Segurança que mata

Diego Amaral
OCTO_OC

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A segurança pública foi a principal pauta em Octo na semana passada.

Na quinta (30/06), trouxemos diversas entidades representativas da sociedade, para discutir o assunto no quadro Roda de Chimas.

“Sempre no país, segurança foi uma política de governo e não de estado”. Ten.-Cel. Luiz Porto — Dir. de Gestão Estratégica Operacional da SSP-RS.

“Temos uma epidemia de homicídios. Sartori deveria chamar isso para si, mas terceirizou o problema. Ele tem a responsabilidade de dar proteção para a sociedade. É um xororô que não tem dinheiro. Queremos uma resposta do governador”. Isaac Ortiz — Presidente do UGEIRM.

Na sexta (01/07), foi a vez do Presidente da OAB/RS, Ricardo Breier, dar seu parecer no Fogo Cruzado.

“Neste governo chegamos ao fim do poço. A segurança pública está a beira da falência total”. Ricardo Breier — Presidente da OAB/RS.

Ambos tiveram ótimas colocações quanto ao que poderia ser feito para melhorar a segurança do cidadão. Foram a fundo em questões estruturais do estado, mas esqueceram de uma coisa: o Brasil é um país corrupto desde o seu descobrimento.

Nossos ancestrais portugueses chegaram aqui e impuseram regras aos nativos. Os índios brasileiros foram escravizados e mortos para satisfazer os desejos dos burgueses. O poder do mais forte sempre imperou. E essa é a ferida que temos até hoje, sem, infelizmente, descobrir a cura.

A estrutura política mudou de monarquia para uma democracia, que depois virou ditadura, que voltou a ser democracia e que, sabe-se lá porque, o brasileiro ainda não aprendeu que o conhecimento sobre a história de seu país e o entendimento do que é política, são fundamentais para construir um futuro próspero, sem cometer erros do passado. E mais uma vez, os corruptos tomaram o poder e continuam usurpando o que é do povo por direito.

Quando falamos de segurança pública, não devemos esquecer que o bandido de colarinho branco também nos agride e mata. Os veículos de comunicação tendem a tratar suas reportagens com um viés mais econômico, ou no bom português, naquilo que vai dar mais audiência e dinheiro, do que no retrato da realidade, mostrando a conjuntura dos fatos. E as igrejas mais parecem empresas especializadas em ascensão econômica e, ainda por cima, reforçam pensamentos preconceituosos, aqui nas terras tupiniquins, desde 1500.

Enquanto isso, estamos à mercê de bandidos armados nas ruas e, ainda, cogitamos que a saída é o armamento do “cidadão de bem”, que na sua “privacidade online”, esbraveja aos sete cantos que não gosta dos negros, porque tudo que é ruim “é coisa de preto”; não gosta dos gays, porque isso é contra as leis divinas e, mesmo aqui em plano terreno, é uma aberração; e ainda acha que as mulheres existem para servir e satisfazer os desejos do homem.

Temos de entender que o estado mata as minorias, principalmente os LGBTIs, por não reconhecer direitos e por não criminalizar a homofobia. Igualmente, mata os pobres que, por consequência do racismo institucionalizado e da não reparação da escravatura desde sua abolição, são em sua grande maioria, negros que vivem nas periferias. Ainda mata, também, as mulheres, por contribuir com o machismo diariamente, ao não reconhecer a luta feminista e não impor regras rígidas de igualdade trabalhista, fomentando o estigma da mulher “recatada e do lar” — termos utilizados por uma grande revista de circulação nacional.

Somos uma espécie privilegiada pela evolução. Mas me pergunto até onde essa racionalidade é inteligente, quando roubamos uns aos outros e, ao nos calar perante um discurso de ódio, consentimos com agressões verbais e físicas, que levam dezenas de pessoas a morte diariamente. Convidados como os que vieram em Octo ajudam a enxergar a luz no fim do túnel. Esclarecem assuntos ainda pouco discutidos na sociedade e criticam veementemente tudo o que não está bom. Portanto, reflitam sobre o que está acontecendo e se é este o mundo que gostariam de viver. Se decidirem mudar, tenham a consciência de que, primeiro, devemos transformar a nós mesmos, inspirando todos a nossa volta. Só assim o mundo se tornará um lugar melhor para viver.

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Diego Amaral
OCTO_OC
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Jornalista e pós-graduando em Ciências Humanas — Sociologia, História e Filosofia.