Sem saber fazer contas… não vamos lá

José Serra
Olisipo Way
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3 min readSep 28, 2018

Grande parte dos alunos que terminam o secundário e se candidatam ao ensino superior escolhe os cursos com uma premissa no pensamento: evitar a todo o custo o “monstro” da Matemática.

Isto leva a que continuemos sistematicamente a ter uma grande falta de licenciados nas áreas tecnológicas e um excesso de pessoas formadas em cursos com pouca procura no mercado.

Em vésperas do início de um novo ano lectivo, importa analisar alguns resultados do anterior e retirar daí algumas conclusões. Centremo-nos então nos exames nacionais de Matemática e de Ciências Exatas.

De acordo com o Ministério da Educação: “quase metade dos alunos (44%) que realizaram exame nacional de Matemática A na 1.ª fase voltaram a fazê-lo na 2.ª fase. No mesmo sentido, 43% dos estudantes também optaram por repetir a prova de Biologia e Geologia”. A situação agrava-se no 9º ano do ensino básico, onde os resultados da prova de Matemática foram os piores dos últimos tempos. A média do exame nacional deste ano fixou-se nos 47%. Nota negativa, portanto.

A meu ver, os maus resultados obtidos nestas disciplinas têm um reflexo muito prejudicial na capacidade de desenvolvimento do nosso país. Porquê? Porque grande parte dos alunos que terminam o secundário e se candidatam ao ensino superior escolhe os cursos com uma premissa no pensamento: evitar a todo o custo o “monstro” da Matemática.

Na prática, creio que a má qualidade e, sobretudo, a estagnação do modelo de ensino vigente acabam por limitar as escolhas dos jovens. Isto leva a que continuemos sistematicamente a ter uma grande falta de licenciados nas áreas tecnológicas e um excesso de pessoas formadas em cursos com pouca procura no mercado.

Os primeiros prejudicados são, obviamente, os jovens que, muitas vezes, vêem os seus sonhos desfeitos pela fuga, quase que obrigatória, ao monstro em que está transformada a Matemática. E uma coisa é mais do que certa: Portugal fica amplamente prejudicado por não conseguir produzir quadros tecnológicos absolutamente essenciais para o desenvolvimento e para a competitividade interna e externa.

Nesta medida, não se percebe porque é que aumentar a qualidade do ensino da Matemática não é uma prioridade nacional. É preciso combater veemente a estagnação provocada pelos métodos antiquados e formais, com uma procura intensa de novas e melhores formas de ensino. Parece absolutamente inegável que continuar a insistir na mesma fórmula só poderá a produzir os mesmos resultados. Haverá certamente muitos exemplos de sucesso que valerá a pena replicar. Contudo, seria também importante instituir incentivos materiais a professores e às escolas que apresentassem melhores resultados.

Falando especificamente da área das novas tecnologias, esta continua a ser uma das mais procuradas pelo mercado e uma das melhores apostas para conseguir emprego. E atenção! Não sou eu que o digo, são as estatísticas a que todos temos acesso. Cursos como Engenharia Informática, Tecnologias de Informação e Biotecnologia são algumas das escolhas mais seguras.

É necessário inverter definitivamente esta tendência e fazer de Portugal um país que não tem medo da Matemática. Temos de ser um país sem medo de formar, desde cedo, jovens que possam ajudar a assegurar um futuro melhor, construindo a base tecnológica que o vai sustentar.

A Matemática e as ciências exatas não podem continuar a ser vistas como as disciplinas a evitar ou para as quais só alguns é que, perdoem-me a expressão, têm jeito. É preciso cativar os alunos e mostrar-lhes que são disciplinas de muito valor e que estão presentes em tudo na nossa vida.

Tem de haver a noção e a consciência da importância real desta área na vida dos dias de hoje. É do nosso absoluto interesse que se formem mais profissionais nas Tecnologias de Informação, até porque não podemos continuar a acreditar que é possível vivermos apoiados exclusivamente no Turismo.

Meus senhores, se não soubermos fazer contas, não vamos lá.

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José Serra
Olisipo Way

Entrepreneur | Early Stage Investor | Startup Advisor | Business Strategist | Acting Globally to Develop Locally