A determinada rua em que passou nunca mais ouvirá o som dos teus passos
(Não é pessimismo não. É a afirmação da vida tal como ela é.)
O nunca mais é tão comum em nossas vidas e isso é incrivelmente triste. O único e o inédito se fazem presentes todos os dias. Raulzito já tinha dado a letra quando cantou que a “determinada rua em que passou nunca mais ouviria o som dos seus passos”; que havia “uma revista que ele guardava há muitos anos e nunca mais abriria; e que “cada vez que se despedia de uma pessoa, podia ser que aquela pessoa o estivesse vendo pela última vez”. Ele tava certo: provavelmente a rua ficou em silêncio e nunca mais ouviu seus passos; a revista nunca mais foi aberta; aquela pessoa da qual ele tinha encontrado nunca mais o viu. O nunca mais é o real e o para sempre é sempre sonho.
Carreguemos em labuta o fardo do fim de todas as coisas, de tudo que um dia veio e não volta mais.
Dos muitos lugares que você frequentou, tenham bem guardados na lembrança, pois muitos deles você nunca mais voltará a frequentar. Dos beijos na boca de um alguém que já distante, lembre-se bem como eram, pois tua boca tocará qualquer outra menos esta. De cada fotografia que os olhos encontram e de cada cheiro que te toma como inédito, inéditos ficarão. A garota do metrô, o final de semana à lazer naquela cidadezinha, o bolo de laranja da vó do amigo, eles não retornarão. Ficam à deriva do fim e assim a vida é recheada de pequenas mortes. O clichê das tatuagens Carpe Diem nunca fez tanto sentido: aproveite o novo, pois só há ele a se apegar. De resto, tudo é cadente e traça um só caminho: o fim.