Quem tem medo de fofoca?

Leonardo Santana
Observatório de Mídia
2 min readJan 4, 2018

Fim de ano é tempo de retrospectiva. Dentre várias de listas reconstituindo 2017, uma chama atenção: a empresa de monitoramento online SEMrush concebeu um ranking dos nomes mais pesquisados em ferramentas de busca esse ano. Dentre gigantes como Anitta e Neymar, o décimo lugar é ocupado por um nome menos proeminente. Leo Dias é colunista de fofocas do portal DIA e apresenta também o Fofocalizando, programa diário do SBT. Com cerca de meio milhão de buscas na rede, o carioca é conhecido por ser “amigo das celebridades” e, por isso, sempre ter os furos mais quentes.

Não é raro surgirem discussões sobre o significado do jornalismo e o papel das matérias de fofoca nesse interim. No ambiente acadêmico, alunos de comunicação entendem desde o início do curso que o seu trabalho deve servir a comunidade e a sociedade. Esse papel é muito claro para nós. Mas fica a pergunta: o jornalismo de fofoca é, afinal, um serviço para a sociedade?

O jornalista Paulo Nogueira certa vez afirmou que à revista Trip que “jornalismo de celebridades bom é jornalismo de celebridades morto”. Crítico ferrenho da vertente, Nogueira sustentou o “emburrecimento” que a mesma causava no leitor, que seria condicionado a conferir importância à vida de celebridades.

O carioca Leo Dias considera que foi sua credibilidade jornalística que o colocou no ranking do SEMrush (Foto: Divulgação)

É frequente também a máxima de que o jornalismo de fofoca não é de interesse público e sim de interesse do público — os milhões de acessos anuais a portais como Ego e Ofuxico sustentam essa característica. Certamente, a produção de informações sobre celebridades não realiza um serviço necessário na manutenção da consciência social das comunidades.

Mas as teorias da comunicação são claras aos definirem o processo comunicativo com uma interação que deve mudar algo no dia-a-dia do receptor. Pelo bem ou pelo mal, fofocas causam comoção na população, incitam diálogos e fazem parte das interações sociais da população. Afinal de contas, consumimos cultura e entretenimento todos os dias. O jornalismo de fofocas oferece um olhar de bastidor para esse mundo que é consumido por todas as classes. Logo, a importância do mesmo para o público é justificada.

A ascensão das redes sociais, além disso, ofereceu aos artistas e personalidades da mídia um canal através do qual eles mesmos liberam os furos que outrora venderiam milhares de revistas nas bancas. Leo Dias tem seu trunfo no compromisso que ele assume de informar o extra-oficial, complementando o discurso da celebridade, sua “amiga”.

Questões de invasão de privacidade e exposição da vida privada do indivíduo também rondam a discussão. Mas é importante lembrarmos que o rompimento da ética, que ocorre sim na prática no jornalismo de fofoca, também é frequente em outros campos editoriais da profissão. O maniqueísmo vindo da oposição entre o “bom jornalismo” e o jornalismo de fofoca não deve, portanto, se alimentar de questões éticas.

--

--