Ana Cuentro
O futuro é acessível
3 min readJun 2, 2017

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12 de agosto de 2014

Ontem peguei dois aparelhos auditivos para testar, esses são mais modernos e digitais. Diferente do meu analógico e só uso um no ouvido esquerdo, agora usando nos dois ouvidos para testar. A audiologista pediu para fazer anotações sobre a experiência nova. Ou seja, fazer um diário. Para que ela possa usar para fazer ajustes nos aparelhos que fiquem no nível conforto.

Assim que comecei a usar, o som é diferente, mas ainda preciso me acostumar, pois incomoda alguns sons. Detalhe, são mais sons pra escutar. Na verdade, o som ficou mais nítido. Isso é bom, mas descobri sons chatos como minhas fungadas eternas que ficaram mais altinhas e o arrasta-preguiça dos meus pés (passos de um zumbi?) que minha mãe fala tanto. Até com meus tênis, preciso mudar esse hábito.

O som do teclado, o som do botão de mouse (que nunca tinha ouvido antes, agora é irritante), o barulhinho da cadeira quando me mexo. Tudo que aperto tem um barulhinho agora. Parece que todas as coisas ganharam vida própria. O barulho que vem da janela do meu quarto ficou mais alto: carros uós, as freadas mais altas ainda e buzinas chatas. Agora escuto os pios dos passarinhos, só conseguia escutar quando eles ficavam na rede da minha janela. Eles não precisam mais estar pra poder escutar.

Ontem na consulta, a moça fez um mini teste comigo de olhos fechados. Fez barulhos como o apertar da caneta e o papel arrastado na mesa, nos quais consegui identificar, mas não acreditei que consegui ouvir esses pequenos detalhes. Fui no banheiro de lá, a maçaneta forte e barulhenta, o botão de luz também. Lavei as mãos, o som da água mais nítida e a novidade foi o barulho de papel toalha, que tinha o som tão nítido que nunca tinha ouvido. Fiquei surpresa. Mas nem tudo é uma maravilha, na sala de aula é ruim ainda, muita zoada e a voz dos professores ficou diferente, no sentido não muito legal.

Esse aparelho que fica no ouvido direito não me acrescenta muita coisa, do qual não usava desde criança porque me incomodava com seus sons mais graves. Só sentia vibrações fortes e ainda sinto. É como alguém gritasse comigo com travesseiro na cara. É sensação chata, mas estou me segurando pra aguentar uma semana e ver se isso passa. Afinal, coisa nova requere adaptação e costume. Os novos aparelhos fazem barulhinhos quando passo a mão neles. É chatinho. Teve uma vez que ficou apitando por nada, mas só para mim. Perguntei se minha mãe estava ouvindo alguma coisa. Às vezes escuto barulhos imaginários.

Fiz uma ligação para meu namorado, mas não consegui ouvir direito porque o contato no celular com o aparelho novo ficava apitando, com o velho não é assim. Dizem que têm conectividade e bluetooth para receber a ligação diretamente no aparelho que deve ser uma maravilha.

Bom, é legal ouvir os sons mais nítidos, mas ainda incomodam. Espero que com exames e esse diário que possam ajustar os aparelhos. Adaptação é sempre difícil, mas vou até o fim. Ah, esqueci de dizer: os aparelhos novos não são mais visíveis. O pessoal de bom olho só vai perceber um micro fio de cada orelha. Mais uma parte boa, menos pesinho.

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Ana Cuentro
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Accessibility Product Designer. Aqui escrevo sobre Acessibilidade e crônicas. https://anacuentro.com.br/