O jornalismo satírico do Charlie Hebdo

Giovana Matos Moraes
Observatório de Mídia
2 min readJan 4, 2018

O jornal francês Charlie Hebdo, de distribuição semanal, destaca-se por vir recheado de cartuns, ilustrações e tirinhas ácidas. Suas editorias são, França, Mundo, Ecologia, Companhia e Blasfêmia.

A análise do jornal permite observar os textos imagéticos e verbais que configuram seu perfil. O abuso de cores fortes com predominância do preto, branco e vermelho dizem muito a respeito da postura ofensiva e crítica da redação.

Tal postura é reiterada a cada edição por meio de manchetes carregadas de humor negro, obscenidades e polêmicas. São esses os traços que fazem do Charlie um fenômeno midiático de destaque, já que sua tiragem e circulação são baixas.

Seguindo uma tradição nacional do jornalismo de opinião, que começou durante a Revolução Francesa, seu objetivo editorial parece ser causar mal estar às autoridades e desafiar tabus, atingindo banqueiros e a polícia. Por esse motivo, seus jornalistas e cartunistas são tachados de radicais de esquerda.

Outro aspecto marcante do Charlie Hebdo são as constantes zombarias às religiões, sendo os católicos e muçulmanos os mais atingidos. Esse, inclusive, foi o motivo dos três últimos ataques ao escritório do jornal em Paris, em 2006, 2011 e 2015.

A frequência de ataques anteriores ao de 2015 já obrigava o editor-chefe, Stephane Charbonnier, a ser acompanhado por seguranças, no entanto ele foi morto ao lado de colegas de profissão e cinco cartunistas de renome internacional — Charb, Cabu, Honoré, Tignous e Wolinski — no atentado que deixou 12 vítimas e causou grande comoção no mundo todo.

Mesmo com essa sequência trágica, o jornal não passou por alteração de estilo e continua causando polêmica com seu conteúdo repleto de escárnio. As capas mais radicais fazem analogia a submissão feminina (quando retrata uma mulher usando focinheira ao lado de um homem fazendo a barba) e sátiras religiosas (Papa levantando um preservativo como se fosse uma hóstia).

Chacota, zombaria, deboche, ironia, gozação, humor negro e piadas de mal gosto. Esses são os mecanismos usados para alertar a população francesa do que está acontecendo no país, é por meio dessas ferramentas que o jornalismo se faz presente e garante a notoriedade do Charlie Hebdo, sendo aclamado por uns e odiado por outros.

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