Pós-Verdade no Jornalismo
O termo “pós-verdade” começou a ser mais amplamente discutida a partir do momento em que o Dicionário Oxford a definiu como a palavra de que obteve maior relevância na língua inglesa no ano de 2016. Na definição do dicionário, “pós-verdade” é um adjetivo “que se relaciona ou denota circunstâncias nas quais fatos objetivos têm menos influência em moldar a opinião pública do que apelos à emoção e a crenças pessoais”.
Esse conceito começou a ser utilizado a fim de designar, de acordo com Carlos Castilho em artigo publicado no Observatório de Imprensa, um fenômeno que começou a alterar o comportamento das pessoas, a definição de verdade, mentira, os valores, honestidade e desonestidade para cada um. Pode-se dizer que a pós-verdade está intimamente ligada à revolução tecnológica, a qual criou um mundo caracterizado pela avalanche de informações geradas pelas novas tecnologias de informação e comunicação (TIC’s).
Para Ivana Bentes, pesquisadora na área de comunicação, “os regime de pós-verdade produzem mais do que fatos e informações, trabalham com os regimes de crença. Visões de mundo, preconceitos, sentimentos”, segundo artigo publicado na Revista Cult, em 2016. Ou seja, é o fato que cada um se tornar editorialista de sua própria crença por meio de redes sociais, como o Facebook e o Twitter. No entanto , há comunicação e troca de informações apenas entre as bolhas criadas por cada um, só há compartilhamento entre os que pensam iguais, entre aqueles que compartilham da mesma ideia. Não há espaço para reflexão e pontos controversos.
Isso afeta o jornalismo a partir do momento em que na época da pós-verdade, a verdade não é falsificada ou contestada, apenas possui uma importância secundária. O mundo está saindo do domínio dos fatos e passando a ter a verossimilhança e a evidência como matérias-primas da pós-verdade.
Pode-se dizer que a pós-verdade coloca para os jornalistas o papel de repensar a credibilidade e os parâmetros utilizados para apurar fatos, dados e eventos, de acordo com Carlos Castilho. “O leitor está cada vez mais confuso e desconfiado em relação à imprensa. É uma resistência intuitiva ao fenômeno da complexidade informativa gerada pela internet” como ressalta Castilho. Em outras palavras, o jornalismo está passando por um processo pelo qual precisará se readequar a fim de reconquistar a confiança do público, já que essa profissão é baseada na credibilidade das informações.
É válido sustentar que a imprensa é a materialização de uma relação de confiança e não um serviço de fornecimento de produtos informativos para o consumo. No entanto, na era da pós-verdade, o jornalismo que a maioria das pessoas busca é aquele que prima pelo consumo do conveniente, daquilo que não é complexo. Para Ivana Bentes, é uma experiência que altera o jornalismo pensado como prática de poder, que se esconde sob o manto de informar, reportar, reproduzir, visto que as pessoas agora possuem autonomia para fazer a informação circular.
Sendo assim, o papel do jornalismo contemporâneo deve buscar novas ferramentas para comprovar a sua credibilidade na era da pós-verdade e, assim, diferenciar-se da nova ecologia midialivrista, na qual circula há uma grande circulação de boatos e de ideias prontas.