Não consigo abandonar a escrita

Por isso sei que meu propósito está ligado a ela

Jean Prestes
Onirika
5 min readApr 28, 2021

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Não acho que seja necessário um propósito para se viver. Longe disso, talvez a paz suprema e a plenitude total do ser esteja em uma vida sem propósito algum. Mas gosto de brincar, e brincar de ter propósito deixa o jogo da vida mais divertido para mim. Cada um tem seus valores máximos na hierarquia de importâncias, e ter um propósito está nos topos, para mim. Também não acho que propósito seja algo que você já nasça com um, uma programação de alma ou coisa assim. A vida tem possibilidades infinitas demais para a gente já nascer assim, com uma regra sem exceção. Se há almas que já nascem com um propósito, certamente haverá as que não. Cheirando a própria alma você saberá de que tipo é a sua. Mas, para quem gosta de ter um propósito, existem várias técnicas simples que ajudam a encontra-lo/defini-lo. São elas:

1- Com o que você gostaria de trabalhar caso não precisasse de dinheiro ou já tivesse dinheiro infinito?

Tipo aquele cheat clássico do The Sims. Como era? “rosebud !;!;!;!;!;!;!;***999” ou algo assim. O que você faria? O que você gosta de fazer? O que você faz por amor, paixão ou prazer? Parece pergunta de coach, mas e se for, qual o problema? É uma pergunta que te ajuda a se aprofundar no próprio ser. Identificar paixões é fundamental para o conhecimento da própria personalidade e para a expressão do seu potencial máximo na vida. E, como muitas vezes não ficamos um minuto sem fazer as coisas pela necessidade de dinheiro, tirar o dinheiro da equação limpa 70% do caminho para que você possa encontrar/definir o seu propósito de vida.

2- Com o que você gostava de brincar quando era criança?

Essa é fundamental para pessoas que estão há muito tempo sem se dedicar às suas paixões e já esqueceram do que gostam. A personalidade da criança se desenvolve, mas ninguém nunca deixa de ser criança. Adulto não é a morte da criança. Adulto é a criança acrescentada de uma série de coisas, mas ela está ali. Soterrada muitas vezes, mas está. E realizar ações que resgatem a sua criança interior tem um potencial gigante de trazer experiências de autorrealização.

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3- Imagine que você já morreu e agora é um espírito olhando para o planeta. O que você gostaria de ter deixado lá?

Isso te leva para o legado, que nada mais é do que a materialização do propósito. Se seu propósito de vida é escrever, seu legado pode ser a publicação de um livro, ou de vários livros, ou uma carreira de escritor bem consolidada e reconhecida. Imaginar que você já morreu te faz, antes de tudo, lembrar que a morte existe, e isso nos leva a reconhecer com mais facilidade as coisas que são realmente importantes para nós. Que legado queremos deixar no planeta? Esse é o resultado do cumprimento do seu propósito.

4- Essa é bem clichê: qual o seu sonho?

Solte a imaginação. Se você não tem nenhum sonho mais, novamente apele para a invocação da criança interior. Qual era o seu sonho quando criança? Muitas vezes o sonho infantil está desconectado da realidade, por partir de uma visão idealizada. Eu mesmo já quis ser policial quando criança, quando achava que o papel da polícia era combater o mal ou ser uma espécie de Jaspion. Na real, esse deveria ser o papel, mas no nosso sistema social dominado por grupos de elite a polícia cumpre um papel de preservação de privilégios. Mesmo assim, isso de querer ser um herói diz muito sobre a minha personalidade, e tem muito valor na determinação do meu propósito, mesmo que eu não trabalhe para me tornar um policial. Aproveite para já começar a se perguntar também “Como posso tornar o meu sonho realidade?”. “Quais ações devo realizar para isso?”

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5- Agora vem a do título: o que você não conseguiria abandonar?

Já tive muitas dúvidas em relação ao meu propósito. Elas giravam em torno de “música” e “escrita”. Eu gostava de construir arranjos e principalmente composições de letras. Isso numa época em que eu era cheio de conflitos e compor me ajudava a acalmar as emoções. Isso numa época em que eu gostava de ter uma vida noturna e boêmia e a possibilidade de ter uma banda me era atraente. Mas, conforme anos de prática de meditação me ajudaram a acalmar as emoções através do silêncio, minha necessidade de compor diminuiu até que eu simplesmente parei de compor. Era um remédio do qual eu não preciso mais, não um propósito de vida. Eu consigo ficar pelo menos um mês sem tocar violão. Mas, agora há pouco fui me programar para encerrar a primeira temporada de textos da Onirika, para me dedicar à finalização da versão impressa de um livro que eu lançarei em breve. Já estava tudo certo. Tinha até um título esse último texto. Quando abri a página do Medium para começar a escreve-lo, me bateu um desespero, uma falta de ar. “Peraí, se eu seguir o planejamento do jeito que tá, eu ficarei pelo menos um mês sem escrever”. Vi que isso seria inviável para mim e corrigi meu planejamento, mantendo as postagens por aqui. Terei que, por um bom tempo, reduzir bastante minha interação com outros escritores e as divulgações que eu vinha fazendo. Tudo bem. Eu consigo sobreviver sem interações com os textos de outros escritores (embora eu ame fazer isso e já não vejo a hora de voltar) e sem divulgar meus textos (coisa que já nem gosto muito mesmo), mas sem escrever, puta que o pariu, seria muito difícil. Percebi que é algo que não consigo abandonar. E pensei que, justamente por isso, está muito ligado ao meu propósito. Muito mais do que a música.

Por isso decidi compartilhar esse relato com vocês. Não para fazer esse papo chato de querer empurra goela abaixo de que você precisa encontrar um propósito para viver. Porra nenhuma de propósito, precisa de nada. Esqueça precisar, brinque e faça o que gosta. Mas para quem gosta de ter um propósito, como eu, espero que esse texto ajude a encontra-lo/defini-lo. Esse é o propósito dessas palavras. Um abraço!

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Jean Prestes
Onirika

Produzo conteúdo para humanos, não para algoritmos.