Agilidade: ser ou não ser, eis a questão

Cristina Moriguchi
olist
Published in
4 min readJul 2, 2020
nosso time de agilidade no olist

Há alguns dias, aceitei o desafio de ser a porta-voz do nosso time de agilidade no olist para discutir esse tema com um público importante: a liderança das unidades de negócio da empresa.

Desafio aceito e marcado para uma sexta-feira, fim da tarde, com time-box de 1h30, de forma remota. Fiquei pensando sobre o conteúdo e também sobre o formato dessa conversa e, apesar das minhas suspeitas recaírem sobre a necessidade da liderança em conhecer as práticas ágeis (metodologia, framework, processos), decidi focar em algo mais importante: o mindset ágil.

Sim, sim, mindset é uma palavra “batida” e ainda assim necessária. Isso porque muitas pessoas associam agilidade com velocidade, e velocidade com um conjunto de processos “bala de prata” que vai resolver todos os problemas. Quando falamos de agilidade, estamos falando de uma outra maneira de pensar (mindset), que vai refletir nas nossas práticas (processos).

Antes de falarmos de mindset ágil, é preciso sabermos algumas coisas sobre agilidade:

  • Que ela surgiu na área de tecnologia (desenvolvimento de software) em meados dos anos 90 para resolver um problema: a não efetividade do software que era entregue ao cliente. Isso acontecia por diferentes razões: porque o processo era moroso demais, porque o resultado final não era o que o “cliente queria”, porque “o cliente sempre pedia mudanças a todo momento” ou até mesmo porque perdíamos o “time to market” para lançar o software;
  • Que o conceito de agilidade tem a ver com o conceito de adaptação: coletar dados => transformar dados em informações e analisá-los => ajustar (comportamentos e processos) => e reagir ao ambiente. Isso de uma forma contínua e indefinidamente. A velocidade é uma sensação trazida quando esse ciclo está funcionando bem;
  • Que na velocidade das mudanças no nosso contexto de mundo, não falamos mais em agilidade, somente em tecnologia. Agora falamos de agilidade no RH, agilidade na liderança, agilidade nos negócios, agilidade na educação, agilidade até nos setores públicos. Não podemos mais nos dar ao luxo de sermos perfeitos na primeira vez, temos que rodar o ciclo e ir aprendendo e nos adaptando à realidade, porque ela muda a todo momento.

It’s not only about practices, it’s about values

Mas por que precisamos falar de mindset ágil?

Quando falamos de agilidade, estamos falando do conceito de adaptação, que nos remete ao processo de reação ao ambiente, sempre buscando melhorar a cada ciclo, indefinidamente.

Quando falamos de processo, estamos falando de pessoas. São as pessoas que criam, executam e adaptam os processos. E, se estamos falando de pessoas, estamos falando de valores.

Os valores traduzem nossa forma de pensar (e agir) e aí sim, quando falamos em valores envolvidos na agilidade, estamos falando em ser ágil (mindset), não apenas fazer ágil (processos).

Quais são esses valores? Bem, eu poderia discorrer muitas páginas sobre quais são e os porquês, mas resolvi focar nos que considero mais importantes, os 3Cs:

Confiança

  • Confiar nas pessoas, no trabalho das pessoas, na vontade genuína das pessoas em ajudar e em evoluir;
  • Colaboradores confiando na liderança;
  • Liderança confiando nos seus colaboradores;
  • Ambiente de confiança no trabalho, para que todas as pessoas possam ser ouvidas sem pré-conceitos (praticando o respeito), para que todas possam errar e aprender sem medo. Dessa forma, surgem insights de todas para evolução e melhoria contínua;
  • A confiança na autonomia que os times devem ter no trabalho, sempre alinhada ao propósito e à estratégia da empresa. Quando autonomia-alinhamento funcionam corretamente, conseguimos fazer com o que o ciclo de agilidade seja efetivo em todos os níveis (estratégico, tático, operacional), gerando o comprometimento de todas as pessoas envolvidas.

Colaboração

  • Colaboração entre as pessoas — colaboradores, lideranças, clientes. Cada uma na sua especificidade, cada uma naquilo que sabe fazer melhor. Quando reunimos todo mundo em prol de um propósito, as chances de sucesso são muito maiores;
  • Colaborar também significa compartilhar. Compartilhar tanto os aprendizados e conhecimento, como também os erros cometidos e a comemoração por um objetivo atingido;
  • Colaborar também significa comunicação: nos comunicarmos melhor para colaborar. Escutar ativamente e falar claramente, de acordo com a situação;
  • Não queremos mais heróis! Queremos times coesos, nos quais a liderança emerge de uma forma orgânica e não que ela seja imposta.

Coragem

  • Coragem para dizer sim, mas também dizer não, quando o não precisa ser dito.
  • Coragem para fazer o que é certo diante daquela realidade;
  • Coragem para errar e aprender. Não adianta termos um ambiente de confiança, se não tivermos coragem para errar (e aprender com nossos erros);
  • Coragem também significa transparência. Transparência nas dificuldades, na realidade, no propósito, no caminho até o objetivo;
  • Coragem para fazer diferente, para mudar. Se não tivermos coragem para mudar, não evoluímos;
  • Coragem para continuar neste ciclo indefinidamente.

Fácil descrever, difícil pensar e incorporar esses valores no nosso dia a dia. Mas e os processos, eles não são importantes? Sim, claro que são, e por isso temos algumas (várias) práticas ágeis no mercado atualmente e muitas outras surgirão. Seja para escalar, seja para um time específico. Porém, não podemos nos iludir: nenhuma prática ágil será totalmente efetiva se não contar com os valores como base.

E, por último, uma reflexão. Agilidade remete a pessoas e pessoas remetem à cultura. De alguma forma, quando falamos de agilidade estamos falando também de cultura. Cultura ágil. O que podemos fazer para fortalecer a nossa cultura ágil hoje?

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