MasterChef: o recorte dos canais de infotenimento na cobertura do programa

Iuri Santos
Observatório de Mídia
3 min readDec 14, 2017

Há praticamente três anos, no dia 16 de dezembro de 2014, o MasterChef Brasil -versão nacional do reality inglês de gastronomia- conhecia seu primeiro campeão. Naquele momento, deslocado da sua aprazada terça-feira para uma quinta (mudança motivada pelo debate eleitoral), o programa fazia 7.8 pontos de audiência, algo em torno de meio milhão de domicílios no Brasil.
A formula do sucesso do programa foi dada: interação nas redes sociais, personagens caricatos, conflitos exagerados e, por fim, um pouco de comida. Digo por fim porque no MasterChef, o que de fato importa são os jargões dos jurados, seus trejeitos e a criação da tensão nas avaliações dos pratos, e é aqui que eu chego na matéria da minha crítica.
Paola Carosella, a única jurada do programa, segundo a revista TPM, gosta de tratar o programa como um talent show e não um reality, para ela “O MasterChef fala em respeitar a comida até o último pedacinho, fala de desperdício e da importância dos ingredientes frescos”. Os canais de mídia por outro lado parecem não ver (ou ignorar) esse recorte.
O BuzzFeed Brasil, um dos mais proeminentes veículos de infotenimento do país costuma cobrir as edições do programa, as pautas pouco tem a ver com gastronomia, ou mesmo com comida. É claro, não se exige do BuzzFeed que faça mais do que ele se propõe, o que eu questiono é a ausência de um compromisso cultural que está relacionado a culinária.

A culinária é uma das expressões maiores das culturas regionais. No MasterChef, porém, pratos milenares são banalizados em corridas contra o tempo para executa-los e, na mídia, pouco importa o valor cultural do programa. Se há realmente uma mensagem por trás do reality, como diz Paola, os canais preferem ignorar e dar destaque para fatores alheios ao da culinária.
O programa de talento é uma oportunidade para aproximar as pessoas da comida, do interesse na culinária e observar o valor antropológico dela. A questão é que a mídia -e isso se estende para toda a produção de noticias light, como chama Dejavit- não se importa em pautar isso, interpretar o contexto do programa e extrair coisas interessantes, em uma perspectiva cultural, dele.

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