O Verdadeiro Desafio do BBB

Felipe Soares
marmita
6 min readApr 27, 2023

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Após duas edições “flopadas” , já está claro que o BBB precisa de uma renovação. Dentre todos os problemas desse ano, um deles parece ser o maior e mais difícil desafio até hoje.

O grande objetivo

Sejamos sinceros, o grande objetivo do BBB é fazer você assistir e votar. É assim que eles ganham dinheiro. Seja o banner na tela de votação, seja a festa patrocinada, eles precisam que os telespectadores estavam na frente de uma tela o máximo de tempo possível para garantir a receita bilionária do programa.

Nas 10 primeiras edições garantiam isso com maestria, mesmo com o surgimento das redes sociais em 2004, as funções delas eram de comentários pessoais para suas bolhas. Só existia um único local para se ter informações sobre o programa. Não existiam influencers, não existiam canais de notícias. A televisão possuía o poder de construir a narrativa e a partir dela o ganhador era coroado.

A tecnologia trouxe então diversas revoluções. O modo de votação pela internet, a interação dos brothers com o público enquanto estavam na casa e uma alternativa a narrativa criada pelo programa.

Ou seja, a Globo não possui mais o poder único de criação de narrativa. Qualquer um com tempo para ver, gravar e editar vídeos pode fazer sua “fanfic” do que está acontecendo. Assim o tempo de tela tão importante para garantir os anunciantes se dividiu e um novo modo de jogo começou a reinar.

Sob os olhos do passarinho

Não há duvidas de que o Twitter mudou completamente a forma como analisamos e acompanhamos o jogo. Há perfis dedicados a resumir eventos, acontecimentos, opiniões e vídeos dos participantes. Enquanto no programa principal a direção escolhe o que veremos, nas redes sociais quem decide a narrativa são as próprias pessoas e ainda é possível interagir com quem pensa da mesma forma.

O desafio começa exatamente nesse ponto. Por mais que as opiniões e discussões na internet sejam usados como métricas para serem mostrados aos anunciantes, a narrativa antes criada por olhos treinados é constantemente afetada pelas outras na internet.

É uma corda bamba muito difícil de se administrar. A todo tempo a alta cúpula do BBB está sobre a vigilância do passarinho e sendo cobrada constantemente sobre o que vai acontecer e como irá falar. Para agradar as vozes da internet, os anunciantes, sua própria arte na hora de realizar o programa, acaba que o BBB toma decisões questionáveis.

Agora sim, qual é o maior problema?

Acho que consegui contextualizar a situação. Por um lado temos quem faz o programa com seus objetivos e do outro lado temos um público que tem diferentes vias de acesso ao conteúdo da casa. Qual o resultado final? As torcidas mais ativas ganham o BBB.

Aí você me pergunta “ué, mas essa é a ideia. Torcemos por alguém e ela ganha não é?”, em parte sim, mas o problema é quando o vencedor é destacado logo no meio da edição.

Vou explicar melhor: quando um nome/torcida se destaca logo no meio da edição, isso faz com que as outras torcidas e os telespectadores desanimem o suficiente para parar de ver o programa e votar. É o mesmo sentimento que existe na maioria dos brasileiros de que votar nas eleições não vai mudar nada, é como se as cartas já estivessem na mesa e não há nada que possa ser feito para mudar.

Esse sentimento no meio de uma edição acaba por matar toda a temporada já que o publico pensa “Se o meu favorito não vai ganhar que motivos eu tenho para assistir e votar?”. Porém se eu quiser acompanhar o programa, tenho a internet para isso, não vou precisar mais ver as telas oficiais.

A questão então é que uma grande massa do público abandona o programa no meio do caminho, desiste de votar e sempre reclama de manipulação, logo os comentários sobre o programa ficam negativos. O problema fica muito claro quando você olha os números das últimas semifinais.

