Os Três Mosqueteiros: D’Artagnan (2023)

Rodrigo Quintino
OFFHistory
Published in
4 min readJan 12, 2024
Os Três Mosqueteiros: D’Artagnan (2023)

Desde obras aclamadas como a versão de 1973, dirigida por Richard Lester, passando por filmes questionáveis como ode 2011 com Logan Lerman no papel de protagonista, e chegando até a ter uma versão com o próprio Mickey em 2004, Os Três Mosqueteiros é uma das histórias literárias mais adaptadas para telinhas e telonas.

Em meio a tantas versões, uma pergunta se instaura ao ver mais uma sendo lançada: como recontar uma história já contada mil vezes? É mesmo necessário mais um filme de Athos, Porthos, Aramis e D’Artagnan? Sobre a segunda pergunta, a necessidade ou não da existência de uma obra de arte sempre leva a debates filosóficos complexos, os quais cabem aqui, mas quanto a primeira, talvez possa dar meus dois centavos de contribuição.

Necessário ou não, adaptar novamente uma obra tão célebre e enraizada no imaginário popular é andar em uma corda bamba, ou melhor, caminhar sob o fio de um florete, em que de um lado há o respeito e fidelidade ao material original, e do outro, a necessidade de inovação. Não faz sentido assistir um filme que seja exatamente igual a tantos outros, ou, no mais diferente, uma versão com mais tecnologia e recursos. Por outro lado, ao assistir a um filme dos três mosqueteiros, espera-se ver um filme dos três mosqueteiros, e não algo que fuja completamente disso. Paradoxal? Pode parecer, mas obras assim exigem justamente saber a medida certa entre conservação e inovação.

Os debates sobre adaptações cinematográficas de histórias de outras mídias, ou mesmo novas versões de filmes mais antigos, é grande e complexo, e caberia um texto a parte sobre isso, mas o fato é: a fidelidade ipsis litteris a obra dita original não é uma obrigatoriedade ou sinônimo de qualidade, afinal, adaptação não é cópia, ela prevê modificações e adequações. No entanto, ao anunciar um filme como uma nova versão de algo já existente, pressupõe-se que exista um lugar, mesmo que mínimo, de reconhecimento da obra na qual se está adaptando.

Os Três Mosqueteiros: D’Artagnan, lançado em 2023 sob direção de Martin Bourboulon, parece entender qual o equilíbrio para não cair em algum dos lados, e faz um bom trabalho ao adaptar a obra de Alexandre Dumas.

O filme, como já dito, lida bem com o dilema fidelidade versus inovação, trazendo uma narrativa que inova em seu tom mais sério, algo que faltava as versões anteriores, porém sem deixar de lado momentos de bom humor e batalhas de espadas, o que é essencial em uma história dos mosqueteiros.

O tom aventuresco da obra original e da grande maioria dos filmes que a adaptam não é completamente abandonado, mas perde espaço para uma trama dramática e política. O que, em outras versões, servia apenas de pano de fundo, aqui ganha destaque, criando uma narrativa mais sóbria, sem perder a essência do clássico. A moral de Athos, a fanfarrice de Porthos, o dilema religioso de Aramis, e as lutas de espadas ainda estão lá, porém de forma mais sutil.

E claro, o grande fio condutor da narrativa é aquele que dá nome ao filme, o quatro mosqueteiro. Embora Aramis e, principalmente, Athos, tenham papéis de destaque, D’Artagnan é quem tem mais tempo de tela, e cuja história é mais desenvolvida.

Os Três Mosqueteiros: D’Artagnan (2023)

Outro destaque é o cuidado da cenografia, figurino e, principalmente, maquiagem, para a construção histórica da França do século XVII. Aqui, não temos uma Paris glamourizada, mas suja. Tal escolha estética, obviamente, é fruto de seu tempo, um período contemporâneo em que a idealização do passado, típica do século XIX, dá lugar a uma visão crítica sobre ele.

Os Três Mosqueteiros: D’Artagnan (2023)

Isso significa que Os Três Mosqueteiros: D’Artagnan é perfeito? Obviamente não. O ritmo, em alguns pontos, é lento, e para aqueles que vão esperando um capa e espada clássico, pode ser entediante, no entanto, a aventura ainda está lá para aqueles que aceitam a experiência de uma nova versão para uma velha história.

Filme: Os Três Mosqueteiros: D’Artagnan

Diretor: Martin Bourboulon

Ano: 2023

País: França

Distribuição: Paris Filmes

--

--

Rodrigo Quintino
OFFHistory

Professor, mestre em História Social. Crítico de cinema e RPGista nas horas vagas.