O jornalismo é laico?
Há mais mistérios entre a bíblia secular e o jornal diário do que a vã filosofia dos homens possa imaginar
Vai chegando o final do ano e no natal já se sabe que, religiosamente, a missa do galo é exibida na televisão.
Essa exibição já virou tradição da televisão e de quem acompanha determinada religião, o catolicismo. Mas na mídia não é só o catolicismo que tem destaque, é o cristianismo em si, afinal também há diversos canais que ficam em uma extensa parte da programação exibindo os cultos evangélicos.
No jornalismo também há alguns traços da religião, algumas censuras e exposições ditadas pelo cristianismo.
‘A religião e o jornalismo são as únicas forças verdadeiras. Quando se diz
que o jornalismo é um sacerdócio, diz-se bem […] O jornalismo é um sacerdócio porque tem a influência religiosa dum sacerdote.’. (PESSOA, 1972, p. 283)
A religião pode ser um critério de noticiabilidade, posto que para muitos veículos de imprensa a doutrina religiosa prevalece. Existem muitos jornais de igrejas como a Folha Universal ou o Notícias Canção Nova. Esses claramente apresentam um viés parcial colocando diretrizes religiosas na cobertura dos fatos.
Abaixo, o que seria uma matéria de prestação de serviços, mas no fundo mascara uma doutrinação religiosa, quando ao apresentar a solução do problema coloca a religião como passo a ser tomado, dentro de um tratamento médico:
Já no Notícias Canção Nova há a abordagem de uma notícia comum, mas a colocação do veículo é de acordo com a religião, sendo assim a notícia atende aos interesses da igreja:
Na Revista Portuguesa de Ciência das Religiões o jornalista da Rádio Renascença, Sarsfield Cabral aponta:
“Esta questão, a prática jornalística e as religiões, não tem nada de muito especial em relação à prática jornalística em geral — ao jornalismo e a política, o jornalismo e a economia, o jornalismo e a cultura, etc. As religiões são fenómenos humanos, são fenómenos sociais. Como tal, são factos que podem e devem ser objecto de notícia”.
No entanto, sabe-se que fenômenos humanos influenciam na prática jornalística, a religião sendo um fenômeno humano influencia, e essa influência é algo que podem aparecer de forma sutil, assim, pode ser absorvido de uma maneira mais passiva.
“ Raramente a religiosidade na atividade jornalística é percebida com clareza,
embora a maioria dos profissionais que entrevistei apresente uma consciência
difusa dessa dimensão”. (RIBEIRO, Jorge Cláudio, Observatório da Imprensa, 2009)
Mas é mais fácil identificar uma notícia em um jornal de cunho religioso, acontece que há em outros jornais, comuns do dia-a-dia, a influência da religião, como nessa matéria do portal de notícias Metrópoles, do Distrito Federal:
Isso tudo é uma doutrinação da sociedade. A religião, juntamente com a política, anda transformando o atual cenário do Brasil, em que os costumes doutrinários prevalecem a laicicidade e a legislação vigora segundo a bíblia.
Prova disso é o próprio fato que originou a notícia colocada em vídeo acima. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) adotou o ensino religioso na grade curricular de escolas de ensino fundamental. Além disso, há também a repressão às discussões políticas e de gênero dentro dos espaços de ensino.
Sendo assim, seja de forma escrachada ou velada, a religião junto à mídia é realidade no Brasil e essa censura acaba abrindo brecha para que as pessoas sejam mais influenciadas, principalmente pela bíblia e passem a aceitar os mandamentos como leis a serem vigoradas dentro do estado dito laico.
Política e mídia transformam a sociedade, se juntas (bancada da bíblia + imprensa tendenciosa) há, de fato, uma transformação, em que a sociedade caminha de volta à Idade Média, ou Idade das Trevas, para os conscientes de uma mistura pouco eficaz.