A Viralização dos Funerais Dançantes de Gana
Um homem faz ginástica usando uma barra montada diante de um precipício. Ele se alonga, faz um primeiro giro em torno da trave e quando está prestes a repetir o movimento a estrutura se desmonta e cai montanha a baixo. A cena corta para um grupo de homens de terno e óculos escuros dançando ao som de Astronomia enquanto equilibram um caixão nas costas.
Se você participa de grupos de Whatsapp ou tem conta no Tiktok deve estar recebendo por estes dias uma série de vídeos com situações parecidas com esta. Além de trazer aquele constante sentimento de “isso não vai acabar bem”, esses memes também podem ser utilizados para dividir a humanidade em dois grupos: os que se perguntam “porque raios alguém teve a brilhante ideia de se exercitar na beira de um precipício?” e os que se perguntam “que lugar é esse onde as pessoas dançam no funeral de seus parentes?”. Esse texto se destina ao segundo grupo.
Velórios são grandes eventos em Gana, país da África ocidental que na história recente se emancipou da colonização inglesa no ano de 1957 e onde também se estabeleceram por volta de 1835 os Tabom, um grupo de ex-escravizados brasileiros participantes da Revolta dos Malês que conseguiram retornar ao continente de seus antepassados. Por lá, as famílias podem gastar tanto dinheiro nas solenidades fúnebres quanto gastam em festas de casamento. Para o povo ganês a morte não representa o fim da existência de uma pessoa, mas sim o ritual de passagem dela para o mundo ancestral. Isso explica o fato de haver muita música, comida e dança nessas ocasiões. Além disso, o trabalho de carregador de caixões é fonte importante de emprego e renda para muitos de seus jovens. Este vídeo da BBC News Africa demonstra a relevância dessa atividade na cultura local.
Outro fato curioso é o da própria fabricação de caixões. Em Gana existem empresas funerárias especializadas em customizá-los. Os clientes podem solicitar urnas em formatos nada convencionais como aviões, garrafas de coca-cola ou qualquer objeto representativo durante a vida do falecido. Um carpinteiro pode ter um caixão em formato de martelo, por exemplo.
Nesse mundo onde quase tudo pode ser transformado em meme, é difícil saber exatamente quais foram os primeiros autores destes pequenos vídeos onde figuram os ganenses e seus ataúdes. No entanto eles podem ser um ótimo ponto de partida para nos aproximarmos da cultura do continente-mãe, descobrindo na sua pluralidade, os costumes de cada nação e como elas se relacionam com a vida e a morte.
Fontes:
- http://edition.cnn.com/2014/03/11/world/africa/on-the-road-ghana-funerals/index.htmlhttp://edition.cnn.com/2014/03/11/world/africa/on-the-road-ghana-funerals/index.html
- https://www.bbc.com/news/av/world-africa-40716576/ghana-s-dancing-pallbearers-bring-funeral-joy
- https://www.pulse.com.gh/news/local/funeral-dancers-in-ghana-the-best-funeral-dancers-in-ghana/1hly4be
- https://pt.wikipedia.org/wiki/Tabom