A Globo fica num impasse: não perder os telespectadores do grupo/participante favorito ou fazer sua narrativa para atrair todas as torcidas. Um jogo bem mais difícil e que ainda estão tentando encaixar as peças certas.

Case de sucesso?

Mas como resolver isso? Como que podemos garantir o acompanhamento do público até o final? Se eu soubesse estaria vendendo a ideia e não escrevendo num blog que ninguém vai ler (risos). Mas a verdade é que a Globo teve um case de sucesso que está há duas edições tentando reproduzir. Sim estou falando dela: Juliette e o BBB21.

Depois de um BBB elogiado no ano de 2020, a edição 2021 conseguiu superar as expectativas. O esperado era que as edições só melhorassem, mas parece que não deu certo. Vou tentar pontuar algumas coisas que podem melhorar levando em consideração não só o BBB21, mas o programa como um todo.

1 — Personagens

Há dois anos reclamam da mesma coisa: o elenco foi fraco. Na minha visão o motivo é que ainda estão tentando preencher lacunas de sucessos anteriores (mais especificamente do BBB21). A tentativa falha de preencher um elenco de sucesso impede que os novos personagens tenham identificação com o público, que se abram para as novidades, isso porque já começamos comparando eles aos outros. Parar de procurar um novo Gil, uma nova Juliette é necessário. Até que em parte conseguiram com o elenco do BBB23, mas ainda precisam melhorar muito nessa caminhada.

Eu era feliz e não sabia.

2 — Ideias Mirabolantes

Não sei vocês, mas sinto falta de um BBB mais puro. Sem regras mirabolantes, votações espalhadas, cartas que podem mudar o jogo, ou pelo menos deixar uma semana simples, normal. As dinâmicas diversificadas mais atrapalham do que ajudam o público a querer ficar assistindo, acaba que no fim só queremos ver a votação e saber quem vai de fato ao paredão. Não é a proibição total, mas ao menos nos dar um respiro.

3 -Provas Marcantes

Algo que eu amo nesses realitys são as provas, mas nos últimos anos as provas tem sido repetitivas e uma vitrine. Ler uma frase chata diversas vezes, o slogan e o nome da marca é mais importante do que a prova em si. Grandes provas do BBB foram de marcas, mas havia uma ousadia que hoje não temos mais. Logo o BBB que já é cheio de marcas acaba por sufocar quem assiste, é sempre uma marca, é sempre alguma frase, nunca é o jogo pelo jogo.

Saudades de quando eles corriam perigo (brincadeira, mas sinto falta dessa ousadia).

4 — Narrativa

Li em algum lugar e acabei concordando: o BBB tá ouvindo muito o lado de fora. As narrativas elas acabam sendo atrapalhadas e tendenciosas, pois não querem se complicar com uma torcida em particular. Acaba que reforça a torcida mais forte, enfraquece as outras e gera o desanimo de acompanhar e lutar pelo seu favorito. É necessário nos fazer querer lutar pelos nossos favoritos.

A verdade é que nos dois últimos anos o BBB vem tentando criar um novo BBB21, provavelmente o único momento em que tudo estava alinhado, foi tão raro que ao tentar repetir a fórmula, o BBB acaba piorando sua situação e tornando em campeões quem não fazia muito sentido (a não ser para algumas pessoas) e a insistência de copiar um dos seus cases de sucesso fez com que o programa desse algumas escorregadas.

Com o fim do BBB23 o que nos resta é aguardar o próximo ano. Talvez por conta da receita gerada o BBB ainda sobreviva por mais uns 2–3 anos antes de finalmente ser considerado um formato que não funciona mais. Até lá a Globo pode reformular, achar o x da questão, reanimar o formato e outras coisas que são possíveis já que são 23 anos de programa e faz parte da nossa cultura. Agora é esperar ou enviar o vídeo para se inscrever no BBB24.

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Felipe Soares
marmita
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Cientista, publicitário e escritor. Curioso até demais.