A juventude LGBTQ+ enfrenta uma grande crise de saúde mental

Bruno Ferreira Botelho Lopes
oh, great! it’s bruno
5 min readMay 18, 2018

De acordo com um levantamento da Human Rights Campaign, jovens queer sofrem com altos níveis de depressão e com a ausência de aconselhamento.

Por John Paul Brammer

Dados os grandes avanços em direção à igualdade que a comunidade LGBTQ + obteve nos últimos anos — incluindo a legalização de casamentos entre pessoas do mesmo sexo em todo o país e o aumento da representação de pessoas queer na mídia — parece claro afirmar que os jovens queer de hoje têm uma vida muito melhor que seus predecessores.

Entretanto, para além das mais importantes vitórias sobre os direitos LGBTQ+, a juventude queer de hoje ainda enfrenta enormes desafios, que são agravados quando se cruzam com questões raciais. Sentir-se inseguro na escola e a baixa auto estima atormentam as os jovens queer, assim como os índices surpreendentemente altos de depressão e problemas com relação ao sono.

Essas e outras informações foram reveladas pelo novo "LGBTQ Youth Report", levantamento realizado pela Human Rights Campaign em conjunto com pesquisadores da Universidade de Connecticut. Uma pesquisa com mais de 12.000 adolescentes LGBTQ + em todo os Estados Unidos, que pinta um retrato íntimo dos obstáculos que os jovens queer enfrentam em casa, na escola e em suas comunidades - e que descobriu que famílias e escolas solidárias são fundamentais para o bem-estar dessa população.

Um alarmante percentual de 77% dos adolescentes LGBTQ+, entre 13 e17 anos, relataram sentir-se deprimidos ou tristes na semana anterior à pesquisa, e 95% expressaram dificuldades para dormir à noite. O relatório observa que essas altas taxas poderiam ser explicadas pela variedade de fatores estressantes que as pessoas jovens e gays enfrentam, incluindo assédio, rejeição de familiares e colegas, intimidação de seus pares, isolamento e falta de senso de pertencimento.

Sessenta e sete por cento dos entrevistados, por exemplo, dizem que ouviram familiares fazendo comentários negativos sobre pessoas LGBTQ+. "Eu ouço insultos anti-LGBTQ no ônibus todos os dias ao ir para a escola", diz um entrevistado. No geral, apenas 26% dos jovens LGBTQ+ se sentem seguros em suas escolas, e apenas 24% dizem que podem “definitivamente” ser eles mesmos em casa.

A crise de saúde mental enfrentada pelos adolescentes LGBTQ + é agravada pela falta de acesso a serviços de aconselhamento adequados e afirmativos. Apenas 41 por cento dos entrevistados disseram ter recebido aconselhamento psicológico ou emocional para resolver seus problemas de saúde mental nos últimos 12 meses. E apenas 37% dos entrevistados disseram que receberam aconselhamento psicológico ou emocional nos últimos 12 meses. Os jovens que receberam aconselhamento, observa o relatório, relataram melhores resultados na saúde mental.

Essas estatísticas assustadoras mostram como a rejeição devastadora por parte da família e dos colegas, intimidação e assédio, e a apatia por parte de muitos adultos está afetando os jovens americanos”, disse o presidente da HRC, Chad Griffin, em um comunicado à imprensa. “Quando esta administração rescinde a orientação para proteger os estudantes transexuais, ou quando os legisladores permitem a discriminação nas escolas, faculdades e universidades, isso corrói ainda mais as expectativas dos jovens em todo o país”.

Os jovens LGBTQ+ entrevistados também dizem que hesitam em falar de sua orientação sexual em ambientes de saúde, o que pode impedir que suas necessidades específicas sejam atendidas. A maioria deles, 67%, diz não ter revelado sua orientação sexual ao seu médico ou profissional de saúde, e 61% disseram que não revelaram sua identidade de gênero.

"Eu moro em uma comunidade muito religiosa", disse um entrevistado. “Também tenho medo de que qualquer informação ou perguntas que eu tenha não sejam confidenciais entre mim e meu conselheiro escolar. Temo que ele ligue para meus pais ou tente me convencer de que minha sexualidade está errada”.

Mas o relatório também apontou sinais de esperança. 91% dos jovens relatam sentir orgulho de ser uma pessoa LGBT+ e 93% têm orgulho de fazer parte da comunidade. Três de cada cinco alunos LGBTQ+, enquanto isso, dizem ter acesso a um clube de estudantes LGBTQ+ em sua escola, o que demonstrou melhorar a sua qualidade de vida.

A HRC espera colocar esses dados recém-adquiridos nas mãos das pessoas que podem usá-los para fornecer melhores serviços para jovens LGBTQ+ - organizações como o programa Welcoming Schools, que visa reduzir o bullying nas escolas e criar ambientes educacionais mais favoráveis, e o programa All Children-All Families, que fornece recursos valiosos para famílias de jovens LGBTQ+. A pesquisa sobre a demografia juvenil queer é escassa, o que torna a política em benefício da comunidade muito mais difícil de ser planejada.

O relatório serve como um lembrete de que o progresso nem sempre é uma subida constante. Há quedas e há retrocessos. O apoio popular à pessoas LGBTQ+ diminuiu recentemente, de acordo com uma pesquisa da Harris Poll divulgada em janeiro em conjunto com a GLAAD [que eu traduzi e escrevi sobre aqui] A violência anti-LGBTQ+ também aumentou em 2017, de acordo com a Coalizão Nacional de Programas Anti-Violência, que acompanha a violência de ódio contra as comunidades.

A verdade é que os jovens LGBTQ + se encontram sob grande estresse. Vivem em um ambiente político carregado por uma administração que eles não elegeram e que os tornou um alvo, sobretudo para as pessoas trans não-brancas. Se esperamos que os jovens nos salvem, precisamos fazer tudo o que pudermos para combater a discriminação sistêmica que eles enfrentam todos os dias. Nosso futuro depende disto.

John Paul Brammer é um escritor e colunista de notícias de Oklahoma cujo trabalho apareceu em The Guardian, Slate, NBC, BuzzFeed e muito mais. Ele está atualmente no processo de escrever seu primeiro romance.

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Esta é uma tradução do artigo “LGBTQ+ Youth Face a Major Mental Health Crisis” de John Paul Brammer, para a them.

This is a them. original content

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