Como as plantas sabem que é outono?

Conversa que rolou no Telegram do lugar sobre plantas e nossa interdependência

Polliana Zocche
o lugar (blog aberto)
3 min readMar 28, 2018

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Em nosso grupo de mensagens o Gustavo lançou essa pergunta:

“Polli, me explica uma coisa… Como as plantas sabem que é outono?

Muda algo no ar e na temperatura? Porque eu não sei. Eu sinto calor igual em dia de calor não importa a estação. Mas a planta tá lá no outono, toda outono, fazendo o que deve fazer no outono, com folhas caindo e tal. Aparentemente isolada num vaso no meu banheiro, ela tá conectada com a posição da terra em relação ao sol mesmo se o ar ao redor é meio que parecido com o ar e a luminosidade do verão?”

Então respondi:

“Elas não mudam porque é “outono”, mudam porque as condições estão mudando. Principalmente condições relacionadas a quantidade de luz/dia e disponibilidade de água. Se pegarmos o hemisfério sul agora, a temperatura está reduzindo em relação a janeiro, fevereiro, o sol nasce mais tarde, recebemos menos luz. Tem lugares onde diminui a incidência de chuvas, então a disponibilidade de água é menor e elas dependem disso para continuarem vivas. Então cada planta tem uma sabedoria interna, produto de milhares de anos de evolução que fizeram elas saber que quando começa a diminuir a luminosidade e disponibilidade de água, melhor começar a reabsorver o máximo possível os nutrientes das próprias folhas (por isso as folhas verdes ficam amarelas) e soltar esse tecido que só renderia gasto energético para ser mantido nesse momento. Então as folhas caem, elas passam o período do inverno com baixa atividade metabólica para chegar abalando Bangu quando começar a esquentar de novo na primavera. E aí utilizam toda a energia disponível no processo de floração e frutificação, que é quando elas apostam todas as fichas para garantir a sobrevivência da espécie e de sua diversidade genética individual.

Agora o que acontece é que com as mudanças climáticas atuando, muitas espécies estão alterando seus padrões de vida também. Alguns lugares estão ficando mais quentes ou muito frios, mais úmidos ou muito secos para a sobrevivência delas no local onde sempre viveram. E isso altera a distribuição das espécies, algumas podem ficar muito reduzidas e até desaparecer, outras podem ser beneficiadas com as mudanças, mas acabarem ocupando uma área muito maior e desestabilizar outras comunidades onde elas não ocorriam (como acontece com espécies invasoras).

As plantas têm um sistema de sensibilidade muito difuso, bem diferente do dos animais. Eu particularmente acho que daqui uns 100, 200 anos, se a humanidade continuar existindo e a ciência também, vão se dar conta que não deveríamos separar as plantas dos seres sencientes.”

Esse é o tipo de pergunta que abre um universo de contemplações! Podemos nos dar conta de toda a relação entre o meio e nossas vidas, que tendemos a ver isoladas, como se não causassem efeito algum ou como se não reagissem ao que está acontecendo. As plantas são ótimos exemplos para observarmos a interconexão entre o que acontece com a terra, o ar, a água, o fogo, o espaço e com todos os seres.

Dentro do lugar estamos observando esta relação íntima, sutil e constante entre todos os seres e o meio em que vivemos com a prática descobrir a interconexão.

Entre os dias 6 e 16 de maio, acontecerá no Centro Casa Gaia, em Mário Campos — MG uma imersão no Trabalho Que Reconecta (TQR), de Joanna Macy, eco-filósofa, autora de livros sobre budismo, teoria geral de sistemas e ecologia profunda. Com a facilitação de Adrián Villaseñor Galarza, e co-facilitação minha e de Lia Beltrão, esta imersão de 10 dias é um convite para entrarmos em contato direto com a experiência de ser um agente de florescimento humano, para investigar a conexão com a teia interdependente da vida e explorar como podemos atuar em seu benefício.

Se quiser experimentar práticas para transformar suas relações, aqui está nosso convite: olugar.org

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