preconceitos e tirar, assim, a credibilidade da matéria. Contudo, o humor é um caminho para atrair o leitor mais jovem ou menos interessado e explorar uma nova forma de passar informação.

E, então, Greg News chega na HBO e no Youtube, em 5 de maio desse ano, como a versão brasileira de The Last-Week Tonight apresentado por John Oliver. O programa tem um formato de talk show e funciona quase como um jornalismo de contexto misturado com piadas e trocadilhos (nem sempre engraçados). A qualidade do humor não é o que quero discutir, mas, sim, essa forma de transmitir conteúdo jornalístico.

O apresentador, Gregório Duvivier, é ator de teatro e cinema; começou sua fama atuando em esquetes em um canal do Youtube, Porta dos Fundos; escreveu livros, e é colunista na Folha de São Paulo.

Um tema é explicado em cada episódio, sendo utilizados dados de apurações jornalísticas e de manchetes da mídia nacional e, as vezes, da internacional, funcionando como um tipo de análise humorísticas sobre um assunto. A primeira temporada conta com 20 episódios, que tratam sobre Lava Jato, Aborto no Brasil, Fake News, Partidos Políticos, Desmatamento no Brasil, entre outros.

Os episódios de entre 15 a 25 minutos no Youtube acompanham o posicionamento de esquerda e progressista, marca do apresentador. No episódio de aborto, o programa mostra claro apoio à legalização do aborto no Brasil (e também dá a enteder em uma piada que o impeachment de Dilma foi golpe).

Assim, os dados jornalísticos são usados para apoiar a argumentação feita nos episódios, mas são seguidos de piadas políticas, zoações com pessoas públicas e famosas, ou trocadilhos. Apesar da tendência política, os dados jornalísticos ainda estão sendo passados de uma forma mais interessante, que pode atingir um público que não se afeiçoa com os modos tradicionais de reportagem.

Gregório não é jornalista, mas seu programa tem cunho jornalístico e não se utiliza de um humor muito agressivo, exagerado ou invasivo. Você pode não rir assistindo o programa, mas terminará o episódio informado e isso quer dizer alguma coisa.

A “Leifertização” trouxe bastante debate na área do jornalismo esportivo, principalmente porque se espalhou para mais que um programa nesse estilo, porém, o formato importado de Greg News é um meio interessante a ser observado que não tomará o jornalismo tradicional, mas que acrescenta à diversidade de meios de se transmitir informação.

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