Jornalismo de Celebridades: Quando os famosos fazem sua própria matéria

Amanda Melo
Observatório de Mídia
3 min readDec 19, 2017
Matéria da UOL usando como fonte stories da Tata Werneck

A vida de pessoas famosas, que estão em evidência e que, agora, carregam com si um grande número de seguidores em suas redes sociais sempre foi pauta de vários portais de notícias que buscam agradar os diferentes públicos existentes. As fotos quentinhas feitas por paparazzis stalkers e as novidades que giram em torno da vida pessoal e amorosa dessas pessoas conquistam a cada ano mais adeptos em busca dessas informações.

Não é preciso muito esforço para encontrar, em uma busca rápida no Google, apenas com o nome da celebridade da qual você queira saber alguma informação, você descobre onde ela jantou ontem, com quem está tendo um affair, qual o preço da roupa que vestiu na festa passada além de quem estava dando essa festa.

A noção de jornalismo sentado se encontra presente nesse tipo de conteúdo, uma vez que essa prática é caracterizada pelo profissional que trabalha sentado, que se importa mais com o tratamento do texto, do que com seu conteúdo, trazendo muitas informações de agências de notícias, assessorias de comunicação ou pelo contato com fontes através de telefones ou emails. Essa prática faz com que o jornalista utilize informações já prontas de fontes externas, sem que a apuração passe por ele, seja por falta de tempo ou interesse, seja por grande demanda de produção. O resultado é uma matéria, em sua maioria vinculada à internet, com pouco ou quase sem conteúdo circulando aos montes em timelines de todo usuário de redes sociais que sigam esses portais.

É possível perceber, em poucos minutos, na pagina inicial de redes sociais como o facebook, uma enxurrada de matérias com títulos semelhantes a: Bruna Marquezine dança funk antes de treino de boxe com personal ou Rafael Vitti dorme em avião e é zoado por Tatá Werneck: “Olhos da asma”, notícias que, com muito esforço, possuem no máximo três parágrafos e que te oferecem a possibilidade de saber outros fatos de vários famosos que podem ser do seu interesse, por meio de infinitos links.

A questão é que há profissionais qualificados para desempenhar funções de grande relevância para o interesse público, investigando uma denúncia ou explicando uma descoberta científica, por exemplo, canalizando suas habilidades para conhecimentos irrelevantes, de fácil acesso e sem teor informativo. Muitas dessas matérias são retiradas das próprias mídias sociais do artista, por meio dos stories postados por eles mesmo a fim de criar vínculos com os fãs e se manterem em destaque para a audiência e para as marcas. Mantendo-se atentos, visando conseguir alguma polêmica, os portais diariamente postam mensagens com esse conteúdo disponibilizado pela própria figura pública em questão e parafraseando famosa frase no meio jornalístico, tudo o que é publicado sem que ninguém queira que aquilo não vá a público, é publicidade.

Caímos então no jornalismo sensacionalista, com clickbait cada vez mais escandalosos e apelativos, com distorções de sentidos e saturação de pessoas que estão no gosto popular.

Na busca por cliques, na tentativa de aumentar a visitação do site e conseguir de alguma forma sair beneficiado do estranho funcionamento em que os algoritmos são baseados, o jornalismo de celebridade para se sustentar nesse mundo do imediatismo acaba deixando brecha para dúvidas, o quanto isso é atender uma demanda de público que pede cada vez mais notas soltas para alimentar sua curiosidade e o quanto é aproveitar de uma tendência de comportamento e explorar uma audiência fácil com o foco nos ganhos.

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