As palavras nascem do caos

E é preciso aprender

Jean Prestes
Onirika
3 min readApr 18, 2022

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Eu não sei o que esses títulos representam. Fechei os olhos, reconheci o vazio que é o ninho de todos os pensamentos, me abri (ou só relaxei) para receber os primeiros filhotes e assim eles vieram. Todo esse parágrafo é apenas um filhote a mais.

Às vezes pode parecer que há uma lógica ao escrever. De fato há. Mas essa lógica nasce do caos. Foi o caos que criou o desejo de organizar o caos. O problema é que, como toda e qualquer organização, há um gasto energético, um esforço, ao se catalogar o caos.

Isso é isso. Aquilo é aquilo. E aquele outro é aquele outro.

No fundo, relaxar a mente é o primeiro passo para se receber um diagnóstico psiquiátrico qualquer.

Pois relaxar a mente é devolver o protagonismo ao caos. E o lema da nossa bandeira nacional é “ordem e progresso”. Como nós funcionaríamos em uma sociedade pautados pelo caos?

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Muito bem, obrigado.

Porém, dentre outras coisas, provavelmente andaríamos pelados pelas ruas em dias de muito calor. E transaríamos nas esquinas em dias de muito tesão. E algumas orgias aconteceriam a céu aberto em dias de muito, muuuito tesão.

Isso mostra que, de fato, não vivemos em uma sociedade organizada. Vivemos sob um sistema de controle. A organização verdadeira levaria em conta, ordenadamente, todas as demandas sociais, principalmente as de liberdade.

Da mesma forma que o caos criou, caoticamente, a ordem do universo, com as galáxias, os sistemas estelares e todo o resto, criar uma sociedade que funcione em harmonia num planetinha qualquer é muito fácil. Mas é preciso deixar a espontaneidade agir, tal qual o trânsito na Índia.

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Nunca estive na Índia, nem conheço as estatísticas sobre acidentes de trânsito lá, mas rés a lenda que o trânsito funciona caoticamente bem. Os carros quase se batem, mas não se batem, as pessoas quase se atropelam, mas não se atropelam, e mesmo as vacas que andam distraídas pelas vias estão sempre saindo ilesas, sem demonstrar muita preocupação.

Escrever é a mesma coisa.

Veja, não demonstrei intenção em organizar o caos das palavras que potencialmente existem na minha mente vazia. Apenas quis escrever e deixei as palavras nascerem do ninho. E aqui elas estão. Isso está muito organizado? Talvez não. Tem uma coerência de redação de vestibular? Não. Mas você há de convir que esse texto não é o pior dos mundos para se viver. A Índia talvez também não.

A espontaneidade é sábia. Deixe a espontaneidade agir a partir de você sem medo, pois ela não te despirá e te jogará nu pelas vias num mundo regido pelo pudor, afinal, ela não tem o desejo de ser trancafiada numa prisão. Mas talvez você ande pela rua saltitando um pouco mais, como uma criança, pois isso não dá cadeia e o julgamento dos outros tem uma expectativa de vida de apenas alguns segundos. Se você saltitar num ritmo bom, em instantes sai do campo de consciência do outro e o julgamento morre para sempre. Julgamento é bicho efêmero.

Talvez você deixe seu corpo agir mais livremente e prazeres mais surpreendentes possam surgir na hora de uma boa foda, mesmo entre quatro paredes ou com poucos participantes.

Nada disso foi planejado e esse texto está entregando quase uma lição de moral.

Todas, ou quase todas, as palavras estão ortograficamente corretas. Esse texto está gramaticalmente quase impecável. Uma ordem extremamente precisa nascida do caos da espontaneidade mental.

Deve ter sido assim que Deus criou o universo.

Se ele tivesse planejado, acho que teria dado errado.

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Jean Prestes
Onirika

Produzo conteúdo para humanos, não para algoritmos.