Ser uma pessoa não-binária não tem nada a ver com parecer não-binárie

Bruno Ferreira Botelho Lopes
oh, great! it’s bruno
3 min readJul 27, 2019

Está na hora de nos livrarmos de esteriótipos sobre pessoas não-binárias.

Texto original: Rachel Anne Williams // Tradução: Bruno Ferreira

Eu faço uso de hormônios por quase quatro anos. Minha apresentação é feminina. Eu uso pronomes femininos. Mas eu me considero uma pessoa não-binária, não uma mulher, nem um homem.

Geralmente ouvimos a falsa ideia de que pessoas não-binárias devem se esforçar para alcançar a perfeita androginia. Esse estereótipo é doloroso e ignora a grande diversidade que existe entre pessoas não-binárias. Assim como pessoas registradas do gênero feminino ao nascer (AFAB), pessoas não-binárias não precisam rejeitar uma aparência feminina. O mesmo com pessoas registradas do gênero masculino ao nascer (AMAB). E ainda o mesmo com pessoas que prefiram uma aparência masculina ou andrógina.

Quando nós criamos ou reforçamos esses estereótipos na comunidade trans, nós corremos o risco de atuar como uma “régua” que pretende medir quem é trans e quem não é. Mas, assim como não há jeito “certo” de um homem ou uma mulher se apresentarem, não há um jeito “certo” para uma pessoa não-binária se apresentar.

Há um outro estereótipo de que todas as pessoas não-binárias preferem pronomes neutros. Mas o uso de pronomes também não determina quando alguém “realmente” é não-binário. Não há qualquer correlação lógica entre quais pronomes você prefere e você ser (ou não ser) não-binário.

Além disso, não são todas as pessoas não-binárias que se identificam como trans. Algumas se identificam. Outras não.

Outro estereótipo é que pessoas não-binárias registradas com o gênero masculino ao nascer (AMAB) têm pêlos faciais. Isso não é verdade. Nós não deveríamos usar a presença de pêlos faciais para invalidar a transgeneridade ou feminilidade de pessoas AMAB. Assim como também não deveríamos ficar surpresos quando algumas dessas pessoas, como eu, têm disforia sobre esses pêlos faciais e os removem.

Ah, falando sobre disforia: não existe conexão lógica entre ser não-binário e quanta disforia você têm ou não têm. Ou se você quer fazer uso de hormônios ou de cirurgias. Algumas pessoas não-binárias têm forte disforia e desejam fazer uso de hormônios ou de cirurgias. Outras não.

Existe essa ideia de que ser não-binário é sobre estar “entre” o masculino e o feminino. Mas existem várias maneiras de se pensar sobre ser não-binário. Para algumas pessoas, é sobre não ser “masculino” ou “feminino” e sobre definir seu próprio gênero. Para alguns, é sobre realmente estar no meio e alcançar algum tipo de androginia.

E nós podemos pensar, é claro, sobre gênero como um espectro de muitas dimensões, onde pessoas não-binárias estão posicionadas em algum lugar fora das duas concepções primárias sobre o que é ser homem ou mulher. Em outras palavras, existem diferentes formas de pessoas não-binárias se identificarem à respeito do binarismo de gênero. Em um sentido amplo, não-binário é um termo guarda-chuva para qualquer pessoa que não se identifique com os gêneros binários.

Em resumo, não existe uma forma única de pessoas não-binárias aparentarem ou se identificarem. Somos uma comunidade muito diversa e é um enorme desperdício focar apenas em androginia ou neutralidade como ideais de não-binariedade. Existe espaço para diversas formas de se expressar dentro da comunidade não-binária.

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