Jornalistas como influenciadores digitais
Há alguns anos a imagem clássica transmitida pelos jornalistas tem passado por transformações. Diante do avanço da tecnologia, novas profissões nasceram, e alguns jornalistas têm colocado o jornalismo em segundo plano e apostado na carreira de “influenciador digital”
Em nossa realidade atual, é natural que o público se interesse pela vida pessoal das celebridades e as acompanhe em redes sociais para saber o que estão fazendo, com quem estão se relacionando, o que estão vestindo, etc.
Como exemplo, temos o jornalista Evaristo Costa. Seu status de celebridade influenciadora surgiu por conta de seus posts divertidos nas redes sociais e interação com os fãs via Twitter.
Ao mostrarem parte de sua vida pessoal nas redes sociais, esses jornalistas quebram um pouco do estereótipo de seriedade que carregam por conta da profissão, o que aparentemente agrada o público, pois gera uma identificação dos fãs com o profissional.
A questão é: até que ponto jornalistas podem se tornar influenciadores digitais sem que isso afete a integridade da profissão?
No caso de Evaristo, suas brincadeiras nas redes sociais nunca foram motivo de repercussão negativa, portanto, não afetaram sua imagem e integridade como ex-âncora do Jornal Hoje, muito pelo contrário. O jornalista acabou cativando fãs com seu senso de humor, o que trouxe mais audiência para o jornal.
Esse também é o caso da jornalista Mari Palma, âncora do G1 em 1 Minuto. Através do Instagram, Mari mostra sua vida pessoal de forma bem humorada, o que também acabou chamando a atenção de um público principalmente jovem, que gosta do estilo de suas roupas, gosto musical, e outras particularidades que ela compartilha nas redes sociais.
A jornalista Maju Coutinho também é um exemplo de jornalista influenciadora digital que deu certo. Ela usa as redes sociais para conversar com os fãs e compartilhar um pouco de sua vida pessoal, o que gera no público uma sensação agradável de proximidade com o jornalista influenciador. Além de mostrar parte de sua rotina, Maju também já levantou debates importantes a respeito de racismo e outras questões. Ela sabe usar sua influência para ganhar a atenção do público e levar a debates e reflexões importantes.
Mas afinal, é mesmo necessário compartilhar a vida em redes sociais para se tornar um influenciador digital?
Se pegarmos como exemplo a jornalista do SBT Brasil, Rachel Sheherazade, podemos perceber o peso que existe por trás do cargo de âncora de um jornal. Diante da tradição do jornalismo televisivo, grande parte do público, principalmente os mais velhos, ainda é influenciado e acredita 100% naquilo que está sendo dito por quem está atrás da bancada, e facilmente toma tudo como verdade.
Quando Sheherazade está dando uma notícia e decide acrescentar a ela um juízo de valor, milhares de expectadores podem não saber diferenciar a opinião dela da notícia, ou seja, sua opinião acaba se fundindo à notícia e, como já aconteceu algumas vezes, difundindo um discurso de ódio.
Essa difusão do discurso de ódio fica evidente no caso da notícia sobre um grupo de pessoas que espancou um adolescente acusado de assalto em 2014. Durante a notícia, Sheherazade julgou o acontecimento como “até compreensível” e “legítima defesa coletiva”, além de pedir de forma irônica para quem estava com pena do adolescente, que o adotasse.
Depois do ocorrido, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro e sua Comissão de Ética emitiram uma nota de repúdio, pois ela havia ferido o Código de Ética por desrespeitar os direitos humanos e incitar à violência e ao crime.
Diante da situação, o SBT Brasil barrou os comentários dos âncoras durante o telejornal por algum tempo, porém, logo eles voltaram a acontecer e permanecem até hoje.
Como comunicadores, independentemente do meio em que trabalhamos, é importante refletir sobre como opiniões influenciam pessoas. A mídia, em todas as suas formas, é a principal fonte de informação da sociedade, e só pelo fato de estarmos construindo essa mídia, já somos influenciadores digitais, tendo ou não muitos seguidores nas redes sociais.
É preciso tomar cuidado com discursos de ódio disfarçados de opinião, e refletir sobre como podemos usar nossa influência para gerar discussões construtivas e respeitosas dentro da sociedade, afinal, isso também faz parte do nosso trabalho.