Um homem em seu caminho

Um homem segue seu caminho em uma terra seca com árvores mortas e espinhosas, vestido em trapos com o corpo flagelado e debilitado.
Um caminho rochoso e rĂ­spido para um homem moribundo vagar.

Ele traz uma caixa consigo com as cinzas de todos os seus apegos e paixões, com os restos mortais de tudo que um dia ele amou.

Ele caminha com dificuldade. Esse Ă© o caminhar de um homem morto.
Os corvos negros pairam sobre sua cabeça como se esperassem a sua queda.
De repente o solo se torna uma poça de sangue e enquanto caminha ele vê todos os seus dias passarem diante dos seus olhos.

Ah o homem morto caminha. Suas lágrimas são o sangue que abre todas as encruzilhadas, seu corpo debilitado é a marca de sua devoção, dos acoites ao escárnio, do pórtico ao altar,
E ele vem sua Ăşltima oferenda entregar.

Um monte sepulcral cercado de rosas e cravos um lugar secreto.
Um lugar sagrado que ele conhece muito bem, uma cruz a sua frente imponente mirando o céu, mesmo muito velha, ele olha ao seu redor por um momento, respira fundo e começa a cavar, desesperadamente.

Em cada punhado de terra fria ele contempla o crepúsculo dos seus dias, suas dores, seus êxitos e suas derrotas, ele contempla aqueles que já se foram e jazem abaixo das asas da morte.

Os corvos observam de cima nos galhos espinhosos do abrunheiro,
de repente suas mĂŁos tocam algo que ele conhecia e que outrora ele ali havia enterrado: uma arca muito antiga adornada por sĂ­mbolos arcanos que somente ele conhecia.

Para abri-la, sete chaves eram necessárias. Por baixo dos trapos que o cobriram na altura do pescoço o homem trazia um colar em contas de ônix e vertebras de serpente. Com as sete chaves penduradas como pingente. Neste momento um halo de escuridão se formou acima de sua cabeça, e os corvos então se dispersaram.

Ele tomou as chaves e abriu a arca onde repousava o crânio do primeiro morto e do primeiro imolado. Crânio que ele tomou em suas mãos e beijou na altura da testa e colocou de volta na arca. Pegou então a pequena caixa que trazia consigo e a abriu. Um brilho dourado resplandeceu de seu interior. Ele então derramou as cinzas e os restos de tudo que amou na urna do primeiro morto e a fechou.

Por sete travas selado está!

Gritou ele.
E por trĂŞs vezes bateu com sua mĂŁo esquerda sobre aquele solo.

Então ele cobriu aquela cova novamente com a terra fria daquele solo sagrado e mágico.

O homem moribundo então encara o céu e o amaldiçoa uma última vez.

Do interior do seu corpo frágil um brilho inexplicável envolve todo o seu corpo.
Os corvos são atraídos para ele e começam a devorá-lo.
Ele oferece o seu Ăşltimo fĂ´lego como uma massagem que transpassa o outro lado e chega como uma oferenda silenciosa ao trono de Nachash El Acher.
E quando toda a sua carne se vai apenas os seus ossos permanecem de pé, como uma velha árvore morta recusando-se a cair.

De repente um grasnado ecoa por aquele lugar outrora tão silencioso, e um pássaro aparentemente um corvo, mas com proporções maiores sai dos arbustos e pousa em frente aos restos mortais daquilo que um dia foi um homem.

O pássaro negro se transforma num vulto negro sem face uma sombra de forma humanóide.
Ele traz em sua mĂŁo uma coroa de ossos dourados.
Uma voz com timbre metálico exclama:

Desperta!

Uma luz rubra então brilhou no interior daquele crânio, e aquele esqueleto ainda com sangue levantou imediatamente a sua cabeça!

Hoje tu te tornas um espinho no calcanhar da criação e uma lança transpassando os mundos,
Tu te tornas santo perante a trĂ­ade suprema do outro lado portanto digno de se tornar um de nĂłs, pois sua vida foi a nossa bandeira bradada deste lado, Ă“ filho da serpente!

Então aquele espectro pôs em sua cabeça aquela coroa de ossos dourados, e o halo do espírito novamente brilhou sobre ele.
Em sua testa resplandeceu a marca do primeiro assassino.

Um manto negro trazido por entre as garras dos corvos o cobriu, em seu nome foram ligadas as encruzilhadas da vida e da morte, sobre a sua coroa tanto os mortos elevados quanto os mortos malditos se curvaram.

Sobre sua foice o sangue dos vivos rega os rios inversos do submundo.
E com a força do seu tridente não há trava ou barreira que resista.
Com um pé em cada mundo, aquele homem moribundo se tornou o cristo da árvore inversa o mestre da sombra dos mortos.
Um símbolo de força e oposição de todo aquele que possui em suas veias o sangue flamejante e que não se dobra ante as circunstâncias da tirania cósmica.
Um sĂ­mbolo de todo aquele que faz o seu prĂłprio caminho regado com sangue e pavimentado com espinhos, ossos e fogo.

O halo de sua terceira coroação ilumina e guia os eleitos pelos árduos desertos da vida e da morte, semeando as palavras da transgressão, e forjando lâminas de morte, pois por suas sete chaves sete terras e sete infernos são interligados e acessíveis a todos aqueles que escutam o sibilar das serpentes do outro lado e compreendem o seu chamado.

A ele a nossa fé e devoção!

A ele oferecemos nossas foices como instrumentos de justiça.
Não a justiça falha e podre dos filhos de Abraão, mas a justiça de todo àquele que trilha o caminho sem lei, a justiça das serpentes e bestas do outro lado.

Em seus passos somos nós retificados, e em sua cruz negra somos nós crucificados, e na cova do primeiro morto depositamos nós também a nossa fraqueza, para que conheçamos a pura vontade do espírito.

Pelo sangue do martĂ­rio do messias inverso somos nĂłs santificados e forjados como armas e instrumentos da morte, pois esta Ă© a arte e o legado do portador da luz.

Que nos encontremos também dignos de portar esta chama para glória e redenção de tudo aquilo que é sagrado, para o retorno as santas e indistintas profundezas de Ain.

Arte Crufifer Coronatus By zeroth Q-ayn

--

--

𝕸𝖆𝖍𝖆𝖗𝖆𝖓𝖞
Occvlt Sinistrae Ars

Founder in Occvlt Sinistrae Ars | Occultus Ars Tenebrae ᔠ⛧ᔣ Vocal/lyricist in Amplexus Mortem