Jornalistas podem empreender?

O mantenimento da ética e a criação de novos modelos de negócio em meio a crise do jornalismo

Matheus Dias
Observatório de Mídia
3 min readJan 5, 2018

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Arte: Matheus Dias

Geralmente entramos na faculdade com muita energia e vontade para botar a mão na massa, começar a escrever e descobrir como o Jornalismo funciona. Após alguns meses somos bombardeados pela realidade da nossa profissão, o diploma não é obrigatório, as redações estão se encurtando, quem se forma não arranja emprego, dentre outras mais que faz com que o Jornalismo deixe de proporcionar aquela tão sonhada carreira de sucesso.

Com toda a negatividade imposta as pessoas deixam de olhar para o que tem funcionado na área de comunicação e se esquecem que existem grandes empreendimentos que estão prosperando e se mostrando ótimos modelos de negócios. Alguns deles estão inclusive se estabelecendo no meio digital, em que a mídia tradicional tem grande dificuldade de se firmar, de forma rentável.

O jornal online Nexo é um bom exemplo de empreendimento rentável. Criado por uma engenheira, uma cientista social e um jornalista o modelo de negócio vem crescendo desde sua criação em 2015. O Nexo é composto por uma redação de aproximadamente 26 pessoas divididas entre jornalistas e diversos outros profissionais como designers, economistas, engenheiros, analistas de dados, dentre outros. Sua proposta é “oferecer aos leitores informações contextualizadas com uma abordagem original”, que tem dado certo justamente pelo conteúdo ser autoexplicativo e atraente visualmente.

Inicialmente o Jornal funcionava com conteúdo gratuito e após um determinado período passou a realizar o famoso paywall, onde deve-se pagar uma assinatura mensal para ter acesso ao conteúdo. Em 2017 o Nexo ganhou o Online Journalism Awards, principal premiação de jornalismo digital no mundo, na categoria excelência geral em jornalismo online — pequenas redações.

Uma das matérias do Nexo que gerou bastante repercussão

A rede Éder, como eles se auto denominam, é outro grande exemplo de novo modelo de negócio voltado para o jornalismo que vem se mostrando promissor. O Éder consiste na realização de grande reportagens de qualidade ou “matérias premium”, que são produzidas durante meses e entregues prontas, com parte gráfica, design, disposição de texto dentre outra coisas.

As matérias produzidas são postas a venda e normalmente adquiridas por grandes centros midiáticos, um bom exemplo de mídia que as compra é o UOL, principalmente em sua ramificação UOL TAB. A rede Éder se autodenomina como não convencional “Se você busca informação de qualidade, produzida por bons profissionais e embrulhada em conteúdos multimídia, tudo isso licenciado, e sem ter que se preocupar com nada, aí nós somos o seu cara. Ou os seus caras”.

Matéria do UOL TAB feita pelo Éder

Visto esses dois exemplos o empreendedorismo é uma prática que ao contrário do que muitos pensam não visa apenas lucro, ele proporciona conteúdo de qualidade que se paga a altura do esforço dos profissionais que o produzem. Muitos dos novos modelos de negócios nascentes fazem parte do jornalismo alternativo que é usado para trazer à mídia assuntos invisíveis no meio midiático tradicional.

Com um ambiente de trabalho mais saudável os jornalista dessas novas mídias têm mais liberdade para pautar temas relevantes para a nossa sociedade. A ética se mantem desde que os empreendimentos não visem apenas visualizações ao invés de proporcionar conteúdo de grande relevância e qualidade para seu público.

Ainda assim alguns dos novos modelos de negócio tem pouca participação dos profissionais de comunicação. O próprio Nexo foi fundado por dois profissionais que não se formaram na área da comunicação, além de um jornalista.

Não podemos perder espaço, empreender pode ser a forma de realizar o jornalismo em que você mais se identifica, sendo na parte de design, dados, artes, dentre outras. A prática deve ser levada em conta pelos jornalistas, principalmente no momento de crise em que vivenciamos, agora é a hora de criar novos modelos midiáticos para principalmente produzir jornalismo de qualidade.

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