Uma nova fronteira: O Facebook e a “Bolha Social”
Hoje a rede social mais acessada do mundo, significou uma mudança drástica no modo de viver da segunda década do século XXI
Fundada em 2004 por um estudante de ciência da computação de Harvard e seus colegas de quarto com o intuito de conectar pessoas dentro do campus, a rede social de mais de um bilhão de usuários ativos conseguiu muito mais do que isso — ela mudou o mundo.
Uma cena normal no dia a dia do cidadão moderno: acordar, escovar os dentes, sair para trabalhar e enquanto espera o ônibus rolar o feed do Facebook. Ou então depois de chegar do trabalho, sentar no sofá para relaxar e abrir o aplicativo.
Muitas vezes fazemos isso automaticamente, sou um deles, confesso. Entre acordar e me arrumar para o trabalho, uma olhadinha nas notificações e nas novidades, olhar as notícias do dia através da página de um grande jornal na rede social, marcar algum amigo em um meme engraçado.
Notícias, entretenimento, informação, relacionamentos, pessoas, risadas, você acha de tudo no Facebook, seja bom ou ruim, provavelmente estará lá. E isso causa vários efeitos nos usuários.
Um deles é a intensificação do pensamento coletivo. É fácil encontrar pessoas que pensam igual a você em determinado assunto na rede, o que encoraja certas atitudes e intensifica a manifestação de opiniões.
E é daí que surgem o que chamamos de “Especialistas de Facebook”. Pessoas que fizeram mestrado e doutorado em assuntos polêmicos e complexos na própria rede social e acreditam veementemente que a sua opinião é a única correta, sendo que nem mesmo estudiosos na academia chegaram em um consenso sobre o assunto.
Outro efeito que tem sido muito estudado e criticado é a “Bolha Social”, causada pela forma em que o site filtra o conteúdo que chega até os usuários.
Assim como o Google, Youtube e quase todas as outras redes sociais da atualidade, no Facebook o conteúdo que chega até o usuário passa por um algoritmo, que filtra o conteúdo bruto de acordo com certas preferências do usuário.
O algoritmo é extremamente complexo, contando com mais de 100.000 variáveis e fatores, entre eles proximidade do usuário com a fonte da publicação, número de curtidas, tipo de conteúdo e até horário de postagem.
Com isso, das cerca de 1500 publicações que um usuário teria acesso normalmente, apenas 20% desse montante chega ao destino. Apesar do motivo ser o de evitar uma enxurrada de conteúdo chegando ao usuário, esse “filtro” acaba gerando algumas consequências muito ruins, pois muitos usuários não sabem ou não percebem que essa “filtragem” acontece.
Como temos a tendência de se engajar mais em publicações que concordam com o que pensamos, o Facebook vai passar a mostrar mais daquilo que você gosta e menos daquilo que você não gosta — e não concorda também, passando uma sensação equivocada da realidade.
Um dos problemas observados desse efeito, que interfere diretamente no trabalho de um jornalista, é que dentro dessas bolhas sociais é muito mais fácil se espalhar as chamadas “Fake News”. Num ambiente em que predomina aqueles conteúdos e posições em que você acredita, a “guarda” fica mais baixa e acabamos acreditando mais facilmente nas coisas. Mesmo as vezes sendo uma notícia claramente falsa.
É possível citar vários exemplos de casos de Fake News que se espalharam pelas redes sociais. Desde simples boatos que não deram em nada a até casos que acabaram em polícia e processos. Mas um dos maiores exemplos — e mais alarmantes também — foi a influência de notícias falsas na recente eleição para presidente dos Estados Unidos.
Boatos de que Hillary Clinton havia cometido assassinatos, que estava envolvida em diversos escândalos e também de comentários e entrevistas em que Trump chamava seus eleitores de burros foram amplamente compartilhados pelos norte americanos.
Não se sabe até que ponto essas notícias interferiram de fato nas eleições e nem se o resultado das eleições seria diferente caso a repercussão não fosse tão grande. Mas o ocorrido serviu de alerta para o fato de que estamos lidando com algo muito sério e devido a isso, o próprio criador do Facebook, Mark Zuckerberg anunciou que estará criando medidas para evitar que essas notícias se espalhem.
Enquanto métodos oficiais não chegam, que tal começarmos fazendo nossa parte? Tomar cuidado na hora de compartilhar notícias e fatos, principalmente de sites desconhecidos. Checar se uma notícia está em mais de um veículo. Pequenas ações, que não tomam muito tempo, mas que fazem muita diferença e colaboram para tornar as redes sociais um ambiente melhor para todos!