Machismo nas manchetes sobre violência contra a mulher

Rhaida Bavia
Observatório de Mídia
3 min readNov 16, 2017
Imagem: Blog Esquerda Diário

É bastante comum observar, principalmente na mídia digital, manchetes jornalísticas carregadas de informações machistas para se referirem à aparência das mulheres, seus relacionamentos e muitos outros aspectos.

Em uma publicação feita pelo blog “Nó de oito”, há alguns exemplos desse tipo de machismo. No post, há uma “correção”, que explica como as manchetes poderiam ter sido redigidas para não serem machistas:

Imagem: Blog Nó de Oito
Imagem: Blog Nó de Oito

Porém, o machismo nas manchetes não se encontra somente nesses aspectos mencionados. Diversos casos de feminicídio, agressões, violência doméstica e até estupros são muitas vezes retratados nas manchetes de forma a colocar o culpado pela ação como um personagem passivo.

No caso do assassinato de Eliza Samúdio, por exemplo, uma notícia do portal UOL trouxe a manchete “Marco Aurélio, do STF, manda soltar goleiro Bruno”, e como linha fina “Condenado há 22 anos, ele está preso desde 2010 após ex-amante sumir”.

Imagem: Blog Esquerda Diário

Ou seja, mesmo depois de provado o assassinato, esquartejamento e morte de Eliza, a mídia a trata como “sumida”, colocando o agente da ação como passivo. Como se Bruno estivesse preso porque Eliza “sumiu”, e não por ter cometido o crime feminicídio.

Além disso, para falar da morte de uma mulher, a manchete traz o nome de 2 homens, e somente na linha fina cita Eliza. Ou seja, ela torna-se a última coisa que importa na matéria, pois a notícia mais importante, na visão do portal, seria que o goleiro Bruno está novamente em liberdade, e não quantos anos faz que o crime ocorreu e as consequências desse. Faz parecer que não é Eliza que importa.

Mas não precisamos ir tão longe e chegar a casos de feminicídio para enxergar o machismo presente em algumas manchetes. A violência cometida contra mulheres e violação de seus direitos e corpos também torna-se facilmente alvo de machismo quando noticiada, mesmo que de forma sutil. Como exemplo podemos mencionar a seguinte mancheto do portal “O Globo”, disponível no link abaixo:

http://blogs.oglobo.globo.com/pagenotfound/post/mulher-perde-parte-de-orelha-e-do-nariz-apos-rejeitar-jantar-romantico.html

Quando se diz que a mulher “perdeu” parte da orelha e do nariz, automaticamente o sujeito responsável pela ação é colocado como passivo. Dá a entender que a responsável pela perda foi a própria mulher, quando na verdade ela foi vitima de violência e tortura.

Ocultando o sujeito na manchete, é como se o agressor não fosse culpado pelo que aconteceu, e tudo não tivesse passado de uma fatalidade. E como se não bastasse, no decorrer da matéria o jornalista ainda trata o ocorrido como um “drama”: “O drama só acabou quando vizinhos ouviram os gritos de Irina e foram ao seu socorro.”. Reduzir qualquer tipo de sofrimento feminino a drama é uma atitude extremamente machista.

Para finalizar, no encerramento da matéria ainda há uma “brincadeira” de extremo mau gosto, pois referencia o agressor como “Hannibal Lecter”, que é um personagem bastante conhecido por sua agressividade e violência.

Portanto, através desses e de inúmeros outros exemplos, é possível identificar que a mídia pode se mostrar extremamente machista nas mãos de determinados jornalistas e, com isso, minimizar e menosprezar o sofrimento de muitas mulheres.

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