Como ajudar alguém através das práticas de corpo?

“Quando estudamos com nosso mestre, as habilidades fazem apenas parte da linguagem, mas não são seu objetivo. Já que está se aprendendo alguma coisa que ultrapassa a técnica, aquilo que se está praticando é o menos importante.”

Fabio Rodrigues
o lugar (blog aberto)
3 min readMay 1, 2017

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“No Japão há um ditado que diz que é melhor gastar três anos procurando por um bom professor do que ocupar o mesmo período de tempo fazendo exercícios com alguém inferior.

Temos de praticar para nos desenvolver, mas não podemos estudar com qualquer um. Temos de encontrar o professor certo. Realmente não importa o estilo ou a técnica que estamos estudando. Na verdade, podemos praticar diferentes disciplinas tais como Aikidô, Judô, Balé ou mímica e obter o mesmo beneficio.

Isso porque estaremos aprendendo alguma coisa que vai além da técnica. Quando estudamos com nosso mestre, as habilidades fazem apenas parte da linguagem, mas não são seu objetivo. Já que está se aprendendo alguma coisa que ultrapassa a técnica, aquilo que se está praticando é o menos importante.

Nas artes marciais, o objetivo fundamental é praticar a liberdade. No entanto, isso não quer dizer que sejam automaticamente o melhor meio de aprender “como encontrar a liberdade”. Na verdade, qualquer sistema de treinamento físico pode funcionar. Todos eles são concebidos para que possamos experimentar como o corpo e a voz funcionam, o que, por sua vez, nos possibilita encontrar liberdade através da atividade física.”

Este é um trecho do livro O Ator Invisível, do incrível Yoshi Oida. Algumas pessoas no lugar estão estudando e discutindo este livro numa conversa sobre como cultivar qualidades pervasivas (úteis nas várias áreas e etapas da nossa vida) através das práticas corporais (natação, artes marciais, dança…).

Yoshi Oida — ator, diretor e escritor japonês

Aqui, parte do papo que está rolando no fórum do lugar:

“Qual a verdade na frase “A luta lhe ajudará a enfrentar teus medos”?

Acho muito relativa essa questão. Para algumas pessoas pode nem brotar medo, mas raiva, orgulho etc. A luta em si não lhe ajudará, porque o medo pode surgir e você simplesmente reprimi-lo, fugir dele, ou escondê-lo por baixo da agressividade. Eu acho que essa frase poderia fazer mais sentido assim: “a luta lhe ajudará a fazer brotar seus medos”.

Agora, sobre como lidar com eles, acho que nada é garantido se não houver algum tipo de treinamento de mente por trás, ou algum olhar interno que ajude a lidar melhor com as emoções que brotarem.

Falei um pouco sobre como veja isso neste artigo: Pra que servem “clubes da luta”?”

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“Agilidade, força, destreza, velocidade, são habilidades e características que naturalmente aparecem quando estamos numa atividade física, por menor que seja. Pra treinarmos isso, só precisamos nos mexer, não precisamos nem olhar nossa mente direito.

Mas essas características não são muita coisa se não vierem acompanhadas de uma mente também treinada e afiada. Não adianta ser ágil, forte e veloz se não enxergamos os usos e as possibilidades dessas ferramentas. Se, enquanto estivermos treinando essas características físicas, colocarmos a mente pra treinar também, o próprio movimento e a postura de quem se movimenta muda.

Nas artes marciais, assim como na natação de longas distancias, estamos constantemente treinando perseverança, resistência, paciência, resiliência e observação. Mas estas não são características que brotam naturalmente dentro de um esporte, elas precisam ser observadas e treinadas.

É preciso mostrá-las e apontá-las constantemente para os alunos, professores, técnicos e pra si mesmo.”

A conversa está acontecendo aqui →

Quer colocar isso em prática? olugar.org

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