Sabe tudo, fofoqueiro, erudito ou glamouroso: a construção da figura do jornalista

Giovana Matos Moraes
Observatório de Mídia

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“Vou te ver apresentando o Jornal Nacional” e “Vai trabalhar na Globo” estão no topo do ranking de frases ouvidas por um estudante de jornalismo ao anunciar sua futura profissão. Essas, muitas vezes, vêm acompanhadas de indagações quanto ao salário e a não obrigatoriedade do diploma.

A escolha dessa profissão implica em uma dualidade de opiniões, há aqueles que incentivam, a partir da convicção de que está nascendo uma nova Fátima Bernandes ou o próximo Willian Bonner, ou os que fazem pouco caso imaginado que estão diante de mais um desempregado com um curso de humanas no currículo.

De um lado há a imagem do profissional de jornalismo que no imaginário popular é uma pessoa comunicativa, dominante de todos os aspectos da política, economia, arte, esporte, saúde, clima e entretenimento. É o culto e inteligente, aquele que escreve e fala um português impecável. Sua figura característica é a do apresentador e repórter de telejornal, com maquiagem, cabelo e roupas elegantes.

Nesta perspectiva, o jornalismo ainda é visto como um ofício glamouroso, resultado de toda essa repercussão dos jornais transmitidos em horário nobre na televisão, junto das premissas romantizadas que afirmam que função dos jornalistas é levar informações a todos os cantos, descobrir furos, desvendar mistérios e entrevistar personalidades, e que para tal esses profissionais são dotados de um senso ético e moral incorruptíveis.

O outro lado dessa moeda é baseado na ideia de que o jornalismo já não é mais um campo fértil, de credibilidade e estável. Sendo assim não vem ao lado das célebres profissões como o direito, a medicina e a engenharia, mas encontra-se junto das carreiras que “não dão futuro”.

Nenhum desses pontos é totalmente incorreto, as duas visões da prática jornalística são verídicas, no entanto, o cotidiano jornalístico atual efetivamente tende a apuração e produção de notícias sem a idealização de um trabalho repleto de aventuras como desmascarar esquemas bilionários de corrupção, e almoços em restaurantes chiques com fontes importantes.

Pode até ser que para alguns profissionais renomados esses eventos sejam reais, mas para a maioria da classe, a rotina de trabalho não se assemelha às histórias do Clark Kent. Mesmo assim, os bons jornalistas, que prezam pelo serviço social da comunicação, sentem a excitação de cumprir com suas tarefas diárias, por mais que sejam tachados de sabichões, intrometidos, heróis ou qualquer outro adjetivo.

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