Não há “jeito certo” de ser trans

Bruno Ferreira Botelho Lopes
oh, great! it’s bruno
14 min readMar 1, 2018

Um guia para pais que vai além do “insistentemente, persistentemente e consistentemente”.

Por Martie Sirois.

Pais de crianças trans tipicamente estão familiarizados com essa trindade de palavras: insistentemente, persistentemente e consistentemente. Elas têm sido consideradas os princípios básicos para determinar se uma criança é transgênero ou se aquilo é somente uma fase. Quando os pais correm para a internet, muitas vezes freneticamente, pesquisando por informações — já que sua criança demonstra ou fala que se identifica com um gênero diferente do qual foi determinado ao nascer — o mantra “insistentemente, persistentemente e consistentemente” aparece diversas vezes. Essas palavras são as que aparecem acima de todas, o conceito fundamental que as pesquisas sobre juventude trans tem apresentado (levando em consideração que as poucas pesquisas sobre juventude trans — especificamente o Modelo de Afirmação de Gênero — só realmente se tornaram disponíveis por volta de 2013).

O que essa expressão significa é que a transgenereidade na juventude se apresenta de forma insistente (contínua), persistente (firme, apesar de oposição ou dificuldades) e consistente (não apresenta mudança com o decorrer do tempo), em suas afirmações de que são do gênero oposto ao binário que foi determinado ao nascer — ou ainda de outros gêneros juntos. Qualquer pessoa que não é transgênero é cisgênero (ou “cis”, para encurtar), o que significa que seus gênero determinado ao nascer, sua identidade de gênero (o sentimento intimamente pessoal sobre seu gênero) e, geralmente, sua expressão de gênero (como eles apresentam ou demonstram seu gênero para o mundo) — em certo grau — estão todos alinhados.

Crianças trans geralmente dizem e fazem coisas que usualmente não escutamos e vemos em crianças cis. Crianças trans podem dizer coisas como “Eu nasci no corpo errado”, “Deus cometeu um erro” ou “Eu sou na verdade um menino (ou menina) em minha cabeça e no meu coração”. Eles podem dizer essas coisas ainda bem jovens, geralmente colocando os pais em sobreaviso. Algumas vezes, eles expressam um severo desconforto com sua anatomia e podem ir além, expressando um desejo de (ou até tentando) mutilar seus genitais.

Mas e as crianças trans que nunca disseram ou fizeram essas coisas? Minha criança trans de quase 12 anos disse uma vez, ainda antes de completar três anos “Mamãe, você sabe que eu sou um menino apenas pelas minhas partes, certo?” e nunca mais falou nada assertivamente sobre gênero até os nove anos. Até então, eu tinha certeza que minha criança não apresentava uma comunicação “insistente, persistente e consistente” em dizer “Eu não sou um garoto” e, assim, não era transgênero. Entretanto, agora eu posso ver claramente em retrospecto que minha filha exaustivamente me mostrou através de ações e comportamentos “insistentes, persistentes e consistentes” que o gênero masculino e seu rótulo pareciam muito incorretos para ela.

Isso nos leva para a primeira coisa que é importante que pais de crianças trans saibam:

1. Todo comportamento é comunicação

Essa é uma das frases mais úteis que eu já aprendi: todo comportamento é comunicação. É a partir dessas lentes que nós iremos entender que mesmo que falte às crianças vocabulário ou maturidade verbal para nos dizer com palavras que elas são algo diferente do sexo assinalado ao nascer, elas podem ser bastante adeptas em nos demonstrar através de comportamentos, ações e preferências. Infelizmente, pais (como eu, que não cresci com uma compreensão de todo esse espectro de gênero), muitas vezes não captam as dicas ou escuta o que essas crianças estão tentando — com tanto esforço — nos demonstrar.

Eu vou utilizar partes da minha história sob uma perspectiva dos pais como exemplo. Vamos dizer que você tem uma criança que foi registrada com o gênero masculino ao nascer, mas que, na verdade, é trans. Tipicamente seria uma menina trans, mas também poderia ser uma pessoa trans não-binária — o que significa que ela não se identificaria com o gênero masculino ou feminino, mas com os dois, nenhum ou um pouco de cada. Mas, para facilitar, vou usar o exemplo de uma criança registrada com o gênero masculino ao nascer e que é, na verdade, uma menina trans. Essa criança pode começar desde uma tenra idade (às vezes tão cedo quanto uma criança possa expressar vontades e desejos, por volta de 2–3 anos) a expressar preferências tradicionalmente “femininas”, como brinquedos, personagens, cores, amigos, roupas, acessórios, cortes de cabelo, sapatos, histórias e etc. Essa criança pode, inclusive, rejeitar algo ou tudo considerado tradicionalmente como masculino.

