Gugu-PCC, desinformação nos precursores do infotenimento no Brasil

Iuri Santos
Observatório de Mídia
3 min readJan 3, 2018

A altiva controvérsia que pauta as questões de entretenimento e jornalismo são tão pouco atuais quanto podem. O próprio termo infotenimento, apesar de, hoje, pautar boa parte da controvérsia sobre informação e diversão, não é tão atual. As teorias da comunicação já se preocupam em observar a efervescência de canais e modelos de mídia alinhados a esse modelo desde os anos 80, quando a pesquisas acerca do tema começaram a deslanchar.

No Brasil, os programas de auditório foram uma lavoura fértil de bizarrices e, apesar de toda a avacalhação, renderam doces frutos para essa discussão sobre a mídia. A guerra por audiência protagonizada pelos principais canais de televisão e seus programas de auditório na altura dos anos 90 e 2000, servem até hoje como caricatura para o debate sobre infotenimento.

Augusto Liberato, o Gugu, foi um dos pioneiros (salvo qualquer significado positivo que a palavra carregue) do que se acordou chamar de ‘jornalismo de auditório’. Marcado por uma confluência narrativa envolvente de ficção e realidade, os programas desse tipo tinham uma fórmula sólida para se digladiar pelo Ibope — por pior que fosse.

Em 7 de setembro de 2003 o programa ‘Domingo Legal’, do próprio Gugu lançou uma suposta reportagem com dois membros do PCC (Primeiro Comando da Capital) e diferente dos seus concorrentes, dessa vez Gugu não pecou pelo escracho. Enquanto Márcia Goldschmidt e João Kléber criavam seu circo ao redor das suas “inofensivas” farsas, Liberato se enfiou no debate público e criou pânico. Na reportagem de Wagner Maffezoli, os então “membros do PCC” ameaçavam figuras públicas e personalidades, assim como suas famílias.

Na forjação da matéria e no descaso completo de Gugu com sua responsabilidade como comunicador, o apresentador comprometeu a segurança pública e serviu para aumentar a desinformação sobre um assunto complexo. Na extrapolação do sensacionalismo, o apresentador utilizou se apropriou do contexto abjeto onde o PCC se encontra para atrair o público. Aterrorizá-los.

Há de se debruçar agora, não só sobre a questão da crítica de mídia, mas também sobre as intenções do apresentador. Não há como aceitar que a produção toda do programa tenha sido inocente, e acima disso, não há como não imaginar que houvesse algo de desonestidade no que estava sendo produzido. Quando estão no papel de veículo de entretenimento, os programas tem pouco dever com a verdade -não renegando aqui o compromisso como comunicador, esse se estende para todos na mídia.

Na ficção, usamos a realidade como um horizonte para o desenvolvimento das narrativas, ponto é: quando tratamos da verdade (como compromisso e direito social), não há espaço para ficção. Gugu não podia, e isso a justiça provou quando o apresentador teve que indenizar todos os afetados, desinformar o povo e mascarar a verdade. É possível entreter e informar com responsabilidade, o que não é possível é transitar entre ficção e realidade para sustentar um contexto que extrai da população o direto à informação de qualidade e apurada.

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