Independente e ‘inacessível’: as novas mídias digitais como espaços transformadores apenas para as elites

Ariely Polidoro
Observatório de Mídia
3 min readDec 5, 2017

O que é resistir dentro do espaço midiático atual? Hoje, não é de conhecimento geral, mas os que estão inseridos num contexto de acesso à internet e espaços de debates, sabem que muitos veículos vêm adquirindo, dentro das plataformas digitais, ferramentas de resistência.

O maior exemplo é, com toda certeza, a mídia independente. Alguns teóricos da comunicação a chamam de mídia radical, outros de alternativa. Mas nessa reflexão, o pilar que sustentará a definição de independência é o dos teóricos Kari Karppinen e Hallvard Moe que tomam independência, além de autonomia estatal e de interesses comerciais, como forma de produzir conteúdo alternativo ao mainstream, ou ao da grande mídia.

Dentro desta categoria, pode-se encaixar veículos como “Gênero e Número”, “Cientista que virou mãe”, “Nexo”, “Conexão Planeta”, entre outras iniciativas. Mas até que ponto o público além dos muros da universidade e dos nichos comunicacionais, ou seja, a maior parte da população, tem acesso a eles? Até que ponto alguém que não seja estudante de jornalismo, ciências sociais, psicologia ou qualquer outro curso superior sabe da existência destes meios? E é neste ponto que temos a seguinte pergunta: será mesmo que todo mundo ou a maioria tem acesso aos debates, aos meios de resistência, à informação?

Não. Não é todo mundo. Começando pelo fato de que, segundo dados do IBGE de 2015, 57,8% da população brasileira tem acesso à internet. Isso significa que ainda são 42,4% fora da rede mundial de computadores, número considerado alto.

Outro fator relevante é o fato de que, desses que acessam a internet, 95% das pessoas que compõe a classe A haviam usado internet, enquanto apenas 28% das classes C e D fizeram o mesmo. Agora, quando se fala de informação, estes dados do IBGE corroboram os da Pesquisa Brasileira de Mídia (PBM) de 2014. Segundo tal, com 97% de adesão, a televisão é o meio mais comum para se buscar informação contra 47% da internet.

Se mesmo a informação de grandes portais de mídia já não reside em muitos domicílios brasileiros, o que podemos pensar da tal mídia independente? Será que aqueles que possuem este acesso consomem mídia independente?

O Mapeamento de Mídia Digital no Brasil constatou que apesar do crescimento de organizações independentes de mídia, aqueles que ainda obtém o maior número de cliques são os conglomerados midiáticos como Organizações Globo, Grupo Abril e Grupo Folha.

Mapa da Mídia Independente no Brasil

O jornalismo independente-alternativo existe para trazer uma pluralidade de vozes e olhares, daquilo que é esquecido e jogado na periferia do agendamento da mídia hegemônica. Ele existe para que justamente aqueles que não podem acessá-lo consigam mostrar suas faces e todos os acontecidos que percorrem seus contextos.

O que possivelmente falta na sociedade brasileira é uma cultura de consumo de mídia independente. Levá-la para ambientes educativos como escolas e comunidades, principalmente em locais periféricos, é um modo de fomento à desconcentração e a democratização da informação e que pode promover a produção criativa e a ampliação de debates importantes na formação de um sujeito.

O jornalismo independente precisa sair dos muros da elite.

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