Space Jam (1996)

Rodrigo Quintino
OFFHistory
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3 min readJul 25, 2023
Space Jam (1996)

O filme é constantemente lembrado por alguns problemas: a única personagem feminina com destaque, que nem é humana, é hyper-sexualizada; a atuação e Michael Jordan é sofrível; e o roteiro tem como principal objetivo a propaganda de um tênis. O último apontamento ainda pode engatilhar uma grande discussão sobre a natureza da arte e a polemica de torná-la utilitarista.

De fato o primeiro problema apontado é injustificável, mas mesmo os outros dois podem ser interpretados como elementos narrativos para a ideia cinematográfica da obra, o que torna Space Jam é muito mais que um amontoado de defeitos para construir um merchan.

O fato de ser assumidamente um grande merchandising de tênis acaba, ao contrário do que parece, jogando a seu favor. Polêmicas teóricas à parte, o filme assume descaradamente seu teor propagandístico, não o tenta esconder; disfarçar; minimizar; subliminar, nem nada do tipo. Ao contrário, incorpora as propagandas a própria linguagem, utilizando-as como recursos narrativos ao construir situações humorísticas. A cena em que Stan Podolak (Wayne Knight) busca Michael Jordan para o jogo de basebol exemplifica isso com perfeição.

Relacionado a isso, outro destaque positivo é o uso da metalinguagem. As animações têm plena consciência que são animações de televisão. Pernalonga quebra constantemente a quarta parede e conversa com o espectador. E claro, no clímax, Bill Murray aparece magicamente, uniformizado, exatamente no momento em que a equipe precisava de um quinto jogador. O vilão, indignado, reclama:

“ei, eu não sabia que o Dan Aykroyd estava nesse filme!” e Bill, por sua vez, rebate argumentando que era amigo do roteirista, mostrando total consciência de que está em um filme.

Space Jam (1996)

Os exemplos acima servem para evidenciar a maior qualidade do filme: a autoconsciência da pastelagem. Em nenhum momento, com exceção, talvez, da cena inicial, Space Jam tenta minimamente ser ou se vender como um filme sério. Ele é uma comédia pastelão e se assume como tal. A atuação de Jordan e a resolução de um Deus ex-machina com — eu sou amigo do roteirista — subvertem os “erros”, os tornando parte da narrativa e contribuindo para a autoconsciência de tosquiçe.

Acima de tudo isso, pesa o fato de Space Jam ter apresentado o basquete e a NBA para toda uma geração, em uma época na qual a internet ainda era terra pouco explorada. Não são poucas as crianças dos anos 90 e 00 que, assim como eu, cresceram assistindo o dia em que Michael Jordan jogou basquete com Pernalonga contra aliens e, à partir disso, se apaixonaram pelo esporte da bola ao cesto, influenciando seus gostos, personalidade e modo de vida. Afinal, o esporte, assim como a arte, é essencial para a vida humana.

Junte tudo isso a uma trilha sonora extremamente marcante, e temos um filme muito melhor e mais divertido do que parece ser.

Filme: Space Jam

Direção: Joe Pytka

Ano: 1996

Distribuição: Warner Bros Pictures.

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Rodrigo Quintino
OFFHistory

Professor, mestre em História Social. Crítico de cinema e RPGista nas horas vagas.