Nossa cultura de vergonha está acabando com a juventude LGBTQ +.

Bruno Ferreira Botelho Lopes
oh, great! it’s bruno
4 min readApr 27, 2019

A história de Nigel Shelby é um trágico lembrete de como estamos falhando com nossos jovens mais em risco. Precisamos fazer mais, e isso começa com o fim do estigma sobre tendências suicidas e enfrentar os desafio e mitos sobre o suicídio na mídia.

Nigel Shelby.

Em 18 de abril, Nigel Shelby, um estudante de 15 anos do Alabama, Estado Unidos, morreu em decorrência de um suicídio. A mãe de Shelby disse à NBC News que ele havia sido alvo de bullying homofóbico antes do suicídio. Sua morte trágica aponta o fato de que nossa cultura está falhando com nossos jovens mais vulneráveis, especialmente aqueles que vivem em múltiplas intersecções de marginalização. Precisamos fazer mais para ajudar jovens como Shelby — e, para isso, precisamos desestigmatizar nossa conversa sobre tendências suicidas, bem como desafiar mitos persistentes que a acompanham na mídia.

Esses desafios são agravados pelo fato de que pouquíssima pesquisa foi feita sobre as necessidades e os problemas enfrentados pelos jovens negros LGBTQ+. O relatório da Juventude LGBTQ de jovens negros e afro-americanos de 2019 (disponível em inglês aqui), da Human Rights Report, no entanto, mostra que muitos desses jovens enfrentam níveis desproporcionais de agressão física, intimidação e agressão sexual em seu cotidiano. Apenas 19% dos jovens entrevistados no estudo do HRC relataram ser capazes de “ser eles mesmos” em casa, enquanto 80% relataram “geralmente se sentir deprimido ou para baixo.” Cerca de 40% disse ter sofrido bullying na escola nos últimos 12 meses.

O que ainda não temos são dados concretos sobre a ligação entre o bullying e a probabilidade de suicídio. Embora não seja comprovado se o bullying causa diretamente um comportamento relacionado ao suicídio, resta claro que os dois têm uma relação com fatores que podem tornar um jovem mais vulnerável à tendência suicida, como sofrimento emocional, exposição à violência, conflitos familiares, e problemas de relacionamento. Analisar a relação entre suicídio e bullying pode ajudar a conscientizar a população sobre alguns dos maiores problemas enfrentados pelos jovens LGBTQ+, mas isso deve ser feito com cuidado e com intenções positivas. Infelizmente, isso nem sempre é o caso quando se trata de histórias como as de Shelby.

De acordo com a Reporting on Suicide, uma organização dedicada a moldar as melhores práticas para a cobertura da mídia sobre suicídio, notícias sobre suicídios e bullying entre adolescentes podem perpetuar a falsa noção de que o suicídio é uma resposta natural ao bullying, o que pode levar outros jovens a repetirem esse comportamento. Em organizações de prevenção ao suicídio, esse fenômeno é conhecido como “contágio suicida”, e o risco de isso acontecer aumenta quando uma matéria jornalística descreve o método do suicídio, usa manchetes gráficas ou dramáticas ou glamouriza a morte. A Reporting on Suicide encoraja uma cobertura sobre a questão que se assemelhe a reportagens sobre questões de saúde pública, em vez de se assemelhar a reportagens sobre crimes, exatamente por esse motivo.

Histórias como a de Shelby devem nos lembrar da importância de falar abertamente sobre tendências suicidas e permitir que as pessoas de nossa comunidade saibam que não há problema em deixar que os outros saibam que estão sofrendo. Estatisticamente falando, é provável que ao menos uma pessoa em nossa vida precise do nosso apoio dessa forma.

Outro problema é que os jovens muitas vezes não sabem que existem recursos para os quais podem recorrer quando se encontram em crise, como o Projeto Trevor, a maior organização mundial de prevenção do suicídio e intervenção em crises para jovens LGBTQ+. O suicídio é a segunda principal causa de morte entre os jovens, e os jovens LGBTQ + são quatro vezes mais propensos a tentar o suicídio do que seus pares heterossexuais-cisgêneros. O Projeto Trevor estima que a cada ano, mais de 1,5 milhão de jovens LGBTQ + já refletiram sobre a possibilidade de se suicidar.

No Projeto Trevor, ouvimos jovens LGBTQ+ que têm pensamentos de suicídio, ou se sentem inseguros ou não-amados na escola ou em casa apenas por serem quem são ”, diz Amit Paley, CEO e Diretor Executivo do Projeto Trevo. “Encorajamos os adultos que interagem com os jovens a aprender mais sobre a prevenção do suicídio, conhecer os riscos aos quais os jovens LGBTQ+ estão submetidos e lembrar aos jovens LGBTQ+ que eles nunca estão sozinhos, que suas vidas têm valor e são amados”.

O Projeto Trevor diz que ter uma única pessoa que o apoia pode reduzir o risco de suicídio de um LGBTQ + jovem em 30%. É absolutamente vital que os jovens possam encontrar essas figuras de apoio e que estejamos preparados para responder a seus problemas.

Isso inclui dar uma olhada em como discutimos saúde mental e suicídio entre nós. Muitas vezes, pessoas que morreram por suicídio são patologizadas usando linguagem estigmatizante como “egoísta” ou “louca”. Isso torna ainda mais difícil falar sobre ideias suicidas. Envergonhar alguém que fale sobre se suicidar e fazer com que tenham medo de ser julgados não é uma maneira produtiva de resolver qualquer problema. Devemos manter uma linha aberta de comunicação em que os membros da nossa comunidade sintam que podem falar sem medo de serem atacados. Esse é um projeto que começa com cada um de nós como indivíduos.

Como a Dra. Nadia M. Richardson, fundadora do No More Martyrs, uma campanha de apoio à saúde mental das mulheres negras, disse no Facebook: “Não fuja das conversas necessárias em torno disso. O custo é muito alto."

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Esta é uma tradução do artigo Our Culture of Shame is Failing LGBTQ+ Youth de JOHN PAUL BRAMMER, para a them.

This is a them. original content

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