Isso aconteceu comigo. Todos os filmes de princesas Disney, roupas de princesa, maquiagens de brinquedo, sapatos de salto alto, My Little Ponies, bijuterias, bonecas Barbies, Pollys Pockets — basicamente tudo brilhante, com glitter, rosa, roxo ou felpudo — qualquer coisa que gritasse “GAROTA!”- não era suficiente. Mas se eu desse um novíssimo e brilhante caminhão vermelho, com seus apitos e sinos, ou até mesmo brinquedos Lego em cores primárias, isso nunca sairia da caixa. Tudo, incluindo amigos, deveriam ser da categoria “garota” para que tivesse o mínimo interesse e isso tudo antes dos três anos de idade — agora, minha filha tem 12 anos e se expressa como uma menina, embora às vezes prefira usar o pronome neutro. Eu não tenho ideia de como ela vai acabar se expressando no futuro ou se isso será uma trajetória que varia conforme o tempo. Meu papel como mãe é ouvir, defender quando for necessário e amar incondicionalmente.

Talvez ainda mais importante, entretanto, é que essa criança registrada como menino sempre foi gentil, sensível, ansiosa e delicada em sua natureza. Ela se movimentava com graça e pose e se expressava de forma delicada. Isso estava determinado como um fio rígido em sua genética, assim como a do meu filho mais velho determinava sua tendência para ser maduro, responsável e dotado de talento acadêmico, bem como da minha outra filha mais velha de ser ousada, caprichosa e dotada de talentos artísticos. E ainda que minha mais nova, minha terceira criança, seja ridiculamente intuitiva, criativa, falante e inteligente desde a mais tenra idade, também é muito imatura socialmente e emocionalmente.

Birras. Dramas. Reações exageradas. Rotinas altíssimas de choro. Ataques de pânico. Um fluxo interminável de negatividade e auto-flagelação sempre que errava por alguma coisa. Julgamentos muito firmes sobre os outros. Ansiedade que piorava a cada ano, muitas vezes apresentada como mau humor ou grosseria. Incapacidade de ter amizades de sucesso com outros meninos, mas, ao mesmo tempo, uma líder sem precedentes para as crianças da educação especial. Uma criança que intencionalmente fez amizade com crianças que ninguém mais interagia, talvez por saber como era se sentir diferente.

É isso que eu quis dizer por “comportamento” e tudo isso estava conectado como uma bola de elásticos — tudo relacionado com a sensação internalizada de se sentir uma peça quadrada tentando encaixar em um buraco redondo. Como aprendemos depois em nosso terapeuta especializado em gênero, nós precisávamos pensar em nossa criança não como um menino de 10 anos de idade, mas como uma menina de 7 anos, já que era onde ela estava emocionalmente — talvez como um mecanismo de autodefesa. O comportamento é valioso como forma de comunicação não apenas para sabermos os gostos das crianças, suas forças e fraquezas, conhecimentos e déficits, mas também para nos comunicar sobre seus sentimentos em relação ao gênero.

Diane Ehrensaft, Ph.D., uma proeminente psicóloga infantil, autora e professora associada de pediatria na UCSF, membro fundadora do “Centro de gênero para crianças e adolescentes” e especialista no campo de gênero e identidade, explica que “os pais devem prestar bastante atenção nas sugestões persistentes que seus filhos deixam: levem a sério essas sugestões, e não tentem alterar a direção para onde seu filho parece estar indo”. Isso porque todo comportamento é comunicação, especialmente se é insistente, persistente ou consistente.

2. Não tente mudá-los

Como pais, desapegar de nossas crianças é uma das coisas mais difíceis a serem feitas, especialmente quando desapegar é sinônimo de deixar nossas próprias expectativas sobre como suas vidas devem ser, ou de seus próprios anseios e desejos, sobretudo se são relacionados à gênero. Quando nos é dada a maravilhosa benção de criar crianças, não nos é dado o direito de fazer clones de nós mesmos. Instruí-los com valores, ensinar o que é moralmente certo e errado, legal ou ilegal em nossa sociedade? Com certeza. Mas nós devemos deixá-los cometer erros e encontrar sua própria identidade. Nós não devemos esperar que eles sejam como nós, mas até melhor que nós.

