Como educar para a felicidade?
Ela tem dois anos de idade, mas queremos nos assegurar de que vai saber nadar — é importante, desenvolve o pulmão e ela precisa saber se virar. Aos três, tomara que ele consiga contar até dez, pra gente dizer: que inteligente! Pensamos em fonoaudiologia se até os quatro a criança ainda não tiver habilidades na fala. Aos cinco, a escola nos emociona quando mostra algumas palavras rabiscadas. A gente sente que está no caminho certo, que crescer é tão linear, não é?
Nos relatórios de avaliação das escolas podemos ver a importância das questões comportamentais. A instituição de ensino, esse patrimônio que educa nossas crianças, sabe da necessidade de uma educação para a vida. Compartilhar brinquedos, brincar bem com os amigos, ser uma criança tranquila, gentil, solidária, participativa, sensível, segura… Tudo isso professores e professoras valorizam cotidianamente em seus alunos.
São qualidades que agregam não só na escola, mas também fora dela, para o resto da vida. Queremos filhos educados, que conheçam seus direitos e os dos outros, queremos alunos felizes, que contribuam para o bem-estar do grupo, queremos criar cidadãos conscientes, compassivos, amigáveis, tranquilos. Mas que métodos estamos usando para ensinar isso?
Já parou para pensar na escola do seu filho, na sua casa, no encontro de domingo que você tem com sua afilhada: que tipo de mente esse ambiente está cultivando? Onde estão as referências para serem tomadas essas ou outras atitudes? Para além da teoria, que trabalho é desenvolvido na prática para aflorar todas essas qualidades que desejamos a eles?
Hoje em dia, não há nada que eu, professora de educação infantil, considere mais necessário do que olharmos para as crianças que educamos como seres. Se a gente pudesse facilitar uma única coisa na vida delas, qual seria? O que a gente começaria a ensinar hoje? Antes de inglês, nadar, usar crase ou a fórmula de bhaskara, eu acho que o mais necessário de ser cultivado desde sempre é educação emocional.
Saber olhar para dentro, entender suas emoções e conseguir, numa crise, olhar para fora. Uma base sólida que possibilite uma vida muito mais empoderada. Saber trafegar bem por suas emoções é um conhecimento muito mais significativo e efetivo: afinal, talvez você não tenha usado seu largo conhecimento de saber de cór todas as capitais dos estados brasileiros. Mas você certamente já passou por momentos de raiva incontrolável, tristeza sem fim, medo desesperador. Não seria incrível se a gente aprendesse na escola e em casa a olhar para dentro? Que delícia ter ferramentas para lidar com nossas emoções sem precisar passar pelos extremos de magoar e machucar os outros ou reprimir e perder o sono, a paciência e a alegria.
As escolas já sabem que precisamos educar para que se olhe o mundo interno, para que se entenda o outro. Os pais, os professores, os teóricos e até as discussões acerca da série 13 reasons why na internet clamam por isso. Todos temos muitas frases de efeito e poucas ações práticas. Mal sabemos por onde começar.
Por isso que Susan Kaiser Greenland, uma mãe que se debruçou a entender como ajudar seus filhos (e os dos outros) a lidarem com o estresse, a serem mais felizes, gentis e compassivos, está começando uma revolução no que entendemos como educação socioemocional. No livro Meditação em ação para crianças, Susan dá inúmeras ideias de exercícios de atenção plena que oferecem de maneira simples, divertida e com muito senso de humor possibilidades de as crianças olharem um pouco para dentro:
“Ao praticar a atenção plena, as crianças aprendem habilidades que ajudam a que elas mesmas acalmem-se, tragam consciência para sua experiência interna e externa, e agreguem uma qualidade reflexiva para suas ações e relacionamentos. Viver desta maneira ajuda as crianças a conectarem-se consigo mesmas (O que eu sinto? Penso? Vejo?), com os outros (O que eles sentem? Pensam? Veem?), e talvez com algo maior do que elas próprias.
Esta é uma visão de mundo em que tudo é visto de forma interligada. Quando as crianças entendem que elas e aqueles a quem amam estão de algum modo conectados a todas as pessoas e a todas as coisas, um comportamento ético e socialmente produtivo surge naturalmente, e elas também sentem-se menos isoladas — um problema comum entre crianças e adolescentes. Em um mundo onde os mais populares reality shows envolvem ridicularização e duras críticas aos concorrentes, não é de se admirar que as crianças muitas vezes façam pouco caso de valores antiquados como bondade, compaixão e gratidão.
No entanto, na prática da atenção plena, essas qualidades são altamente valorizadas. Como as crianças aprendem a ter consciência do impacto de suas ações e palavras nos outros, elas passam a considerar outras pessoas ao estabelecer metas e planejarem algo, e também são mais propensas a serem gentis com elas mesmas nos momentos de fracasso (reais ou não).”
—Susan Kaiser Greenland
Então, se a gente quer começar a agir sem depender de uma lei que institua nas escolas educação socioemocional (o que seria ótimo, mas bastante demorado), precisamos começar agora, por nós mesmos. Esse livro é um bom presente para oferecer a quem está rodeado por crianças e adolescentes. Para começar, a gente tem que olhar primeiro para o que está ao nosso alcance.
Você pode comprar o livro no site da editora Lúcida Letra (o Vítor Barreto entrega bem rápido) ou o ebook para Kindle pela Amazon. A Lúcida Letra é uma editora da qual temos muita alegria em ser parceiros: a edição desse livro está linda e muito cuidadosa.
Quer participar do grupo de estudos online do livro "Meditação em ação para crianças"?
Se seu olho brilhou ao ler sobre esse assunto, talvez te interesse o grupo de estudos online que vamos começar no dia 27 de abril, no lugar (olugar.org). Vamos estudar o livro Meditação em ação para crianças, em dez encontros: toda quinta, das 20h às 21h30, em vídeo. A cada semana vamos propor práticas para experimentarmos em nós mesmos e também com as crianças que nos cercam.
O grupo de estudos não tem custo adicional além da assinatura para participar do lugar e é voltado para pais, professores e qualquer um que queira entender um pouco como sair da teoria e começar a cultivar práticas de atenção plena com as crianças que estão ao nosso redor. Vamos aproveitar o trabalho coletivo de olhar para o mundo interno que fazemos no lugar para começarmos a ajudar os outros também.
Se você já participa do lugar, é só colocar na agenda e comprar o livro (o link da sala está na página inicial).
Se você não participa, pode entrar por aqui: olugar.org