Jornalismo: a cara de quem exercita a profissão
Em 2015, a população feminina brasileira representava 51,6% da população total do país. Entretanto, ao assistirmos a programação televisiva da tv aberta, não encontramos jornalistas mulheres na mesma proporção do que homens. Isso é algo contraditório e diz muito sobre a nossa profissão.
Ao digitar “jornalistas da rede globo” no google, o resultado é desigual. Os jornalistas que mais fazem sucesso, se destacam e constroem renome e prestígio são homens.
Dos quinze rostos que representam os “jornalistas da rede globo”, apenas cinco são mulheres. E pior ainda: se analisarmos a representatividade negra, apenas Zileide Silva aparece.
O jornalismo é uma profissão elitizada por inúmeras razões. Em primeiro lugar, o jornalista é visto como alguém que sabe muito, ou seja, que detém o conhecimento de diversas áreas. Isso é visível quando nossas famílias perguntam “você viu tal acontecimento?” ou então “Você sabe o que significa isso?”. Se a resposta for negativa, a devolutiva costuma ser “Mas como não? Você não é jornalista? Tem que saber”.
Então, o jornalista já é visto pela sociedade como um cargo superior, um ethos de alguém que fala muito bem e escreve melhor ainda. Esse ethos faz com que ser jornalista seja visto como algo pouco alcançável, distante e difícil. Portanto, faz sentido que grande parte dos jornalistas renomados pertencem à parcela mais privilegiada da sociedade: homens brancos de classe média/alta.
Contudo, o jornalismo nasceu para ser uma profissão do povo. Nós apuramos e escrevemos para que todos tenham acesso às informações pertinentes. Disseminamos informação. Então nada mais justo do que existir pluralidade de realidades dentro da nossa profissão. É claro que a bagagem cultural e informativa de um jornalista será alta, pois escrevemos diversas pautas e entrevistamos fontes de áreas diferentes, entretanto isso não deve ser algo que nos separe da população que nos lê. Além de tudo, isso não implica que nossa realidade, vivência e posição social não influenciam em nosso trabalho jornalístico.
Se sou mulher, tratarei de pautas femininas com muito mais profundidade e afinco do que um homem. Trarei questões polêmicas e históricas. Se eu, mulher branca, escrevo uma pauta sobre o dia da consciência negra, com certeza não representarei a mesma experiência de que se fosse uma pessoa negra redigindo. Por esse e muitos outros motivos, as redações devem ser representativas e inclusivas. Numa Era em que o mesmo jornalista cria a pauta, apura, redige e tira fotos — ou seja, o jornalismo tornou-se uma profissão multitarefas -, as redações precisam englobar as diversidades socioeconômicas e sociais, para que cada pauta seja designada de forma coerente.