Eu serei a primeira a admitir que desapegar de expectativas relativas ao gênero é doloroso. Como pais, nosso instinto é protegê-los da dor e do bullying, então nós frequentemente desencorajamos nossos filhos à se expressarem fora de seu gênero de registro. Em algum ponto, nós dizemos para meninos “delicados” que eles estão velhos demais para fantasias de princesas, que “rosa é para meninas” e que eles deveriam “virar homens!” porque “homem não chora”. Em algum ponto, nós não achamos nossas “molecas” tão fofas mais, e nos vemos forçando-as a utilizar sutiãs mais cedo que de fato seria necessário. Nós os importunamos com “você é muito bonita para se vestir assim” ou “você não deveria esconder esses belíssimos olhos embaixo do seu boné de baseball todo o tempo” porque “você não vai querer um namorado um dia?”

Desapegar de expectativas de gênero é fundamental, entretanto. Há estudos suficientes já concluídos (e décadas de vivências pessoais) para sabermos que fatores como a rejeição familiar de pessoas trans e tentativas de mudar seu verdadeiro eu (por terapias de conversão, reparação ou outros métodos) não são apenas consideradas datadas, perigosas, fajutas ou abusivas, mas também se relacionam com depressão, ansiedade, uso de drogas, situação de rua e suicídio.

Isso é especialmente verdadeiro quando se trata de crianças e identidade de gênero — tanto que a AAP (Academia Americana de Pediatras) escreveu uma nota em Julho de 2017 (logo após Trump tentar, via twitter, banir as pessoas trans das forças armadas) declarando seu apoio às crianças trans e pessoas trans em geral. A AAP, a maior, mais bem respeitada e proeminente organização de pediatras no país, que está comprometida com a saúde física, mental e social para crianças, adolescentes e jovens, condena as tentativas de estigmatizar ou marginalizar a juventude trans e apoia políticas de afirmação de gênero para crianças.

Todos os especialistas na temática concordam que, em algum ponto, todas as crianças irão ter comportamentos associados ao gênero oposto. Isso é apropriado para seu desenvolvimento, especialmente nas primeiras idades: garotas brincarão com caminhões, meninos com bonecas, garotas odiarão usar vestidos e meninos irão pedir para utilizá-los e esse comportamento que não tem conformidade com o gênero não significa que a criança é transgênero. Dito isso, algumas vezes pode significar. Algumas vezes pode significar que uma criança se identifica com um gênero diferente do que foi determinado ao nascer — às vezes desde a tenra idade. Sobre isso…

3. Crianças não são “muito jovens para saber”

Talvez porque o “T” (transgênero) esteja incluído na porção “LGB” da sigla LGBT, e “L” (lésbicas), “G” (gays) e “B” (bissexuais) se refiram à orientações sexuais, as pessoas confundam orientação sexual com identidade de gênero. Com a pouca compreensão que já existe quando se trata do “T”, algumas pessoas assumem que deve se tratar de uma orientação sexual, já que o “L”, o “G” e o “B” são. Dessa forma, algumas pessoas acreditam que o “T” simbolize alguma forma de fantasia crossdresser ou drag, ou ainda um fetiche de natureza sexual, e que crianças são jovens demais para descobrir essa parte sobre si mesmas. Mas nada poderia estar mais afastado da verdade. Ser transgênero não tem nada a ver com orientação sexual.

