O extenso histórico de politicagens e manipulações da Globo

Gabriela Arruda
Observatório de Mídia
3 min readDec 26, 2017

A imparcialidade é um mito. E todo jornalista sabe disso. Os meios de comunicação, no entanto, tentam transparecer a imagem de isenção, neutralidade e independência. A prática, é claro, contradiz as tentativas. Neste sentido, a Rede Globo, mais influente empresa de comunicação do país, dispõe de um longo histórico de subjetividade e manipulação.

A empresa, desde o início, já deixava implícita sua política editorial.
Um dia após o golpe de Estado que deu início à ditadura civil-militar, o jornal O Globo publicou, no dia 2 de abril de 1964, um vergonhoso editorial intitulado “Ressurge a democracia”. Nele, a publicação comemora, ufanista, a queda de João Goulart, e exalta a ascensão do novo regime. O fac-símile da capa está reproduzido abaixo:

“Salvos da comunização que celeremente se preparava, os brasileiros devem agradecer aos bravos militares, que os protegeram de seus inimigos. Devemos felicitar-nos porque as Forças Armadas, fiéis ao dispositivo constitucional que as obriga a defender a Pátria e a garantir os poderes constitucionais, a lei e a ordem, não confundiram a sua relevante missão com a servil obediência ao Chefe de apenas um daqueles poderes, o Executivo.”- Trecho do editorial publicado pelo O Globo.

Nesse período, os opositores do regime eram constantemente desrespeitados pelo jornal. Tratados como bandidos, terroristas, desordeiros, baderneiros e afins. Ao noticiar, por exemplo, a morte do capitão do Exército Carlos Lamarca, militante da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), o periódico o classificou como “terrorista”. Isso, é claro, contraria em absoluto o código de ética do jornalismo, que defende a isonomia e a presunção de inocência dos envolvidos.

Edição do dia 21/09/1971, jornal O Globo

A trajetória da Rede Globo é marcada pelo conservadorismo. Desde sempre, a a família Marinho mantém uma postura crítica e combativa a movimentos sociais, à causas progressistas e a partidos de esquerda. Leonel Brizola, ex-governador do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro, sentiu na pele a manipulação da Globo. Em 1994, teve veiculado no Jornal Nacional seu direito de resposta, concedido pela Justiça. Brizola, que era cunhado de João Goulart, denunciou a postura parcial e mentirosa assumida pela Globo. O vídeo, famoso, pode ser assistido abaixo:

Brizola foi chamado de senil em um editorial da Globo, 2 anos antes, em 1992.

Outro exemplo notório da descarada manipulação global é a edição apresentada no Jornal Nacional do debate entre Fernando Collor de Mello e Luiz Inácio Lula da Silva, no segundo turno das eleições de 1989. O candidato petista aparecia muito bem nas pesquisas, com reais chances de vencer a disputa. A Globo, no entanto, travestida de imparcial e apartidária, favoreceu o candidato do PRN. O Partido dos Trabalhadores chegou a mover uma ação contra a emissora no Tribunal Superior Eleitoral, mas teve o recurso negado. Collor venceu as eleições daquele ano.

Mais recentemente, a Globo voltou à cena política. Desta vez, agindo como partido de oposição ao governo da petista Dilma Rousseff. Em diversos editoriais, tanto no jornal quanto na TV, a empresa manipulou a opinião pública a apoiar o impeachment da presidenta. Abaixo, duas capas do jornal O Globo à época da agitação política:

É evidente que os termos usados nas manchetes não são aleatórios. No primeiro, a favor do golpe, os manifestantes são a representação da vontade “de todo o Brasil”. No segundo, porém, os protestantes não passam de meros simpatizantes e aliados do PT.
Com maioria no Congresso, o impeachment foi aprovado em 2016.

Em suma, as Organizações Globo continuam sendo o maior e mais influente veículo de mídia do país. No entanto, graças à popularização da Internet e das mídias alternativas, que hoje são expressivas, o poder global está arrefecendo. Quando será que a família Marinho deixará a politicagem de lado e começará, finalmente, a praticar o bom jornalismo?

--

--

Gabriela Arruda
Observatório de Mídia

jornalista. apaixonada por literatura e fascinada por Gabriel García Márquez 💓