Os cuidados que a mídia deve ter ao noticiar suicídios

Victor Barreto
Observatório de Mídia
3 min readDec 19, 2017
Nota do Jornal da Cidade de Bauru sobre o caso de suicídio de um estudante

No dia 21 de outubro, a cidade de Bauru amanheceu em choque com uma trágica notícia. O fato repercutido fora o de um suicídio cometido por um estudante de 21 anos da Universidade Estadual Paulista (UNESP), que havia se jogado do 15º andar do prédio localizado no bairro Vila Universitária.

Este caso ilustra um fenômeno que parece ser cada vez mais comum entre os jovens no Brasil, principalmente em âmbito universitário, onde as pressões podem levar o estudante a desenvolver doenças mentais como a depressão. Essas doenças, por sua vez, podem fazer com que a pessoa tire a própria vida. Até o mês de Setembro (durante o qual é lançada a campanha de prevenção ao suicídio Setembro Amarelo), foram registrados 70 suicídios no ano somente na região de Bauru. Com estatísticas tão preocupantes, é natural que seja levantado um debate em toda a sociedade sobre os perigos de uma saúde mental comprometida, debate esse que, por consequência, envolve a mídia.

Entretanto, são necessários muitos cuidados ao discutir essa questão, pois, de acordo com estudos, como os feitos pelo sociólogo estadunidense David Phillips, uma abordagem mal feita ou sensacionalista do suicídio pode influenciar que mais pessoas que apresentam tendências suicidas também tirem a própria vida. É o que o sociólogo chamou de “Efeito Werther”, baseado na obra “Os sofrimentos do jovem Werther”, do poeta alemão Göethe, que narra a história de um rapaz que se mata após uma desilusão amorosa. Após a publicação do livro, tornou-se comum, na época, mais precisamente no ano de 1774, a prática suicida por jovens rapazes.

Portanto, é dever do jornalista, caso tenha que noticiar um fato dessa natureza , que realize uma abordagem de uma maneira mais educativa, que saiba trabalhar a prevenção ao suicídio. Apesar dessa grande responsabilidade, muitas vezes os jornais, talvez pela pressa de noticiar o ocorrido, se esquecem desses cuidados. Isso pode ser observado no caso mencionado no início do texto, publicado como uma nota no site do Jornal da Cidade (JC), o maior jornal impresso de Bauru. Nessa nota, constava apenas o que tinha acontecido, sem a conscientização que é fundamental ao noticiar um caso como esse.

Também no Jornal da Cidade, uma matéria do dia 19/04 noticiava a tentativa de suicídio de um jovem. O rapaz, que jogava o jogo da “Baleia Azul”, tinha tentado saltar de um viaduto de Bauru, mas foi salvo pelos bombeiros. Além da parte factual, a matéria explica como o jogo funcionava e como detectar comportamentos suicidas.

Infográfico presente na matéria do dia 19/04

Neste caso, o JC cumpriu com a parte educativa que se espera numa abordagem de um caso de suicídio, com uma matéria mais detalhada e com caráter de conscientização e de prevenção.

É necessário que os veículos de mídia, influentes como são, tenham sempre esse cuidado ao noticiar um caso como esses, no qual contar o fato pelo fato pode ser até perigoso, visto que muitos jornais até evitam noticiar suicídios.

Com um tratamento adequado sobre esse tema, o jornalismo pode levar boas discussões e uma importante conscientização para a sociedade.

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Victor Barreto
Observatório de Mídia

Graduado em Jornalismo pela Universidade Estadual Paulista (UNESP)