Todos nós temos certos componentes que formam nossa personalidade. Estando incluídos:

  • identidade de gênero (nossos senso interno e pessoal sobre pertencer ao gênero masculino, feminino ou outro)
  • expressão de gênero (como nós nos apresentamos ao mundo)
  • sexo registrado ao nascer (feminino, masculino ou intersexo, conforme determinado pela observação do médico sobre os órgãos sexuais externo, o que pode, inclusive, estar errado)
  • orientação romântica e/ou sexual (por quem nos atraímos, seja homem, mulher, ambos, outros, todos ou nenhum)

Qualquer um pode ser qualquer tipo de mistura desses quatro componentes. Se as estrelas se alinham perfeitamente, você é cisgênero, heterossexual e parte da larga maioria das pessoas que não tem que enfrentar discriminação baseada na sua identidade de gênero ou orientação afetivo-sexual. Mas se acontecer de você ser trans, você irá passar a maior parte de sua vida lidando com rejeição, isolamento, cobiça, provocações, questões intrusivas, microagressões (como ter seu gênero confundido, inclusive de propósito) e inclusive o medo de ser assassinada apenas por sair de casa, se vestir e ser quem você é. Se você for uma pessoa negra, esse medo quadriplica, já que mulheres trans negras são estatisticamente o grupo marginalizado em que as pessoas mais chances tem de ser brutalmente assassinadas.

Além do fato de gênero não ser o mesmo que orientação sexual e embora crianças não sejam jovens demais para saber isso, é difícil de explicar como as crianças simplesmente sabem. A incrível organização Gender Spectrum recomenda perguntar à pessoas cis, quando estas tentarem compreender pessoas trans, sobre sua própria jornada ao redor do Gênero. Pergunte à uma mulher “Em que ponto você soube que era uma mulher?”. Pergunte à um homem: “Quando você percebeu, pela primeira vez, que era um menino?”

Pessoas cis geralmente não sabem como eles souberam, eles apenas souberam. Ou talvez eles saibam porque seus pais o disseram bem cedo e eles não sentiram diferença. Invariavelmente, eles simplesmente souberam. A mesma coisa é verdade para pessoas transgêneras. Elas simplesmente sabem. Apesar de poder levar algum tempo até que essas pessoas, de fato, se determinem (ou saiam do armário), a maioria delas dirá que não é algo que ela tenha simplesmente acordado pela manhã e descoberto. Eu conheci diversas pessoas trans, de diversos estágios de vida, em meu trabalho e com meu ativisto e todas elas que eu conheci disseram que se sentiam diferentes ou “erradas” durante toda sua vida, ainda que não pudessem apontar sobre exatamente o que se referiam. Algumas inclusive eram melhores em esconder isso que outras. O que nos leva a…

4. Algumas vezes, os pais não vêem indícios.

Pais às vezes estão cegos quando um adolescente anuncia: “Mãe, Pai, eu acho que posso ser transgênero.” Talvez em retrospectiva, um parente possa pensar: “Bem, ela sempre odiou usar vestidos e brincar com bonecas, mas eu pensava que ela era só uma moleca. Eu nunca imaginei que ela sempre se sentiu como ‘ele’… ” E pode ser que de fato você tenha uma criança cisgênera que simplesmente dança conforme sua própria música e simplesmente não se importa com esteriótipos de gênero. Entretanto, também pode ser que sua criança tenha escondido (fingindo ser algo que não é, simplesmente para se encaixar e se sentir aceita pela família, na escola e na comunidade). Mas também, pode ser que somente na puberdade ela tenha levado isso em consideração.

Apesar de muitas pessoas trans saberem que são, de alguma forma, diferentes durante a primeira infância, alguns jovens trans podem não experimentar esses sentimentos ou dificuldades até a puberdade, quando seus corpos começam a se alinhar com seu “sexo biológico” (palavras da autora). Quando uma criança entra na puberdade, em muitos casos, é a primeira vez que os pais escutam falar do desconforto dos filhos com seus corpos. Às vezes, a puberdade é a primeira coisa que desperta o conflito entre o sexo registrado ao nascer e o gênero com o qual a criança se identifica. Esse conflito é chamado de disforia de gênero.

A disforia de gênero varia em larga escala entre as pessoas trans e se manifesta de forma diferente. Pessoas trans podem se sentir desconfortáveis com seu gênero registrado ao nascer, ou com os esteriótipos de gênero que a sociedade espera que sejam cumpridos por elas. Elas podem passar por um forte estresse ou apenas um pequeno desconforto. Enquanto a disforia de gênero pode paralisar alguns jovens, outros podem abraçar isso, expressando seu verdadeiro eu, independente das consequências. Cada criança é diferente.

