Um diagnóstico agridoce

Caio Simão
Onde Não Dói
Published in
4 min readNov 1, 2018

Depois de anos sentindo dor e sem saber o que efetivamente está causando-a, você meio que surta. Mas antes de chegar nesse real estado de nirvana reverso, procurei um reumatologista para confirmar (ou não) meu diagnóstico.

Acho importante frisar que meu pai é ortopedista. Ele acompanhou a evolução da minha dor e me receitava tratamentos pontuais para as dores. Digo pontuais porque geralmente eram à distância, já que eu moro em São Paulo e ele em Santos, cidade onde eu nasci e cresci. Ele, com muito receio e medo de uma possível confirmação (até porque nossos pais nunca querem imaginar o pior para seus filhos), mencionou que eu poderia ter fibromialgia e, inclusive, me deu alguns materiais impressos sobre a doença.

Obviamente isso me assustou. E MUITO! A fibromialgia não é uma doença que você toma uns remédios ou faz uma cirurgia e PUFT ela some. Você a carrega por toda a sua vida (não surpreendentemente é considerada uma doença CRÔNICA).

“pink breathe neon sign” by Fabian Møller on Unsplash

A primeira vez que passei numa reumatologista, comentei sobre minhas dores e falei da minha suspeita da doença. A bênção e a maldição da internet te dá essa possibilidade de buscar informações e chegar preparado para uma consulta. Fiz alguns exames de imagem e, pronto, fui diagnosticado com fibromialgia – já que meus exames não apontaram nada.

Comecei, então, um tratamento com um medicamento antidepressivo. No começo até achei que estava ajudando, mas logo as dores voltaram. E parecia que elas haviam piorado! No retorno com a médica, falei da minha piora e me foi receitada uma dosagem maior do remédio. Pensei “agora vai!”, mas infelizmente estava enganado.

Resolvi depois de alguns meses sem resultado algum com o tratamento, pará-lo repentinamente. Descobri alguns dias depois a tal da abstinência: uma tontura horrível, um mal-estar constante, algo que acabava com meus dias.

Quando finalmente essa sensação horrível passou, comecei a procurar na internet possíveis tratamentos para o meu problema. Foi quando, depois de muita busca, encontrei matérias e artigos científicos em inglês falando sobre o uso da maconha, mais especificamente do canabidiol, para o tratamento de dor crônica.

Coincidentemente uma amiga minha e ex-colega me disse que uma conhecida dela fazia tratamento com CBD e me recomendou meu atual reumatologista, o Dr. Thiago Bittar. Na primeira consulta ele, muito atencioso, me explicou sobre a doença mas também quis descartar qualquer outra possível doença que eu poderia ter, já que os sintomas da fibromialgia são facilmente confundíveis – falo sobre isso em um outro momento. Depois de muuuuitos exames tive o diagnóstico (re)confirmado e comecei alguns tratamentos iniciais com exercícios físicos, anti-inflamatórios, relaxantes musculares e analgésicos diários – pois queria evitar ao máximo voltar a tomar antidepressivos.

Infelizmente, mais uma vez não deu certo. Minhas dores começaram a piorar horrores e, depois de parar no hospital de tanta dor, resolvi voltar ao consultório do Thiago (ele prefere que eu não use a formalidade do “doutô”) de mente aberta para aceitar qualquer tratamento que me fizesse bem.

Logo de cara fui surpreendido. Imaginei que ele fosse passar algum antidepressivo pesado ou algo do gênero, mas saí do consultorio com duas recomendações: maconha (ou o CBD) e meditação, essa segunda para cuidar da ansiedade. E vou te falar (e acho que não cheguei a falar isso abertamente para ele, mas): isso mudou minha vida.

Hoje, mesmo com dor, minha perspectiva de melhora é outra. Na verdade, agora eu tenho uma perspectiva, já que antes estava afundado em incertezas e pessimismo. A atenção que meu médico me deu e a aposta que ele fez em me receitar um tratamento relativamente novo e controverso (por preconceito) pode ter – sem exageros – salvado minha vida. Aqui fica meu sincero muito obrigado, Thiago!

Fico com uma sensação agridoce (infelizmente não tem expressão melhor que a do inglês “bittersweet”): por um lado, tranquilo em saber meu diagnóstico e por estar em um tratamento que me faz olhar pro futuro. Por outro, aceitar que vou ter que viver toda a minha vida com uma doença crônica é um tanto quanto desesperador. Mas, pelo menos, estou conseguindo aproveitar o lado que é mais doce dessa história (e vou te falar que um azedinho às vezes nem é tão ruim assim).

Obrigado por chegar até aqui, significa muito para mim ❤ Se quiser conversar, precisar de ajuda ou se quiser apenas compartilhar boas vibrações, vou adorar receber seu comentário aqui embaixo. Pra ficar em contato comigo é só me seguir no @ondenaodoi.

“person holding white paper with it is well text” by Corinne Kutz on Unsplash

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