Análise: Tite e o 4–1–4–1

O esquema que fez do Brasil a Fênix do futebol.

O Contra-Ataque
O Contra-Ataque
5 min readJul 7, 2017

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Imagem: Vanderlei Almeida / Getty Images

Por Luca Machado

O atual técnico da seleção, Adenor Leonardo Bachi — mais conhecido como Tite –, ídolo supremo do Corinthians e responsável pela época mais vitoriosa do clube (2011, 2012 e 2015), é um dos mestres da tática dentre os técnicos brasileiros. Mesmo com o desenvolvimento de diversos bons e atualizados treinadores, Tite se consolidou como o principal e mais eficiente técnico do Brasil, tanto que, após a saída de Dunga da seleção em 2016, não houve dúvida de quem deveria ser seu sucessor. O ex-técnico do Timão chegou e o sucesso foi imediato: 9 vitórias em sequência e a classificação antecipada para a Copa do Mundo de 2018, na Rússia.

Desde o título mundial de 2012 no Corinthians, Tite já usava em seu esquema tático o 4–1–4–1, o qual ele próprio difundiu em território brasileiro. No entanto, à época, ainda variava com o 4–2–3–1 e um clássico 4–4–2. Em 2015, conquistou o Brasileirão de maneira incontestável, utilizando seu famoso esquema durante todo o campeonato. Muitos tentam se apropriar — com razão — do estilo e tática usados por Tite. Entretanto, sua maestria ainda está nas mãos do gaúcho, que, agora, leva seus conhecimentos para a Seleção Brasileira. Tentarei aqui, portanto, destrinchar a formação tática utilizada pelo técnico da seleção, pontuando as características que cada jogador deve ter para encaixar-se na equipe do ídolo corinthiano.

Adenor utiliza-se de um conceito posicional das equipes que treina, acreditando que a marcação deve ser por zona, seguindo a posição da bola. Os jogadores se adaptam de acordo com o posicionamento da ‘pelota’ e, devido às orientações que recebem, sabem onde devem pressionar os adversários. Em entrevista realizada por André Rocha, blogueiro da ESPN, em 2012 — ano de sua primeira passagem da década pelo Corinthians –, Tite explica que a marcação é sempre agressiva e tem como referência a bola: “Mais do que qualquer coisa, a equipe do Corinthians se compacta em relação à bola, e essa é a ideia fundamental que eu passo para os atletas”.

Após estudar e realizar alguns estágios com o consagrado técnico italiano Carlo Ancelotti, Tite aprendeu como utilizar o jogo ofensivo de forma mais eficiente — crítica pela qual acertou sua saída do Corinthians ao fim de 2013. Suas equipes usufruem de duas linhas de 4, intercaladas por apenas um jogador. A primeira linha é a dos zagueiros e laterais, que fazem uma marcação posicional por zona. Além disso, os laterais chegam muito bem ao ataque, apoiando a chegada do centroavante e dos meias à área adversária, com abundância de triangulações. A segunda linha formada por 4 jogadores é a dos meias: um à esquerda, sendo mais incisivo e driblador (geralmente um atacante, aproximando-se bastante do camisa 9); um à direita, jogando como armador, responsável pela criação das principais jogadas e pela aproximação aos meias centrais; e dois atuando pelo centro: um com boas características de “elemento surpresa” e de marcação, ao passo que o outro opera como uma espécie de motor do time, marcando, atacando e criando com a mesma eficiência. Além disso, completa a formação um “cão de guarda” — um marcador — de primeiro volante e um centroavante, posicionado entre os zagueiros adversários. Mostro abaixo as escalações do Corinthians de 2015 e da Seleção Brasileira, com os jogadores em suas devidas posições e com suas características de jogo.

Seleção Brasileira de Tite, que ainda permanece com a posição de goleiro indefinida, e Corinthians de 2015.

O equilíbrio do esquema encontra-se no segundo volante, função realizada por Elias, no Corinthians de 2015, e por Paulinho, agora na seleção. Como característica imprescindível e que faz o esquema funcionar plenamente, ambos têm a chegada surpresa no ataque que Tite tanto gosta. Sem isso, não existe 4–1–4–1. Tal posição é importante na hora do ataque, da defesa e até da pressão feita aos zagueiros adversários. Ademais, em suas entrevistas e depoimentos, o atual técnico da seleção sempre disse que o esquema tático que propõe possui a qualidade de possibilitar “defender com 8 e atacar com 6”, o que permite com que a equipe nunca fique exposta defensivamente.

Os vídeos abaixo mostram jogadas de infiltração dos meias, fundamentais ao esquema proposto por Tite.

Além do sucesso que tal esquema fez em 2015 no time do Parque São Jorge e faz na seleção, ele tem sido colocado em prática no atual campeonato brasileiro por um pupilo do gaúcho: Fábio Carille. O Corinthians é líder disparado na principal competição nacional e dispõe de diversos conceitos herdados de Tite, como a marcação por zona, o jogo reativo eficiente e 4–1–4–1, com jogadores que possuem características importantes ao esquema. No entanto, o atual comandante alvinegro defende com o 4–2–3–1. Talvez a única diferença seja a utilização de Romero na meia esquerda, pois é um jogador com características de muita recomposição e pouca efetividade no ataque. Entretanto, Carille foi capaz de encaixá-lo à formação tática e torná-lo um dos pilares do time.

Corinthians 2017

Adenor é um técnico extremamente atualizado e eficiente, que após encontrar um esquema de jogo que lhe agradava, não o largou, potencializando-o a nível nacional, usufruindo do mesmo com excelência na Seleção Brasileira. Que venha a Copa de 2018!

A análise do autor não reflete necessariamente no posicionamento d’O Contra-Ataque

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