Por fim, e talvez mais importante…

5. Não existe um jeito “certo” de ser trans:

Infelizmente, não há nenhum guia ou livro de instruções, nenhum “O que esperar quando seu filho é trans”. Mas é importante que, como pais, nós paremos de brigar com o que desconhecemos, comecemos a escutar e encontremos coragem para abrir mão das expectativas de gênero. Conforme mais e mais crianças e jovens começam a verbalizar o que outras pessoas trans sempre souberam sobre elas mesmas — mas tinham muito medo para admitir — a sociedade evoluirá ainda mais para entender esse precioso, habilidoso e sábio grupo de pessoas. Mais pesquisas e estudos serão conduzidos, mais histórias serão contadas e mais livros serão escritos. Mais pessoas encontrarão coragem para deixar de se esconder e isso é uma coisa boa.

Veja o quanto nós evoluímos em apenas uma década — ou até mesmo nos últimos cinco anos. Como responsável por uma criança trans assistindo tudo em tempo real, eu vi o DSM-IV ( Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) ser substituído pelo DSM-V e, com isso, o termo “transtorno de identidade de gênero” ser removido, já que a Associação Americana de Psicologia reconheceu que ser transgênero não é um transtorno mental — como ser cisgênero também não é e ter uma orientação sexual diferente também não era. Isso foi crucial para remover o estigma sobre pessoas trans baseado no falso esteriótipo sobre identidade de gênero e expressão. Também foi importante ao remover o termo “transtorno”.

Nós também começamos a perceber que “insistentemente, consistentemente e persistentemente”, embora formalmente seja útil em determinar se as pessoas são trans ou não, pode não ser sempre o melhor indicador. Não existe um “jeito certo” de ser trans, nenhum guia de orientações definitivo que todas as pessoas trans irão seguir. De fato, o termo transgênero é mais um guarda-chuva para um espectro de gênero muito maior, com um número infinito de possíveis combinações de identidades.

Ao contrário da crença popular, “transgênero” não significa alguém que passou por uma “mudança de sexo” e “crianças transgênero” não se refere à crianças que estão passando por “mudança de sexo” (o termo correto é redesignação sexual). A transição médica somente é relevante durante e após a escala II de Tanner (nota: escala de Tanner, que mede a maturação sexual) na puberdade e muitas cirurgias relacionadas à transição só estão disponíveis na vida adulta (nota: no Brasil, após os 21 anos). Nem todas as pessoas trans escolhem fazer a cirurgia, inclusive. Seja por questões financeiras ou pessoais, muitas pessoas trans não passam por cirurgias ou hormonização.

Algumas crianças trans fazem uma transição social (começam a viver de acordo com seu autêntico gênero, o que geralmente envolve deixar o cabelo crescer ou cortá-lo, se vestir de acordo com seu gênero, utilizar os pronomes corretos e, às vezes, trocar de nome). Algumas crianças trans vivem com medo e vergonha, sabendo que viver de acordo com seu autêntico gênero irá fazê-la passar por bullying na escola ou até dividir sua família. Algumas pessoas trans se assumem como gays ou lésbicas quando são adolescentes ou jovens, porque acreditam que será mais fácil para sua família lidar com isso dessa forma do que se se assumissem como trans.

Algumas pessoas trans não se sentem seguras o suficiente para se assumir até sua vida adulta, ou após o divórcio ou após um divórcio em um relacionamento heterossexual: eles podem ter escondido ou podem realmente ter se apaixonado — isso não muda o fato de serem trans, já que orientação sexual não é a mesma coisa que gênero e identidade de gênero. Ainda assim, existem pessoas que nunca ligam os pontos e percebem que são trans até seus últimos anos. Nada é impossível.

Claro, não é sempre o caso dessas súbitas ou até óbvias sugestões apontarem que alguém é definitivamente transgênero. Existem muitos homens e mulheres que não são trans, mas que por sua natureza não se importam com normas tradicionais ou expectativas de gênero (eu sou uma dessas, com meu desdém para vestidos, maquiagem, saltos altos e cabelos longos). Ainda assim, sempre é importante que os pais prestem atenção desde cedo, sigam os comandos da criança, continuem abertos à possibilidades e não façam disso uma grande questão. Quanto mais entendemos sobre isso, mais podemos avançar para vermos a palavra “transgênero” livres de estigma e pelo que ela realmente é: um belo espectro de infinitas possibilidades.

Esta é uma tradução do artigo “There’s no right way to be trans”, de
Martie Sirois, para o Medium.com

This is a Medium.com original content

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